quarta-feira, 23 de novembro de 2011




Iporanga na era da informação II




O Zé dá hora, sugeriu colocar a placa na sua propriedade

Em 30 de junho de 2011, publiquei a primeira postagem com o título de: Iporanga na era da informação, e hoje, vou de encontro a circunstâncias, que me conduzem a escrever um novo capítulo desta história. Isto de certa forma é até bom, pois me anima a voltar a escrever neste blog, que andava meio esquecido, uma vez que o Facebook tem ocupado boa parte das minhas horas vagas.

No lugar da placa um chapéu...
Ontem de manhã, quando vinha para a biblioteca e passava em frente ao quiosque do Donny, encontrei com funcionários da prefeitura, arrancando a placa que eu fiz, que tinha informações indicando Eldorado, BR116 e São Paulo. Enquanto eu tentava através deles, saber a razão daquela operação, eles retiraram a placa do poste que a sustentava e jogaram-na para dentro do muro, no terreno da Igreja de São Benedito. Estou aguardando o desfecho da história para relatar aqui os detalhe.
Como havia prometido, agora estou de volta para esclarecer o desdobramento, sobre o destino da placa. Soube por funcionários que retiraram e depois jogaram a placa, atrás dos muros da igreja São Benedito, em cima do mato. Segundo me disseram, a ordem era para arrancar a placa, e jogar onde ela foi jogada. Como eles não tinham ferramenta em mãos, para executar a tarefa, pediram a eles para que fossem até ao cemitério emprestar ferramentas do coveiro. Como também não tinham cimento e areia, para fechar o buraco que ficaria na calçada, preferiram tentar tirar só a chapa, para não ter que cimentar a calçada. Naquele momento eu imaginava que a ordem era para mudar a placa para alguns metros, depois do cruzamento, uma vez que a campanha e crítica do setor de turismo e mais alguns, Maria vai com as outras, era grande. Depois soube também que não havia nem um outro plano, senão acabar com a placa.
A carreta da foto passou, sob os olhares meu, do professor Rafael e do Dony, pelo tal "problema viário" da Coronel Neves, para descarregar na Art Móveis, como sempre faz. O que é pior, é que ela subiu a rua, o que seria por demais impossível segundo informantes da prefeitura. Isso tudo, depois que a placa foi retirada. Deve ter descido de helicóptero.

Estive na prefeitura, onde levei um ofício, ao setor de compras, na ocasião comentei com um e outro vereador, que lá se encontravam, e que lamentaram, mas disseram que por causa de alguns veículos, que por seu condutor menos atento e não saber seguir a lógica das placas, ao invés de tomar a Coronel Descio, eram induzidos a seguir erroneamente pela travessa São Benedito e Coronel Neves, onde algum veículo pesado, poderia ter dificuldade para passar em uma falha viária que existe em frente a Pousada Iporanga.
Caminhões grandes de móveis continuam a transitar normalmente pela Coronel Neves.



Sabemos que também existe falha, na Coronel Neves, e também em frente ao Banco Bradesco, existe na esquina da Benjamim Constant com Pedro Silva , em frente ao Tanásio, também na esquina da D. Lúcio com Praça Luis Nestlhener em frente ao Juquica. Em resumo, as quatro opções para chegar à pista, tem algum problema viário, o que esvazia o argumento para não utilizar a rua Coronel Neves. Quando voltei da prefeitura encontrei o prefeito Gulu, que se dirigia o carro do gabinete para a casa da sua sogra, Dona Domingas.

Parei o carro, janela com janela, em frente ao Zé da hora e falei: -- Oi Gulu! Tudo bem? Você sabe que tiraram aquela placa que eu coloquei em frente ao Donny, que servia para orientar os viajantes? Ele respondeu: -- Pois é o pessoal estava me ligando, lá no meu sítio, dizendo que a placa estava errada e que todo mundo estava entrando antes da placa e os turistas estavam reclamando, e que entraram vários caminhões errado, e que um caminhão até tombou e o motorista ficou muito bravo. Eu repliquei: Gulu, não é o caso de arrancar a placa daquele jeito, pois tirar a placa não impede que caminhões entrem por ali, a única forma seria colocar placa proibindo o trânsito de caminhões. Depois o motorista errou por culpa e distração dele mesmo, além disso o caminhão tem marcha ré, ele pode voltar sem problema. Quem foi que disse que entra tanto carro ali? Entra algum que pega a Coronel Descio mais abaixo sem problema. É melhor do que o local ficar sem placa e os carros irem pra Passagem, para o bairro Ribeirão e pior os caminhões e ônibus enrosquem no Tanásio ou no Juquica, era o erro que acontecia com 100% dos turistas. Ele falou: -- É o pessoal do turismo que está reclamando, que a placa está atrapalhando. Perguntei: Mas quem viu estes caminhões todos entrar naquela rua? ele respondeu o Hélio, disse que mais de 10 caminhões seguiram por ali e um virou lá e ficou enroscado. Rebati: -- Se tem uma pessoa que está sempre ali sou eu, o Hélio nunca foi no Donny, nem para pedir um copo de água ( No feriado o Hélio e outros guias ficam conduzindo turistas no Petar em nem aparecem na cidade). Tudo bem, mas não custava falar comigo, que eu mudava a placa mais para cá, ou modificava a seta com pincel e um pouco de tinta. Ele complementou: A placa vai mudar amanhã, vão colocar ela mais para cá. Respondi: -- Eles tinham que fazer isso na mesma hora, se tinham intensão de fazê-lo. Uma vez retirada e jogada, no meio dos arbustos, a ideia era ela nunca mais voltar...Conclui: -- Tá bom! Vou esperar amanhã, para ver...
Passaram-se dois dias, você viu a placa de volta? Não!... Nem eu... Na sexta-feira estava comentando o ocorrido no Donny, com as pessoas, quando, o Zé da Hora sugeriu colocar a placa fixada na propriedade dele, que dá uma visão razoável, para quem vem sentido Apiaí/Iporanga. Pensei um pouco e topei, fui lá na relva, catei a placa abandonada e coberta de orvalho, coloquei-a no ombro e passei com ela em frente o Donny, divertindo a galera, e fixei-a no local adequado. Agora, espero que o bom senso e a boa educação impere...


Iporanga na era da informação I
Estamos mais do que nunca vivendo a era da comunicação e da informação, por isso é bom ter acesso a estes recursos e procurar melhorar cada vez mais neste quesito. A informação apresenta-se as vezes de uma maneira simples, mas sem perder sua importância, como pude observar esta semana no Posto Avenida, que está localizado no final da avenida Iporanga que antigamente era o "final da reta", e onde em alguns dias retorno de minhas pequenas caminhadas, mas não sem antes jogar um pouco de conversa fora num bate papo desinteressado com os funcionários ou alguma pessoa que esteja naquele local.
O cruzamento rua da Saudade com avenida Iporanga no coração da cidade, em um domingo de manhã, está para Iporanga assim como o cruzamento das avenidas São João e Ipiranga está para Sâo Paulo.

Em um destes momento, quando eu conversava com o Ronaldo (Boi) surgiu um senhor que saiu de um carro da telefônica em busca de uma informação, perguntando por uma rua e o nome de uma pessoa residente no bairro Bonito em Iporanga, onde instalaria uma linha telefônica. Imediatamente rebatemos dizendo: aqui em Iporanga não existe esta rua, nem esta pessoa e muito menos um bairro conhecido por Bonito. E digo mais por incrível que pareça, por coincidência, a menos de uma semana, outro técnico da telefônica, quase neste mesmo local surgiu com a mesma ordem de serviços e em mais uma coincidência o Ronaldo estava presente e nós respondemos que nas famílias de Iporanga nos últimos duzentos anos não havia ninguém com esse nome e tão pouco falou-se um dia em um bairro com esse nome de Bonito dentro dos limites de todo o município, aliás aqui todos os bairros são bonitos. Resumindo aconselhamos a procurar em Barra do Turvo ou se informar melhor na coordenação que programou a tarefa. Ouvimos a conversa do técnico falando ao celular com a tal pessoa para quem a linha seria instalada, que deu como referência o supermercado Extra e o Autódromo em Interlagos São Paulo, onde existe o bairro (provavelmente feio, mas denominado Bonito) e o bairro Iporanga. E como diria o Carlinhos Tanasio "errou feio" e quem paga a conta do prejuízo? Faltou comunicação. Depois de esclarecida a dúvida o tal técnico ligou para sua chefia e pediu para retornar à base, no que foi atendido e se foi. Essas ocorrências como esta relatada nesta postagem tornou-se hoje em dia uma coisa corriqueira, pois com o surgimento da Internet e as lojas virtuais, qualquer pessoa que tem um computador conectado na rede mundial e possui um cartão de crédito, faz suas compras pela net com entregas a domicílio tarefa geralmente realizada por transportadoras usando veículos pequenos ou caminhonetes baú. Então como no caso relatado eles trazem em uma prancheta a nota com o nome do cliente, a rua, o bairro, a cidade, etc, o problema é que só algumas das ruas antigas tem placas com os nomes e acontece as vezes do entregador estar perguntando por uma rua em que ele está estacionado, mas que não tem o a placa com o nome, geralmente quando somos consultados sobre muitas ruas que geralmente não sabemos onde fica identificamos o local da residência pelo nome ou sobrenome do cliente. Por essa razão e possível que a administração já esteja preocupada com esse problema, tendo em mãos algum projeto de emenda na buscar recursos para sinalização e nome dos logradouros. Algumas ruas antigas ostentam ainda placas com o nome de seus antigos e ilustres moradores, vultos da nossa política e da história da cidade. Por exemplo a rua Pedro Silva, onde residiu no local onde hoje sua bisneta Dona Dadam habita com seus 96 anos de idade, o Sr. Pedro da Silva Pereira. A rua Carlos Nunes, onde residiu o Sr. Carlos Diogo Nunes na casa onde ainda via quando era criança a segunda esposa do fidalgo, a centenária Nhá Coca sentada em uma cadeira á porta. A rua Coronel Descio, onde residiu o professor e Coronel Raphael Descio, filho caçula do Napolitano Dom Raphael Descio, na casa onde habitou por último dos Descio o Sr. Celso Descio, a Praça Luiz Nestlhener onde estava o estabelecimento comercial deste ilustre Austríaco conhecido por Luiz Alemão e também a praça Honório Corrêa , onde residiu e teve comércio o Sr. Honório Henriques Corrêa e seu irmão João Henrique Corrêa, (João Caboclo e Honório Caboclo), durante quase todo o século passado. A praça Honório Corrêa tem dois modelos de placas uma que foi patrocinada por uma empresa particular e outra que eu mesmo mandei fazer em São Paulo. Esta placa tem uma história que começa no ano de 1993 após a morte do meu avó Honório Corrêa, o Manoel que foi prefeito, mas que nesta época ainda fazia parte da câmara, aprovou numa votação a mudança do nome de praça da Bandeira para Honório Corrêa e na época, quando o Manoel entrou na prefeitura para ocupar o cargo máximo, eu fui até uma empresa especializada em placas do gênero e mandei fazer três placas azuis padrão com o novo nome do logradouro, custou caro paguei do meu bolso, entreguei com a nota fiscal para minha mãe que passou para a prefeitura, mas passaram-se meses anos e as placas nunca foram colocadas, até que um dia uma delas foi encontrada jogada dentro de um bueiro, suja de barro, e entregue para minha mãe. Eu lavei a placa peguei um martelo e uns pregos e preguei na parede da casa do Batista (Balaio) ao lado do posto da PM, na praça, onde está até hoje.

A única que restou das três placas que vieram comigo de São Paulo.

Continuando a falar das placas e nomes de ruas de nomes que merecem um grande ponto de interrogação por exemplo Barão de Itaúna, o que este personagem tem a ver com Iporanga, será que ele trouxe algum recurso ou visitou a cidade? Quem poderá responder? O mesmo se aplica a um caso mais recente como a rua Barão de Jundiaí, por que não deram o nome de Barão de Iporanga, ou Barão de Iguape, nobres que se identificam mais com a cidade e a região. Tem a rua da Saudade nome mórbido e pouco criativo de uma via no coração da cidade. Existe em Carapicuíba, São Paulo, uma grande avenida, maior do que Iporanga com todos os seus habitantes e com arrecadação algumas vezes mais do que a de nossa cidade, avenida cujo nome é Nuno Mendes Torres, procurei a fonte para saber quem era o homenageado e descobri que se tratava de um dos ilustres bandeirantes que recebeu esta honra por se tratar de ser um dos fundadores de uma das etapas da cidade de Iporanga, enquanto por aqui não existe nem uma viela com o nome de Bernardo de Moura Prado, fundador desta nova e velha vila que está debaixo de nossos pés. A questão da sinalização também tem causado alguns transtornos, principalmente para turistas e visitantes diversos, pois além de faltarem placas de trânsito, faltam também placas de orientação viária quem fica sentado durante final de feriado em frente o quiosque do Dony, já viu muitos daqueles grandes ônibus de turismo seguir rumo à estrada do ribeirão e passagem, isso quando não descem a ladeira estreita rumo à rua Pedro Silva e ficam entalado próximo da praça Luiz Nestlhener, de onde voltavam disparando xingação para todos os lados, diante disto alguns populares já tentaram fazer placas para o local mas sem êxito devido à qualidade das mesmas e ao local escolhido, uma delas o Gordo colocou numa árvore chapéu de Sol, em frente ao Dony, que foi arrancada aos pedaços por caminhões baú, outra o Zé da Hora colocou em seu estabelecimento depois da entrada que conduzia os motoristas para ruas de ladeira da outra
quadra, e por fim ficou sem nenhuma placa.


Foto antes das mudanças no "point" alaranjado Mc Donny.

Um dia eu tirei fotos daquele cruzamento para fazer um pequeno projeto e passar para a câmara ou o executivo, mas achei que poderia ser mal compreendido, desisti da ideia e guardei as fotos. Pensei em pegar uma placa velha que estava atrás do muro do prédio da saúde e reaproveitar para fazer uma placa nova onde estivesse escrito legível os destinos Eldorado, BR 116 e São Paulo, mas para isso precisava falar com o prefeito que é meu amigo e patrão para que ficasse informado e me desse uma autorização verbal pelo menos. Para surpresa minha e de todos outro dia vimos chegar na cidade uma destas empresas que fazem aquelas placas com nomes de ruas colocadas em pequenos postes de cano de ferro nas esquinas com uma publicidade acima, observei eles colocarem uma plaqueta pequena com diversos nomes e comentei com o instalador que a placa era muito pequena e com muitos caracteres o que tornaria os nomes ainda menores e impossível de ser lido por alguém normal com um veículo em movimento, lamentei como cidadão e questionei com uma funcionária do turismo, minha amiga, a respeito dizendo que as placas infelizmente eram do tamanho de uma folha de caderno e com muito texto, que pena que não são um pouquinho maior, ela quase me bateu, falou vai dizer pro Gulu. Eu respondi não vi o Gulu se o tivesse visto faria o mesmo comentário.


Placa "folha de caderno". A placa legível, indicando a comarca de Apiaí eu escrevi e acrescentei ao conjunto.


Depois no Donny um amigo comentou é melhor estas plaquetas do que nada, então eu disse:nós não podemos assumir esta postura, pois e melhor nada do que uma coisa paliativa, se você aceita uma coisa imperfeita você vai conviver com ela para sempre e se você não tem nada de repente pode pleitear ou receber uma coisa satisfatória, na praça Honório Corrêa uma empresa instalou umas luminárias lindas para ascender luz verde, mais o instalador colocou os postes desrespeitando qualquer regra de estética, ficando uma delas em frente ao monolítico em homenagem ao personagem que dá nome ao local e logo atrás do monumento colocou um monstrengo padrão onde seriam ligados cabos aéreos atravessando a praça para ligar nas luminárias que tinham ligação subterrânea, cheguei para almoçar quando um funcionário da empresa cavava o buraco para fincar o padrão e expressei minha opinião, faltou pouco para o camarada sair do buraco para brigar comigo, disse:você é o prefeito? Respondi: Não! Eu sou apenas da comunidade da praça e ele replicou: pois é, por isso que ninguém faz nada nestas cidades, é melhor não ter nada, nada está bom, era mais ou menos isso que o camarada expressou, depois disto veio o Plínio tentar resolver o problema, em seguida o engenheiro Vinícius e por último o projeto ficou mesmo meio abandonado. Não estamos tristes, pois temos esperança de que se algum dia ele for retomado poderá ser concluído melhor e de maneira correta. Mais tarde no Dony e encontrei o prefeito olhando a placa de dentro de sua pick-up, acompanhado pelo Magrão, o olhar do chefe do executivo para as plaquetas, era de reflexão. Não me aprofundei em comentário e falei: --Tem uma placa velha ali atrás do muro da saúde, você me autoriza reaproveitar a chapa e fazer uma placa para orientar os viajantes que vem das cavernas e de Apiaí, ele concordou subi o muro e peguei a placa, o cano de sustentação estava com o pé corroído pela oxidação causada por urina de cachorro, motivo pelo qual ela já havia caído a algum tempo, o Magrão se propôs a arrumar um poste que ele dizia ter, ele também lixaria a placa para eu escrever os novos letreiros, de tudo isto, pelo menos ele cortou os parafusos enferrujados que prendiam a placa no suporte com a lixadeira e eu levei a placa no Barbudinho que lixou e pintou de branco, trouxe a chapa preparada para casa, e na minha calçada escrevi os letreiros com um lápis, uma régua de 20 cm e caneta hidrocor.


Esboço da placa feito com caneta hidrocor.

Depois empapelei, comprei uma latinha de esmalte verde folha, 15 reais e levei no Diminhas, que pintou toda a frente da placa com o revolver de pintura do Magrão. Depois de três dias estava seca a tinta , arranquei as fitas de vedação e a placa estava pronta. Comprei dois parafusos novos e fixei a placa no poste, com a ajuda do Deco e a alavanca do Nelson Lopes para fazer o buraco e mais 10 quilos de cimento 15 pás de areia e quatro de pedra fixamos o poste dentro de um tubo de PVC, anti-xixi de cães.

A placa ficou baixa e perigosa para pedestres, mas o Amauri resolveu o problema com uma extensão de madeira de lei. A placa ficou instalada na avenida Iporanga do outro lado da rua da saudade, com sete indicando para a direita, depois da rua, o que normalmente é o correto para quem sabe seguir sinalização, pois ninguém deve entrar numa via antes da placa, só depois dela, porém a maioria erra. A pergunta é a placa deve ser erroneamente colocada em cima da outra esquina para agradar os incautos, ou permanecer no local que está? O que é certo? Apesar de tudo isto, a boa notícia é que o Hélio me disse, que as plaquetas, folha de caderno, serão brevemente substituídas por outras maiores.

Painel eletrônico informativo da prefeitura.

É também importante lembrar, que melhor do que todas as tentativas, foi o painel eletrônico informativo, instalado pela prefeitura quase no mesmo local, ele obteve sucesso absoluto em sua atribuição, e com dois anos de instalado, agradou e caiu nas graças da população.


quarta-feira, 13 de julho de 2011



Algumas de nossas histórias mórbidas
Seguindo na mesma linha da postagem anterior, onde no finalzinho, comentei o passamento de D. Dadam, me surgiram na memória algumas lembranças e pensamentos relacionados a momentos semelhantes para as pessoas, talvez dos mais importantes na trajetória da vida, que é quando vem a "Dona Morte" com sua foice nas costas e passa a régua. Ela soma a conta para ver se nos sobra algum crédito, ou se vamos ser devorados pela diferença, entre o que se fez de bom, ou de ruim neste mundo. Pois sabemos que não ser ruins não basta, temos mesmo é que ser bons.

Por isso, insistimos dia a dia, na busca pela luz, e também por perdão e a graça de Deus. Caminho que alguns procuram, nem tanto pelo desejo de entrar no Paraíso, ou fazer parte do Reino de Deus, e sim muito mais para se livrar da escuridão, do castigo, do abismo, da morte da alma, que nos apavora mais, do que a morte do corpo, que a maioria acha que só está destinada aos outros. Muitos dizem não gostar de ir a hospital, de visita a doente, de ir a velório, de ver morto e ir a enterro, pensam que a morte é só para os velhos, os doentes, os vizinhos, os bandidos, os pecadores, etc.


Vídeo: A vida é muito curta...

Aliviando o rumo da prosa, podem continuar a leitura sem susto, pois será outra a linha de pensamento que conduzirá este texto. O comentário seguirá em frente sempre pelo caminho da simplicidade, relatando os acontecimentos, que sempre se associaram aos funerais, mas só no que se refere ao ser que se vai, e ao comportamento e preocupação dos que ficam.
Naquela sexta e sábado, enquanto participava do velório e funeral de D. Dadam, envolvido por aquele momento, quase sem perceber fiz algumas reflexões e me surgiu da memória algumas coisas, que se passam e se passaram com relação aos falecimentos. Entre elas os costumes e o nosso procedimento nestas ocasiões, através dos tempos, até o dia de hoje.
Atualmente tudo é diferente a maioria das pessoas, até a prefeitura, tem convênio com as novas funerárias, que disponibilizam meios modernos e urnas sofisticadas, como aquelas que vemos no cinema. Mas no funeral de D. Dadam, o povo que estava presente, fez questão de dispensar o veículo de transporte característico para cortejo, para sair desde a porta da casa, na rua Pedro Silva, com a urna nas mãos, no percurso a pé, contornando pela última vez em despedida, a matriz de Santana, enquanto o Juca Tomatinho, um dos últimos tocadores de sino da igreja, dava as badaladas no sino grande e no médio, de acordo com o modo estabelecido pelo padre Antonio da Graça Cristina. Meu avô Honório Corrêa, dizia que um dia, este padre Cristina, como era conhecido, durante uma celebração no cemitério velho, em um dia de finados, fez um sermão tão inspirado e comovente que todos choraram. Foi em 1900, que o padre padronizou o acompanhamento com os sinos para enterro de adultos. Existe também o toque de sino para crianças ou "anjinhos" ensinado pelo mesmo padre. Subindo o cortejo pela Pedro Silva, eu mesmo só consegui ajudar no transporte do esquife por noventa metros e logo apareceu uma mão para me substituir. Existem pessoas que até por tradição ou folclore, nunca ficaram ausentes nestas ocasiões. O velho Henrique Steininger era um destes casos. O velho alemão nunca saia de casa, mas quando falecia alguém ele preparava-se e lá estava ele. Presente o tempo todo. Eu acho que o Henriquinho herdou um pouco deste costume do velho, pois ele tem marcado bem com sua presença. No entanto, isso tudo que nós presenciamos é "fichinha" diante do que observamos em tempos de eleição. Nestas ocasiões, aparece candidatos a vereador e prefeito disposto a qualquer sacrifício, e neste caso o caixão ao invés de seis alças deveria ter vinte, tamanha a quantidade de mãos querendo segurar nelas. No cortejo da D. Dadam, tudo transcorreu normalmente, até o Antonio Rosa que segurava um litro de cinquenta e um, esteve comportado. Aliás ele ultimamente tem se comportado bem até na igreja, mas houve tempo, que nos velórios ele provocava queixas, por quando já estar bastante alcoolizado, falar alto palavras desconexas e até incompatíveis com o luto. Houve quem preferisse morrer só depois do Antonio, para não haver chance de imaginar o que poderia acontecer, se assim não fosse.
Os outros irmãos de D. Dadam já faleceram, exceto o Sr. Augusto que é o filho caçula do velho Alferes Euclides da Silva Pereira. Lamentei não ter visto e até conversado com o Sr. Augusto a quem eu não via a décadas e que esteve presente, mas ficou todo o tempo dentro de seu carro por trás dos tais vidros escuros, que estão atualmente muito em moda. O corpo de D. Dadam foi colocado em uma gaveta no mesmo tumulo que jazia sua irmã Maria, que morreu ainda jovem.
Cheguei a conclusão, que funeral feito em gaveta não é tão dramático para a família, assim como eram aqueles em que o caixão é descido até a sepultura e os parentes e pessoas presentes atiram punhados de terras e flores sobre a tampa do caixão produzindo um som macabro e angustiante para os familiares. Tem ainda a forma chique e mais moderno, que é a cremação do corpo, procedimento que eu acho, que vai na contramão do comportamento ecologicamente correto, pois não contribui para a proteção do planeta, onde nos é recomendado evitar qualquer queima, para não emitir fumaça, nem gazes para a atmosfera. Isso sem falar que o ato também pode destruir material orgânico e combustível de fonte esgotável.
Antigamente, após a extrema-unção era colocada uma vela nas mãos do moribundo, depois de confirmado o óbito. Também era hábito lavar os defuntos, para isso havia na Igreja de Santana uma bacia muito grande, com quase dois metros de diâmetros para essa tarefa. Um dia meu tio Jeremias e o Crismâncio muito amigos foram para uma gardação em um bairro na estrada do ribeirão, e como não poderia deixar de ser, tomaram umas e outras, a mais e necessitaram em determinado momento sair para urinar, do lado de fora da cabana, mas não viram o bacião da igreja, ainda cheio de água, onde fora lavado o defunto. Tropeçaram na borda da bacião e caíram dentro da água suja . Aí lembraram que o falecido tinha uma doença contagiosa, então os dois levantaram-se apavorados e saíram numa correria pelo caminho até chegar no rio, onde jogaram-se com roupa e tudo, para se enxaguar daquela lavagem do cadáver. Quando caiu a torre da matriz em 1983 o tal bacião ficou destruído pelos escombros e com o final dele, quase acabou também a tradição do banho nos mortos.
Os caixões eram feitos por um, ou outro voluntário da comunidade, que tivesse alguma aptidão na arte da carpintaria. Como a morte geralmente não mandava recado, quando ela acontecia, pegava sempre o infeliz e os parentes desprevenidos. Antigamente não havia motosserra. Também não era possível serrar tábua de guaricica manualmente a toque de caixa. Por essa razão, geralmente utilizava-se uma ou outra porta interna da residência, para fabricar um ataude.

Quando criança eu gostava de ver o Sr. Manduca, fabricar um destes “envelopes”, com guaricica. Ele dizia que a madeira era mole e apodrecia mais rapidamente. As tábuas eram divididas em sarrafos para montar uma gaiola ou uma espécie de engradado, nas medidas para o caixão. Depois toda a armação pronta, ela era forrada por fora com pano de luisina preta e a parte interna era revestida com tecido de algodãozinho branco. Para complementar a parte externa era decorada com galões dourado formando cruz e contornando o volume, tudo fixado com tachinhas. A tampa era uma peça separada utilizando os mesmos procedimentos. Os maiores destas embalagens fabricadas foram a do Guilherme Gaúcho,pois tratava-se de um homem muito alto e encorpado, que por causa do seu peso andava só a cavalo. Por isso ela tinha um único animal que suportava o peso daquele cavaleiro. Um dia alguém amarrou um cavalo muito forte e bonito no armazém do Antonio Rodrigues, onde o Guilherme conversava com o comerciante. Não demorou e o Gauchão já estava acertando a compra da montaria, montou no animal, que continuou firme em pé, provocando a exclamação no cavaleiro: O bicho é forte! Tchê!!, mas quando ele encostou a espora que o animal tirou uma das patas do chão, as outras três não suportaram e lá se foram os dois para o chão. O gaúcho foi o primeiro em Iporanga, a ter seu caixão levado de carro para o cemitério. Outro caso foi do Bento Chato, irmão de D. Eulália, cunhado e caixeiro do Sr. Fequinho Descio, enquanto o velho simpático e requintado, estava esticando o suspensório e politicando na praça. O Bento faleceu acometido de uma intoxicação alimentar, ele abusava um pouco do apetite. Ele era de família de Xiririca, para onde seria enviado o corpo, ele era encorpado, meio obeso, por isso seu caixão era muito grande e largo, para fazer o transporte, que na época era pelo rio Ribeira, foi necessário utilizar o canoão do Sr. Ismael, mesmo assim o ataude teve que seguir inclinado a quarenta e cinco graus na embarcação.
A maioria das pessoas eram sepultadas na terra fria, isto é: simplesmente envolvidas por um lençol branco e vestidas com uma mortalha. Até por opção, alguns pediam, ainda em vida, para ser enterrados sem caixão, caso dos meus bisavós paternos e maternos sepultados no cemitério velho da esquina da rua da Saudade com avenida Iporanga. A mortalha era uma roupa especial e muito simples, em tecido de luisina, confeccionado por uma costureira. Eu me lembro, que havia um irmão da minha avó Eugênia, o tio Antonio Henrique, ele e tia Adelaide diziam antes de morrer, já na terceira idade, que tinham pronto e guardados na casa onde moravam, os caixões, as mortalhas e lenços para amarrar o queixo, para o caso de a boca não ficar bem fechada. As vezes eles experimentavam todo este paramento para conferir se estava tudo na mais perfeita ordem para o evento. Um parente nosso de nome José Povo, trabalhava de coveiro em Apiaí e costumava deixar sempre meia duzia de sepulturas abertas aguardando seus ocupantes. Um dia ele pisou em um pedaço de tábua podre de restos de caixão e nela havia um prego enferrujado que lhe feriu o pé. O ferimento arruinou, piorou...piorou e levou-o por uma linha reta para uma daquelas covas que ele mesmo cavou. Havia em Iporanga o Sr. Henrique Honório, que era muito “papudo” (gostava muito de contar vantagem, “gargantear”) ia além; dizia que deixaria quatro homens pagos para carregar seu caixão, que era para não depender de favor de fdp nenhum.
Em todo cortejo seguia uma cruz de madeira feita pelo mesmo voluntário que fabricou o caixão. Na cruz ia escrito, geralmente mau escrito, isto até hoje, o nome, a data inicial e final da vida do sujeito. Geralmente uma criança carregava a cruz seguindo bem à frente dos acompanhantes. Essa peça de madeira rapidamente apodrece, cai, embaralha na terra do cemitério e desaparece. Com ela some também qualquer vestígio ou referencia do individuo ali sepultado, isto aconteceu no caso do Sr. Celso Descio, prefeito três vezes de Iporanga e neto do ilustre Dom Raphael Descio. Conforme comentou comigo o Oswaldinho, talvez hoje ninguém mais saiba em que local do cemitério municipal o Sr. Celso foi sepultado.
Depois que eu já havia começado a escrever esta postagem, faleceu o Sr. EssaNão (Antonio Andálio), que havia se convertido para uma igreja crente a poucos dias( as más línguas deixaram transparecer em tom de brincadeira que ele acelerou seu óbito, por que encheu o pulmão de água durante o mergulho na piscina batismal). Porém se não foi á conversão, pelo menos conseguiu solidaridade dos irmãos crentes para engrossar o volume do cortejo, embora sem sinos, sem velas, sem volta na igreja e sem a cruz. Um segundo batismo muda a pessoa para uma outra religião diferente da anterior, portanto também o nome do primeiro batismo deveria mudar para um novo nome. Assim o EssaNão poderia mudar o nome Audálio, para outro diferente. Eu não sei se nome influi, mas é bom observar que o nosso ex-coveiro que sobreviveu a dois atentados distintos, onde foi atingido por facadas profundas no peito e sobreviveu. Sabe como ele se chama? Jesus!... Este é o nome...
O EssaNão, chegou em Iporanga no início dos anos 50, tem uma história de grandes empreendimento na exploração de madeira e mármore, quando chegou sua esposa estava prestes a das a luz a uma de suas filhas, o parto ficou complicado e foi necessário chamar o Dr. Farracha, que fez a primeira cesariana em Iporanga, e sem anestesia, a frio e com muitos gritos da paciente. A filha nasceu sadia e tudo ficou bém. EssaNão, morreu sem esposa, sem filhos, sem família, sem dinheiro, vivendo somente da aposentadoria de idoso, mas acreditava em Deus. Por isso em seus últimos dias pode contar com o máximo cuidado e caridade, de uma irmã de sua nova igreja. Quando eu era jovem joguei no time de futebol do EssaNão de "arfo-direito", e treinei box na academia dele, que era junto das escadas do porto. Eu e meu falecido primo Luiz Grilo. Antes de fecharem o caixão pela última vez de um verdadeiro iporanguense, apesar de ter nascido na Bahia, uma criança falou: o nariz dele está meio torto! Então eu corrigi: não! é assim mesmo ele lutou box, e dizia que não tinha cartilagens nasal.



Quando saíamos do cemitério e tocávamos para fora um dos cavalos, que ali pastavam e faziam suas necessidades, perguntei ao Henriquinho sobre a sepultura do Sr. Celso Descio, ele disse-me: eu sei onde está. E mostrou-me uma catacumba bem feita e sem nomes, com um anjo daqueles de mármore, que tinha na tumba do coronel Descio, no cemitério velho.

Cavalo entre as catacumbas, no cemitério municipal.






O cemitério velho no cruzamento da rua da Saudade com avenida Iporanga, não existe atualmente, por que ele foi removido para dar lugar ao posto de saúde, que está no local hoje. O desenho feito com caneta hidrocor, mostra o abandono, já nos anos 50. A imagem é a que está gravada no álbum da minha memória, do tempo que entrei para o grupo escolar.

Iporanga teve em sua história a partir do ano de 1800 , quando a vila mudou para a margem do Ribeira três cemitérios que foram: O primeiro que foi utilizado até 1840, era ao redor da igreja matriz de onde nenhum osso foi removido. Ali está sepultado o corpo do meu tataravô, Salvador Henriques, falecido no ano de 1864, quando o cemitério velho da rua da saudade já existia a mais de 20 anos. Salvador Henriques só foi sepultado ali por acordo com o padre Antonio da Silva Pereira, irmão do Pedro Silva, pois a causa do morte do meu antepassado foi a febre amarela. O desconhecimento da moléstia, causou pavor na população que se recusou de fazer o sepultamento no cemitério e manusear o corpo do velho senhor, que foi arrastado por um cavalo puxando uma padiola por corda até terminar sendo enterrado no velho cemitério do adro da igreja matriz, isto tudo, após uma forte pressão da família, com a justificativa no documento do óbito de falta de lugar no cemitério em uso. O cemitério da rua da saudade com avenida Iporanga foi construído em 1840, após portaria do governo da capitania obrigando todas as vilas a construírem cemitério separado da igreja para evitar as cerimonias funerais realizadas por escravos no interior da igreja até tarde da noite causando temor no senhorio. O atual cemitério foi construído em 1938 comandado pelo Sr. Juquinha de Andrade que chefiou a equipe na construção. O Sr. João Manoel de Oliveira, me disse que no início da obra várias pessoas da comunidade que estavam presente escreveram os nomes sobre uma folha de papel colocaram em uma garrafa e enterram junto da pedra fundamental. O atual cemitério passou por duas ampliações a última ocorreu no mandato do prefeito Walfredo, ocasião em que foi derrubado uma enorme árvore de guaraqui que dava para fazer uma canoa. Atualmente fala-se em construir o quarto cemitério da nossa história recente, este último seria ecológico. Embaixo do altar mor da matriz está sepultado o padre Bernardo de Moura Prado e sob o altar mor da igreja de Santana na antiga vila do arraial de Iporanga está sepultado o padre português, Dr. José Martins Tinoco.

O cemitério velho da rua da Saudade com a avenida Iporanga já não existe mais pois o prefeito Konesuk contratou trabalhadores para removê-lo para construir no local o posto de saúde alegando falta de terreno em Iporanga, ou talvez para não restaurar e se livrar da tapera da velha acrópole.

Naquela época começo dos anos 60, o prefeito empreitou com o Sr. Joaquim Romão, um negão forte, muito boa gente e divertido, que agora já é falecido e junto com ele também uma outra pessoa, que ainda está viva e forte, com mais de 80 anos. A empreita por oito contos, consistia na abertura de 20 covas e a remoção dos ossos para serem transferidos para o cemitério de cima.
Depois de exumados os túmulos as lápides de mármore antigas algumas ainda importadas da Itália, elas foram encaixotadas e abandonadas no terreno atrás da igreja de São Benedito e algumas peças foram transportadas para o cemitério municipal. A mármore do Coronel Descio eu encontrei quebrada em duas sobre a tumba do Comerciante Domingos Vitor de Souza no cemitério municipal, onde ainda permanece. No cemitério antigo, que eu visitava nos tempos da escola eu me lembro que me chamava muito atenção ás datas muito antigas dos séculos já passados. Existiam catacumbas bem feitas estátuas de mármores, anjos, peças de serralheria, etc., isto tudo apesar do abandono em que o local se encontrava desde os tempos do prefeito Celso Descio, ainda fazia alguma manutenção. Depois disto, dentro daquele local pastavam cavalos e cabras. Um dia a noite aceitei um desafio dos meus colegas de escola de entrar no tal cemitério depois que apagassem a luz da cidade que era mantida por um gerador diesel até as 21:30 horas. Apagaram-se as luzes e eu segui para o local e quando passei o portão no meio da escuridão, pois o luar estava um pouco encoberto, vi uns vultos brancos saltarem sobre um daqueles túmulos. Pensei não há dúvidas são fantasmas, arrepiei os cabelos, contive o grito e virei para trás a toda velocidade. Depois refleti um pouco mais e fui voltando aos poucos para averiguar os fantasmas e verifiquei que os vultos brancos eram os cabritos do Celso Descio que estavam dormindo sobre a tumba e assustaram-se com a minha chegada.

No dia em que o Joaquim Romão e o seu colega começaram a cavar as covas para retirada dos ossos, que seriam transladados para o cemitério municipal, eu estava naquele local, juntamente com outros curiosos da cidade, mas o que mais chamava a atenção, era a presença de alguns componentes de uma família, de um grande comerciante, cuja primeira esposa estava enterrada, a muitos anos naquele local, junto com o corpo havia sido sepultado, uma peça preciosa, não sei dizer se era uma dentadura, ou uma coroa de ouro. Por isso enquanto os homens chegaram na tal sepultura, para cavar e retirar os ossos, ali depositados, os familiares presentes disputavam o espaço em redor da cova, ombro a ombro, a ponto de os movimentos das ferramentas dos trabalhadores, passarem próximo de suas cabeças. Eles tinham os olhos arregalados no buraco, para não correrem o risco de serem enganados, entre si, ou pelos homens que faziam a escavação. Durante a tal escavação a peça não apareceu para desapontamento dos familiares, passado algum tempo soube de um daqueles dois homens(não o Joaquim), que quando ele estava cavando, atento e também cobiçando o objeto, em determinado momento percebeu sob a terra que seus pés descalços tocou em algo que ele desconfiou ser a tal preciosidade, não teve dúvida, manteve o objeto debaixo da sola do pé e puxou-o para trás com o pé mantendo-o preso ali entre a sola e os artelhos, mas continuou cavando para disfarçar os espectadores e em determinado momento fez um movimento errado proposital no pá que jogava a terra para cima, na beira da sepultura, arremessando terra espalhada na altura do peito daqueles curiosos e enquanto eles deram dois passos para trás, até por instinto de protegerem-se, o homem abaixou-se rapidamente, numa fração de segundo apanhou a peça e meteu-a no bolso. Passado algum tempo chegou na cidade um comprador de ouro para negociar com garimpeiros que bateiavam na região, foi a chance para o garimpeiro de sepultura trocar o objeto de ouro, por uns cobres, naquela época um bom dinheiro, mais de vinte contos.


Partilhando, do meu amigo Facebook, José Neumanne, em homenagem ao seu pai, que já morreu e ao meu, que também já se foi. - Diogo Nogueira cantando Além do espelho, de seu pai, João Nogueira, e PC Pinheiro.


quinta-feira, 30 de junho de 2011


Iporanga na era da informação

Estamos mais do que nunca vivendo a era da comunicação e da informação, por isso é bom ter acesso a estes recursos e procurar melhorar cada vez mais neste quesito. A informação apresenta-se as vezes de uma maneira simples, mas sem perder sua importância, como pude observar esta semana no Posto Avenida, que está localizado no final da avenida Iporanga que antigamente era o "final da reta", e onde em alguns dias retorno de minhas pequenas caminhadas, mas não sem antes jogar um pouco de conversa fora num bate papo desinteressado com os funcionários ou alguma pessoa que esteja naquele local.

O cruzamento rua da Saudade com avenida Iporanga no coração da cidade, em um domingo de manhã, está para Iporanga assim como o cruzamento das avenidas São João e Ipiranga está para Sâo Paulo.

Em um destes momento, quando eu conversava com o Ronaldo (Boi) surgiu um senhor que saiu de um carro da telefônica em busca de uma informação, perguntando por uma rua e o nome de uma pessoa residente no bairro Bonito em Iporanga, onde instalaria uma linha telefônica. Imediatamente rebatemos dizendo: aqui em Iporanga não existe esta rua, nem esta pessoa e muito menos um bairro conhecido por Bonito. E digo mais por incrível que pareça, por coincidência, a menos de uma semana, outro técnico da telefônica, quase neste mesmo local surgiu com a mesma ordem de serviços e em mais uma coincidência o Ronaldo estava presente e nós respondemos que nas famílias de Iporanga nos últimos duzentos anos não havia ninguém com esse nome e tão pouco falou-se um dia em um bairro com esse nome de Bonito dentro dos limites de todo o município, aliás aqui todos os bairros são bonitos. Resumindo aconselhamos a procurar em Barra do Turvo ou se informar melhor na coordenação que programou a tarefa. Ouvimos a conversa do técnico falando ao celular com a tal pessoa para quem a linha seria instalada, que deu como referência o supermercado Extra e o Autródomo em Interlagos São Paulo, onde existe o bairro (provavelmente feio, mas denominado Bonito) e o bairro Iporanga. E como diria o Carlinhos Tanasio "errou feio" e quem paga a conta do prejuízo? Faltou comunicação. Depois de esclarecida a dúvida o tal técnico ligou para sua chefia e pediu para retornar à base, no que foi atendido e se foi. Essas ocorrências como esta relatada nesta postagem tornou-se hoje em dia uma coisa corriqueira, pois com o surgimento da Internet e as lojas virtuais, qualquer pessoa que tem um computador conectado na rede mundial e possui um cartão de crédito, faz suas compras pela net com entregas a domicílio tarefa geralmente realizada por transportadoras usando veículos pequenos ou caminhonetes baú. Então como no caso relatado eles trazem em uma prancheta a nota com o nome do cliente, a rua, o bairro, a cidade, etc, o problema é que só algumas das ruas antigas tem placas com os nomes e acontece as vezes do entregador estar perguntando por uma rua em que ele está estacionado, mas que não tem o a placa com o nome, geralmente quando somos consultados sobre muitas ruas que geralmente não sabemos onde fica identificamos o local da residência pelo nome ou sobrenome do cliente. Por essa razão e possível que a administração já esteja preocupada com esse problema, tendo em mãos algum projeto de emenda na buscar recursos para sinalização e nome dos logradouros. Algumas ruas antigas ostentam ainda placas com o nome de seus antigos e ilustres moradores, vultos da nossa política e da história da cidade. Por exemplo a rua Pedro Silva, onde residiu no local onde hoje sua bisneta Dona Dadam habita com seus 96 anos de idade, o Sr. Pedro da Silva Pereira. A rua Carlos Nunes, onde residiu o Sr. Carlos Diogo Nunes na casa onde ainda via quando era criança a segunda esposa do fidalgo, a centenária Nhá Coca sentada em uma cadeira á porta. A rua Coronel Descio, onde residiu o professor e Coronel Raphael Descio, filho caçula do Napolitano Dom Raphael Descio, na casa onde habitou por último dos Descio o Sr. Celso Descio, a Praça Luiz Nestlhener onde estava o estabelecimento comercial deste ilustre Austríaco conhecido por Luiz Alemão e também a praça Honório Corrêa , onde residiu e teve comércio o Sr. Honório Henriques Corrêa e seu irmão João Henrique Corrêa, (João Caboclo e Honório Caboclo), durante quase todo o século passado. A praça Honório Corrêa tem dois modelos de placas uma que foi patrocinada por uma empresa particular e outra que eu mesmo mandei fazer em São Paulo. Esta placa tem uma história que começa no ano de 1993 após a morte do meu avó Honório Corrêa, o Manoel que foi prefeito, mas que nesta época ainda fazia parte da câmara, aprovou numa votação a mudança do nome de praça da Bandeira para Honório Corrêa e na época, quando o Manoel entrou na prefeitura para ocupar o cargo máximo, eu fui até uma empresa especializada em placas do gênero e mandei fazer três placas azuis padrão com o novo nome do logradouro, custou caro paguei do meu bolso, entreguei com a nota fiscal para minha mãe que passou para a prefeitura, mas passaram-se meses anos e as placas nunca foram colocadas, até que um dia uma delas foi encontrada jogada dentro de um bueiro, suja de barro, e entregue para minha mãe. Eu lavei a placa peguei um martelo e uns pregos e preguei na parede da casa do Batista (Balaio) ao lado do posto da PM, na praça, onde está até hoje.

A única que restou das três placas que vieram comigo de São Paulo.

Continuando a falar das placas e nomes de ruas de nomes que merecem um grande ponto de interrogação por exemplo Barão de Itaúna, o que este personagem tem a ver com Iporanga, será que ele trouxe algum recurso ou visitou a cidade? Quem poderá responder? O mesmo se aplica a um caso mais recente como a rua Barão de Jundiaí, por que não deram o nome de Barão de Iporanga, ou Barão de Iguape, nobres que se identificam mais com a cidade e a região. Tem a rua da Saudade nome mórbido e pouco criativo de uma via no coração da cidade. Existe em Carapicuíba, São Paulo, uma grande avenida, maior do que Iporanga com todos os seus habitantes e com arrecadação algumas vezes mais do que a de nossa cidade, avenida cujo nome é Nuno Mendes Torres, procurei a fonte para saber quem era o homenageado e descobri que se tratava de um dos ilustres bandeirantes que recebeu esta honra por se tratar de ser um dos fundadores de uma das etapas da cidade de Iporanga, enquanto por aqui não existe nem uma viela com o nome de Bernardo de Moura Prado, fundador desta nova e velha vila que está debaixo de nossos pés. A questão da sinalização também tem causado alguns transtornos, principalmente para turistas e visitantes diversos, pois além de faltarem placas de trânsito, faltam também placas de orientação viária quem fica sentado durante final de feriado em frente o quiosque do Dony, já viu muitos daqueles grandes ônibus de turismo seguir rumo à estrada do ribeirão e passagem, isso quando não descem a ladeira estreita rumo à rua Pedro Silva e ficam entalado próximo da praça Luiz Nestlhener, de onde voltavam disparando xingação para todos os lados, diante disto alguns populares já tentaram fazer placas para o local mas sem êxito devido à qualidade das mesmas e ao local escolhido, uma delas o Gordo colocou numa árvore chapéu de Sol, em frente ao Dony, que foi arrancada aos pedaços por caminhões baú, outra o Zé da Hora colocou em seu estabelecimento depois da entrada que conduzia os motoristas para ruas de ladeira da outra
quadra, e por fim ficou sem nenhuma placa.

Foto antes das mudanças no "point" alaranjado Mc Dony.


Um dia eu tirei fotos daquele cruzamento para fazer um pequeno projeto e passar para a câmara ou o executivo, mas achei que poderia ser mal compreendido, desisti da idéia e guardei as fotos. Pensei em pegar uma placa velha que estava atrás do muro do prédio da saúde e reaproveitar para fazer uma placa nova onde estivesse escrito legível os destinos Eldorado, BR 116 e São Paulo, mas para isso precisava falar com o prefeito que é meu amigo e patrão para que ficasse informado e me desse uma autorização verbal pelo menos. Para surpresa minha e de todos outro dia vimos chegar na cidade uma destas empresas que fazem aquelas placas com nomes de ruas colocadas em pequenos postes de cano de ferro nas esquinas com uma publicidade acima, observei eles colocarem uma plaqueta pequena com diversos nomes e comentei com o instalador que a placa era muito pequena e com muitos caracteres o que tornaria os nomes ainda menores e impossível de ser lido por alguém normal com um veículo em movimento, lamentei como cidadão e questionei com uma funcionária do turismo, minha amiga, a respeito dizendo que as placas infelizmente eram do tamanho de uma folha de caderno e com muito texto, que pena que não são um pouquinho maior, ela quase me bateu, falou vai dizer pro Gulu. Eu respondi não vi o Gulu se o tivesse visto faria o mesmo comentário.

Placa "folha de caderno". A placa legível, indicando a comarca de Apiaí eu escrevi e acrescentei ao conjunto.


Depois no Dony um amigo comentou é melhor estas plaquetas do que nada, então eu disse:nós não podemos assumir esta postura, pois e melhor nada do que uma coisa paliativa, se você aceita uma coisa imperfeita você vai conviver com ela para sempre e se você não tem nada de repente pode pleitear ou receber uma coisa satisfatória, na praça Honório Corrêa uma empresa instalou umas luminárias lindas para ascender luz verde, mais o instalador colocou os postes desrespeitando qualquer regra de estética, ficando uma delas em frente ao monolítico em homenagem ao personagem que dá nome ao local e logo atrás do monumento colocou um monstrengo padrão onde seriam ligados cabos aéreos atravessando a praça para ligar nas luminárias que tinham ligação subterrânea, cheguei para almoçar quando um funcionário da empresa cavava o buraco para fincar o padrão e expressei minha opinião, faltou pouco para o camarada sair do buraco para brigar comigo, disse:você é o prefeito? Respondi: Não! Eu sou apenas da comunidade da praça e ele replicou: pois é, por isso que ninguém faz nada nestas cidades, é melhor não ter nada, nada está bom, era mais ou menos isso que o camarada expressou, depois disto veio o Plínio tentar resolver o problema, em seguida o engenheiro Vinícius e por último o projeto ficou mesmo meio abandonado. Não estamos tristes, pois temos esperança de que se algum dia ele for retomado poderá ser concluído melhor e de maneira correta. Mais tarde no Dony e encontrei o prefeito olhando a placa de dentro de sua pick-up, acompanhado pelo Magrão, o olhar do chefe do executivo para as plaquetas, era de reflexão. Não me aprofundei em comentário e falei: --Tem uma placa velha ali atrás do muro da saúde, você me autoriza reaproveitar a chapa e fazer uma placa para orientar os viajantes que vem das cavernas e de Apiaí, ele concordou subi o muro e peguei a placa, o cano de sustentação estava com o pé corroído pela oxidação causada por urina de cachorro, motivo pelo qual ela já havia caído a algum tempo, o Magrão se propôs a arrumar um poste que ele dizia ter, ele também lixaria a placa para eu escrever os novos letreiros, de tudo isto, pelo menos ele cortou os parafusos enferrujados que prendiam a placa no suporte com a lixadeira e eu levei a placa no Barbudinho que lixou e pintou de branco, trouxe a chapa preparada para casa, e na minha calçada escrevi os letreiros com um lápis, uma régua de 20 cm e caneta hidrocor.


Esboço da placa feito com caneta hidrocor.

Depois empapelei, comprei uma latinha de esmalte verde folha, 15 reais e levei no Diminhas, que pintou toda a frente da placa com o revolver de pintura do Magrão. Depois de três dias estava seca a tinta , arranquei as fitas de vedação e a placa estava pronta. Comprei dois parafusos novos e fixei a placa no poste, com a ajuda do Deco e a alavanca do Nelson Lopes para fazer o buraco e mais 10 quilos de cimento 15 pás de areia e quatro de pedra fixamos o poste dentro de um tubo de PVC, anti-xixi de cães.

A placa ficou baixa e perigosa para pedestres, mas o Amauri resolveu o problema com uma extensão de madeira de lei. A placa ficou instalada na avenida Iporanga do outro lado da rua da saudade, com sete indicando para a direita, depois da rua, o que normalmente é o correto para quem sabe seguir sinalização, pois ninguém deve entrar numa via antes da placa, só depois dela, porém a maioria erra. A pergunta é a placa deve ser erroneamente colocada em cima da outra esquina para agradar os incautos, ou permanecer no local que está? O que é certo? Apesar de tudo isto, a boa notícia é que o Hélio me disse, que as plaquetas, folha de caderno, serão brevemente substituídas por outras maiores.

Painel eletrônico informativo da prefeitura.

É também importante lembrar, que melhor do que todas as tentativas, foi o painel eletrônico informativo, instalado pela prefeitura quase no mesmo local, ele obteve sucesso absoluto em sua atribuição, e com dois anos de instalado, agradou e caiu nas graças da população.

Ontem quando escrevi esta postagem mencionei com alegria o nome de Dona Dadam, ainda viva no alto de seus 96 anos, mas hoje, 01 de julho de 2011, é inevitável que eu acrescente esta nota triste lamentando falecimento de Dadam da Silva Pereira, ocorrido no mesmo endereço da rua Pedro Silva onde passou toda sua vida de mulher honesta e honrada, uma guerreira, por quase um século, ela que foi mãe para seus filhos, e referência para todos os Iporanguenses. Pessoa de muita fé, e católica fervorosa, nesta hora já está ocupando uma das muitas moradas, na casa do Pai, que está no céu(Jo. 14: 1-3).

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Iporanga de Matheus Theodoro da Silva e o BóiaCross.

Primeiro quiosque construído por Matheus, na Caverna de Santana PETAR, onde além de residir, ele vendia bebidas e salgadinhos para os raros turistas que apareciam. No local hoje existe um edifício do governo.

Atualmente vemos sempre nos poderosos canais da TV aberta, ou mesmo em canal fechado, apresentações de varias modalidades de esportes radicais, mas para nós de Iporanga existe um destes esportes com o qual temos uma afinidade especial. Trata-se do esporte conhecido como
Acqua-Raids ou BóiaCross .Fiz, imprimi e doei o cartaz 42X30, para o Matheus em 1988. Na figura do "aquanauta" usei pincel e nankin. O papel é amarelado pela velhice.

A explicação é simples: para quem não sabe, em Iporanga, no ano de 1979, surgiu um embrião, o início da origem e história do BóiaCross. Embora não seja do conhecimento de todos, tudo está documentado e registrado em nossa memória. É ainda legítimo dizer que o esporte surgiu em Iporanga, unicamente pelo esforço solitário de Matheus Teodoro da Silva. Ele foi sempre o principal incentivador e lutador para a consolidação do esporte com boia, praticado nas nossas correntezas. Além disso Iporanga com suas belas cachoeiras e corredeiras naturais sempre ofereceu um cenário perfeito para essa atividade. Portanto, para falar sobre o BóiaCross é necessário antes contar a historia deste grande personagem do passado.
BóiaCross-SportTV


Matheus apareceu na cidade no inicio dos anos 70, era um forasteiro sozinho, mineiro de Cambuí, viajado como se diz na linguagem popular, uma pessoa madura, entrando para a faixa da terceira idade, com a experiência de já haver percorrido varias localidades turísticas no interior do Brasil, conforme pudemos saber através do acervo de seus antigos álbuns fotográficos e textos deixados. Ele desembarcou em Iporanga, vindo de Iguape, cidade que residia. Chegou na região atraído por alguma reportagem sobre as cavernas, ou informações obtidas de alguma agencia ou turista. Era semana do carnaval, por coincidência ele, trouxe também na bagagem, um histórico de participação em festas folclóricas, encontros culturais, bailes de salão, fantasia e desfiles carnavalescos, ele não bebia, mas onde tinha uma roda de samba ou alguém tocando e cantando, começava a dançar sempre só e as vezes dançava com uma tira amarrada na cabeça. Naquele carnaval ele dançou e pulou sempre sozinho desde a primeira até a última noite. Apesar de não ter uma boa formação acadêmica, era muito interessado na cultura, história, folclore e turismo. Era também visionário e futurista, logo a primeira vista se entusiasmou com o potencial turístico, as riquezas naturais, histórias e folclores local.


Na foto acima, o Matheus Theodoro da Silva.

Diante de tudo isto, Matheus viu, gostou e ficou. Ele, pessoa muito boa simples e bem intencionado, não tardou para fazer amizades, principalmente com pessoas de perfil parecido com o seu, como o Sr. Tota da coletoria e o Sertanista Manuel Marques, etc. Pessoas até estranhas, que tinham comportamento introspectivo.
Foto à esquerda: Matheus, fantasiado dançando sozinho, no carnaval.


À direita: o franzino Tota na coletoria.

O Sr. Tota, trabalhou e residiu em Iporanga no final dos anos 70, era funcionário público e trabalhou na Coletoria Federal, era magrinho, alegre, gostava de todos, fazia festinhas em casa, bebia muito, gostava de cozinhar e nunca foi visto acompanhado de mulheres. Viajava nos finais de semana para Sorocaba, onde visitava a família.

Manoel Marques-A suástica; parece montada na foto.

O Manoel Marques, era uma figura estranha, sisudo, muito rude, austero, morava no bairro Serra dos Motas, onde estão concentradas a maioria das cavernas do Petar. Veio de São Paulo e trouxe D. Carmosina, que era sua companheira e mãe de seus filhos. Espeleólogo e sertanista, explorava cavernas, minérios e florestas. Parecia ter formação acadêmica, tinha estilo próprio de vestir-se, até para caminhar na mata, foi amigo do alemão Sr. Luiz Nestlhener e do Clayton Lino, pessoas com quem fez intercambio de informações sobre cavernas e descobertas na região.


Primeiro mapa da Caverna de Santana - PETAR,
feito por Manoel Marques para o Matheus IpoTur.



A população tinha uma certa desconfiança quanto ao Manoel, ele andou pelos bastidores das florestas da região, no meio de uma época em que o país passava por um longo período da ditadura militar, que teve origem na revolução de 31 de março de 1964.

Para uns ele talvez pertencesse para o grupo do então subversivo, Capitão Carlos Lamarca, para outros seria algum ex-nazistas dos que se esconderam por aqui depois da segunda gerra mundial.
No entanto seu pioneirismo na exploração
da natureza foram e ainda são úteis para a revelação de alguns dos segredos das nossas riquezas naturais.
Teleférico no Morro da Coruja, um sonho do Matheus.

Por conta da amizade que o Manoel tinha com o Matheus Theodoro ele fez o primeiro levantamento topográfico na Caverna de Santana e desenhou o mapa detalhado das áreas conhecidas no interior da caverna, com título estava escrito para o IpoTur e aparecia em destaque a logomarca da IpoTur, criada pelo Matheus com ajuda do Manoel Marques. Desenhou também vários esboços de anteprojetos imaginados por Matheus, em papel manteiga, entre eles um que mostrava um teleférico turístico que descia do alto do morro da Coruja até o porto do ribeirão Iporanga.Matheus é lembrado ainda hoje, em Iporanga, por sua paixão e verdadeira cidadania demonstrada por tudo que dizia respeito a nossa cidade. Seu empenho pessoal em busca de recursos tanto nas secretarias do governo como em empresas privadas e as viagens e correspondências para os meios de comunicações com o objetivo de divulgar seus projetos e colocar Iporanga inserida no mapa turístico do nosso país foi incansável. Entre seus projetos o que mais se destacou foi aquele que ele inicialmente denominou Acqua-Raids, que depois passou a ser conhecido como Boia-Cross, e no Paraná inicialmente como Câmara-Cross.
Na foto acima vemos a premiação na festa onde aparece a miss Acqua-Raids, Elaine Maluf, do V Campeonato Brasileiro, de Acqua-Raids 1987, em Iporanga. A esquerda esta o Matheus Theodoro (com a tira presa na cabeça) e ao seu lado o vencedor Alberto Carlos, com o troféu e a Elaine; o Ito ( Luiz Nestlhener Filho); o Branco( Edson Marcos de Lima) e o Sidnei Maciel, ambos com o certificado de participação.

Jovens se divertem no Boiacross

O esporte definido como radical consistia em disputar uma competição no rio Betary, onde a corredeira é muito forte, ou ainda no rio Pardo, percorrendo distância de 5000 metros, com tempo de 40 a 60 minutos, para tanto, era necessário e obrigatório, primeiro saber nadar, além disso equipar-se com: macacão ou calça comprida; camisetas de mangas longas; tênis para proteger os pés; meias de futebol por sobre as barras da calça; caneleiras; câmaras de ar para caminhão tamanho 9X20 ou 10X20; ainda mais que indispensável capacete, e ter idade entre 15 e 50 anos.

Havia premiação e troféus para os cinco primeiros e certificado de participação para os demais competidores. A entrega do prêmio era feito pela Miss Boia-Cross em um evento realizado na mesma data, em evento realizado à noite em local apropriado na cidade de Iporanga. As inscrições eram feitas por correio ou na cidade na sede da IpoTur, encerrando-se em no máximo um dia útil antes do início do campeonato.Rio Betary, local da largada, no Petar, junto à Caverna de Santana.

O Matheus era orgulhoso do projeto e enfatizava em seus primeiros cartazes patrocinado pelo Expresso Princesa dos Campos S/A, que o esporte ACQUA-RAIDS era Sui-Generis . Os Aquanautas, (palavras criada pelo próprio Matheus) equilibrando-se em câmara de ar, deslizam velozmente pelas águas das corredeiras de Iporanga, numa invenção típica paulista, que para muito supera o SURF importado do HAWAÍ. Ainda segundo ele Iporanga era o paraíso do Acqua-Raids, idealizador e organizador dos eventos. No cartaz do quinto campeonato brasileiro de Acqua-Raids realizado em 1987, estava escrito em destaque junto ao título no cabeçario, em letras garrafais, a frase que ele gostava de repetir: " O único do gênero no Brasil e talvez no Mundo" .

Naquele ano, 02/02/1987 a classificação geral foi a seguinte:

Nome ....................................................................Tempo ................Premio ...................Procedência

1º - Alberto Carlos.......................Campeão.............45.......min. ...........Troféu .......................Iporanga
2º - José Tadeu dos Santos.........V.Campeão......... 51........ " ...................." .........................Iporanga
2º - Edson Mota Rodrigues..........V.Campeão .........51........." ...................." ..............................Serra
2º - Nilton Andrade................. ...V.Campeão ........ 51........." ...................." ..............................Serra3º - Agnaldo Jesus de Lima ...................................52,30...." ...................."...........................Iporanga
4º - Darcy Aguiar dos Santos ................................54,00...." ..............Medalha...........................Serra
5º - Irineu Ramos de Lima .....................................55,00... " ...................."............................Iporanga
6º - Edson Marcos de Lima ...................................56,00... " .............Certificado.....................Iporanga
7º - Geovan Luiz da Silva.. ....................................57,00... " .....................".............................. Serra
8º - John Kennedy.................................................57,00... " ....................."...............................Cotia
9º - Agbaldo Oliveira Monteiro.................................58,00... " ....................."............................. Serra10º-Marcelo dos Santos.........................................62,00... " ....................."............................. Serra
11º-Sidney Maciel da Silva.....................................64,30... " ....................."............................. Serra12º-Adalberto Ramos de Lima...................................................................."...........................Iporanga
13º-Sandro Marcos Lopes.........................................................................."...........................Iporanga

O destaque foi a linda Miss Acqua Raid's !987, Srta. Elaine Maluf, que veio da cidade de Venceslau Braz, estado do Paraná e deu um toque de beleza ao evento. O Alberto com mais esta vitória, além de ser o recordista da prova, também sagrou-se bi-campeão, por haver vencido no ano anterior. Depois do evento o Matheus viajou com os aquanautas e a miss para cidades do interior, divulgando e promovendo o novo esporte radical.

A cada ano que passava, as competições tornavam-se mais importantes e conhecidas, em outras regiões e atraiam mais competidores, além de conquistar o interesse dos praticantes de canoagem, filiados em entidades de outras localidades. Hoje existe campeonato de Boia-Cross disputados em localidades como Brotas ou outros mais badaladas, com competidores mais preparados e promovidos por organizadores mais estruturados em todo o país, porém eu acredito que o nome do vaidoso, Matheus Theodoro da Silva, o maior incentivador e idealizador nunca é lembrado.
O Matheus quando chegou em Iporanga nos anos 70, residiu primeiro na pensão da Dona Jovita, depois instalou-se por uns tempos na rua Carlos Nunes onde começou a esboçar a ideia da criação da IpoTur, empresa de turismo que ele pretendia desenvolver para divulgar , estimular e explorar o turismo na cidade. Depois instalou-se na rua Dom Lúcio, 91 na parte de baixo da quitanda do Antonio Pito, onde começou a comercializar revistas velhas e vender jornais; primeiro a Tribuna do Ribeira, depois a Folha de São Paulo. Mais tarde mudou-se para a Praça Honório Corrêa, onde permaneceu por um longo tempo e finalmente mudou-se para a casa que construiu no Alto do Coqueiro. Morou lá por muito tempo e nesse período correu atrás de políticos e empresários em busca de recursos e apoio para seus projetos. Promoveu sozinho várias competições do BóiaCross, modalidade esportiva, que atingiu seu ponto mais alto do sucesso, no final dos anos 80, quando Matheus começou a ter problemas de saúde, e sérias complicações renais, enfermidade esta, que finalizou as derradeiras páginas de uma vida, que fora dedicada à cidade que ele, assim como poucos, abraçou e amou de verdade neste mundo, preenchendo o espaço, que antes só foi ocupado pela própria mãe.

Em sua narração sobre o último capítulo vivido por Matheus Theodoro da Silva em Iporanga Flauzina Corrêa falou: Certo dia no inicio do 1990, ainda no mandato do prefeito Valfredo, apareceu na porta da sala da minha casa e eu mandei que entrasse, o Sr. Matheus, ele aparentava não estar bem de saúde. Tivemos uma conversa objetiva, na qual ele foi direto ao assunto, pediu-me que cedesse-lhe um pequeno cômodo de madeira que eu tinha ao lado do meu hotel, que era utilizado como dispensa, ou fora ocupado pelos pedreiros que trabalhavam na obra de ampliação da segunda laje do hotel, mas que naquele momento o cômodo estava vago.
Sr. Matheus argumentou que estava meio adoentado e gostaria de ficar naquele lugar para continuar seus trabalhos, sem ter que subir muitas vezes até sua casa no Alto do Coqueiro, evitando maior desgaste para sua saúde, já muito debilitada. Comentou que estivera em São Paulo no hospital Bandeirantes tratando de problemas renais, pelo que ele me disse passou por hemodiálise e teria que voltar sem falta para o hospital, ou morreria, mas afirmou que para lá não voltaria de jeito nenhum. Diante desta situação neguei o pedido do Matheus para ocupar o cômodo, alegando que ele estava muito doente e poderia morrer ali sozinho e alguém me culpar, disse também que lá era um barraco provisório e que por isso seria desmanchado, e que os pedreiros ainda alojados ali. O homem voltou para sua casa. Neste mesmo tempo vários recados em telefonemas ao posto de saúde, pedia o retorno do paciente imediatamente ao hospital, pois se demorasse um dia a mais era morte certa. A resposta foi não disse que não voltaria de jeito nenhum e não foi.

Tínhamos um grupo na Igreja Católica que se reunia na Igreja de São Benedito, que participava de um encontro denominado Circulo Bíblico, que era dirigido pelo padre mvd. Efraim, que tinha como objetivo estudar o evangelho e fazer alguma boa obra social na comunidade, na pauta da reunião daquela semana conversamos sobre o caso do Sr. Matheus e alguns de nós juntos saímos a sua procura para convencê-lo a voltar para São Paulo e ao hospital. Encontramos-o já internado na Santa Casa de Iporanga,em péssimas condições de saúde e conseguimos que ele mudasse de atitude.
Depois de muita conversa Matheus chorou e resolveu enfrentar a situação, conseguimos um veículo e ele foi transportado para São Paulo onde ficou internado dois dias e faleceu. O hospital ligou para Iporanga perguntado se buscariam o corpo, ou se fariam o sepultamento por lá mesmo. Informado do recado o prefeito Valfredo veio pessoalmente me perguntar o que faríamos: se traríamos o corpo ou não. Respondi com um certo pessimismo que fizemos tudo o que pudemos quando ele vivia e que talvez agora pouco importava enterra-lo aqui ou lá. O prefeito discordou dizendo que não podemos deixá-lo lá afinal ele amava muito esta cidade, fez tudo o que pode por ela, lutou muito pelo nosso turismo, pelas nossas tradições. O prefeito saiu dali e acertou com uma funerária para fazer o translado e providenciar o funeral. A guardação ocorreu no antigo velório da Santa Casa de Iporanga, com a presença de poucas pessoas. dos políticos e pessoas da comunidade, poucos estiveram presente no cortejo entre eles, Willy Nestlhener, Nego Cabeça Branca, Walter Claro, Edivaldo, Neusa do Gervásio e Dilma do Milão. Na porta do cemitério aguardavam o prefeito Valfredo, a Lucinha da D. Elvira, Inês Mendes e o coveiro João Castilha. Na hora de baixar o caixão na sepultura fizeram um breve discurso, o prefeito Valfredo e o Willy, que tropeçaram e quase caíram dentro da cova. A casa e a banca de jornal do Sr. Matheus ficaram fechados. Um anúncio, em forma de edital, foi colocado em um jornal, chamando algum parente seu para que reclamasse o espólio. No entanto trinta dias se passaram e ninguém apareceu.
Passado alguns dias encontrei entre alguns papeis deixados, em minha casa, por acaso, pelo Sr. Matheus, em uma das vezes que esteve lá, esquecido sobre alguns livros da estante, um número de telefone da cidade Cambui-Minas Gerais, com o nome de uma de suas tias. Liguei para a tal tia e passei as informações sobre o falecimento a casa o ponto comercial e outros pertences deixado pelo sobrinho. Ela confirmou ser parente muito distante do falecido, disse também que ele não tinha mais ninguém, mais nenhum parente. No entanto não demonstrou nenhum interesse na casa e nos demais bens deixados, disse que tinha sua casa e suas propriedades lá em Minas e que não viria para Iporanga resgatar a casa e nada, pois a distancia era muito grande e etc, e etc.
No mesmo dia houve uma reunião do Circulo Bíblico e apareceu naquele encontro uma mulher carente e desesperada dizia que o marido expulsou a de casa com os sete filhos pequenos, além disso ainda ameaçou-a de morte.Ela era filha do Dito Coisaruim canoeiro da Ribeira Acima, disse também que não tinha dinheiro para comer e não tinha onde dormir. Diante desta situação alguns membros daquela reunião, Eu , a Alvina com o Paulico, a Nice Konesuk e o Edivaldo resolvemos falar com o delegado sobre a hipótese de colocar aquela senhora aos menos provisoriamente na casa que era do Sr. Matheus.
Estabelecimento do Sr. Matheus na praça Honório Corrêa, 84, onde vendia os jornais: A Tribuna do Ribeira, A Folha de São Paulo e revistas diversas.


O delegado desaconselhou dizendo: -- Não! Isso é perigoso! Não façam isso é contra a lei. Saímos dali eu, a Alvina com o Paulico e o Edivaldo, entramos na casa, mudamos tudo o que estava ali para a casa da praça Honório Corrêa, onde funcionava a banca de jornais e revistas do Sr. Matheus, e ali ficou armazenado tudo por muito tempo.

Associados do Círculo Bíblico do padre Efraim na Igreja São Benedito nos anos 90. São as mulheres:Casemira, Ana do Janguinho, Antonia Pontes, Josefa, Elvira,Florentina, Maria do Dante, Ditinha, Isalina, Flauzina Corrêa, Maria Antonia, Alice do Sr. Paulo. Maria Chumba, Maria Marques, Lourdes do Juquica, Julia, Nha Marta, Margarida da rua da Palha, Nha Antonia mãe do Pão Doce, Glaucia, Bega, Samanta, Azenir, Donária. Os Homens: Padre Efraim, Zé Gustavo, Paulico, Zé Nuli, Dante, Rio Grande, Luis Antonio.
A casa do Alto do Coqueiro passou por uma reforma e a chave foi entregue para a Maria dos sete filhos, como era conhecida. A comunidade forneceu também os móveis, eletro-domésticos, etc., além de roupas e cobertas, para ela e as crianças. O prefeito Valfredo providenciou sextas básicas para ela até o dia que ela recebeu o primeiro salário de um emprego na Fazenda Gamboa conseguido pelo Círculo Bíblico.
Depois a prefeitura efetivou a posse para aquela família. Os filhos cresceram e a D. Maria foi trabalhar em São Paulo, onde conseguiu melhorar ainda mais sua vida. Outro dia a Alvina me chamou para contar-me que a Maria dos sete filhos, esteve em Iporanga muito importante dirigindo o próprio carro. Não é uma benção? Parabéns!Matheus Theodoro da Silva está sepultado no Cemitério Municipal de Iporanga, e mesmo tendo deixado seus poucos bens, esforços e dedicação para a cidade, para os esportes radicais como: a canoagem e o rafting; para o turismo; deixou também a própria casa para sucesso de uma família.
Depois de Matheus Theodoro, a procissão fluvial de N. S. do Livramento, no dia 31 de Dezembro, ficou mais enfeitada, com o brilho acrescentado pela participação dos jovens aquanautas e suas bóias.


Matheus não tem um túmulo, não tem um epitáfio e praticamente ninguém além do livro de registro dos túmulos dos mortos sabe onde é sua sepultura, e que também sobre o seu caixão já tem outro caixão "encavalado" (na linguagem de coveiro). Está aí, uma oportunidade para se fazer justiça e homenagem a um verdadeiro cidadão Iporanguense...Ainda que póstuma. Acorda Iporanga! Acorda Câmara Municipal! .