quarta-feira, 13 de julho de 2011



Algumas de nossas histórias mórbidas
Seguindo na mesma linha da postagem anterior, onde no finalzinho, comentei o passamento de D. Dadam, me surgiram na memória algumas lembranças e pensamentos relacionados a momentos semelhantes para as pessoas, talvez dos mais importantes na trajetória da vida, que é quando vem a "Dona Morte" com sua foice nas costas e passa a régua. Ela soma a conta para ver se nos sobra algum crédito, ou se vamos ser devorados pela diferença, entre o que se fez de bom, ou de ruim neste mundo. Pois sabemos que não ser ruins não basta, temos mesmo é que ser bons.

Por isso, insistimos dia a dia, na busca pela luz, e também por perdão e a graça de Deus. Caminho que alguns procuram, nem tanto pelo desejo de entrar no Paraíso, ou fazer parte do Reino de Deus, e sim muito mais para se livrar da escuridão, do castigo, do abismo, da morte da alma, que nos apavora mais, do que a morte do corpo, que a maioria acha que só está destinada aos outros. Muitos dizem não gostar de ir a hospital, de visita a doente, de ir a velório, de ver morto e ir a enterro, pensam que a morte é só para os velhos, os doentes, os vizinhos, os bandidos, os pecadores, etc.


Vídeo: A vida é muito curta...

Aliviando o rumo da prosa, podem continuar a leitura sem susto, pois será outra a linha de pensamento que conduzirá este texto. O comentário seguirá em frente sempre pelo caminho da simplicidade, relatando os acontecimentos, que sempre se associaram aos funerais, mas só no que se refere ao ser que se vai, e ao comportamento e preocupação dos que ficam.
Naquela sexta e sábado, enquanto participava do velório e funeral de D. Dadam, envolvido por aquele momento, quase sem perceber fiz algumas reflexões e me surgiu da memória algumas coisas, que se passam e se passaram com relação aos falecimentos. Entre elas os costumes e o nosso procedimento nestas ocasiões, através dos tempos, até o dia de hoje.
Atualmente tudo é diferente a maioria das pessoas, até a prefeitura, tem convênio com as novas funerárias, que disponibilizam meios modernos e urnas sofisticadas, como aquelas que vemos no cinema. Mas no funeral de D. Dadam, o povo que estava presente, fez questão de dispensar o veículo de transporte característico para cortejo, para sair desde a porta da casa, na rua Pedro Silva, com a urna nas mãos, no percurso a pé, contornando pela última vez em despedida, a matriz de Santana, enquanto o Juca Tomatinho, um dos últimos tocadores de sino da igreja, dava as badaladas no sino grande e no médio, de acordo com o modo estabelecido pelo padre Antonio da Graça Cristina. Meu avô Honório Corrêa, dizia que um dia, este padre Cristina, como era conhecido, durante uma celebração no cemitério velho, em um dia de finados, fez um sermão tão inspirado e comovente que todos choraram. Foi em 1900, que o padre padronizou o acompanhamento com os sinos para enterro de adultos. Existe também o toque de sino para crianças ou "anjinhos" ensinado pelo mesmo padre. Subindo o cortejo pela Pedro Silva, eu mesmo só consegui ajudar no transporte do esquife por noventa metros e logo apareceu uma mão para me substituir. Existem pessoas que até por tradição ou folclore, nunca ficaram ausentes nestas ocasiões. O velho Henrique Steininger era um destes casos. O velho alemão nunca saia de casa, mas quando falecia alguém ele preparava-se e lá estava ele. Presente o tempo todo. Eu acho que o Henriquinho herdou um pouco deste costume do velho, pois ele tem marcado bem com sua presença. No entanto, isso tudo que nós presenciamos é "fichinha" diante do que observamos em tempos de eleição. Nestas ocasiões, aparece candidatos a vereador e prefeito disposto a qualquer sacrifício, e neste caso o caixão ao invés de seis alças deveria ter vinte, tamanha a quantidade de mãos querendo segurar nelas. No cortejo da D. Dadam, tudo transcorreu normalmente, até o Antonio Rosa que segurava um litro de cinquenta e um, esteve comportado. Aliás ele ultimamente tem se comportado bem até na igreja, mas houve tempo, que nos velórios ele provocava queixas, por quando já estar bastante alcoolizado, falar alto palavras desconexas e até incompatíveis com o luto. Houve quem preferisse morrer só depois do Antonio, para não haver chance de imaginar o que poderia acontecer, se assim não fosse.
Os outros irmãos de D. Dadam já faleceram, exceto o Sr. Augusto que é o filho caçula do velho Alferes Euclides da Silva Pereira. Lamentei não ter visto e até conversado com o Sr. Augusto a quem eu não via a décadas e que esteve presente, mas ficou todo o tempo dentro de seu carro por trás dos tais vidros escuros, que estão atualmente muito em moda. O corpo de D. Dadam foi colocado em uma gaveta no mesmo tumulo que jazia sua irmã Maria, que morreu ainda jovem.
Cheguei a conclusão, que funeral feito em gaveta não é tão dramático para a família, assim como eram aqueles em que o caixão é descido até a sepultura e os parentes e pessoas presentes atiram punhados de terras e flores sobre a tampa do caixão produzindo um som macabro e angustiante para os familiares. Tem ainda a forma chique e mais moderno, que é a cremação do corpo, procedimento que eu acho, que vai na contramão do comportamento ecologicamente correto, pois não contribui para a proteção do planeta, onde nos é recomendado evitar qualquer queima, para não emitir fumaça, nem gazes para a atmosfera. Isso sem falar que o ato também pode destruir material orgânico e combustível de fonte esgotável.
Antigamente, após a extrema-unção era colocada uma vela nas mãos do moribundo, depois de confirmado o óbito. Também era hábito lavar os defuntos, para isso havia na Igreja de Santana uma bacia muito grande, com quase dois metros de diâmetros para essa tarefa. Um dia meu tio Jeremias e o Crismâncio muito amigos foram para uma gardação em um bairro na estrada do ribeirão, e como não poderia deixar de ser, tomaram umas e outras, a mais e necessitaram em determinado momento sair para urinar, do lado de fora da cabana, mas não viram o bacião da igreja, ainda cheio de água, onde fora lavado o defunto. Tropeçaram na borda da bacião e caíram dentro da água suja . Aí lembraram que o falecido tinha uma doença contagiosa, então os dois levantaram-se apavorados e saíram numa correria pelo caminho até chegar no rio, onde jogaram-se com roupa e tudo, para se enxaguar daquela lavagem do cadáver. Quando caiu a torre da matriz em 1983 o tal bacião ficou destruído pelos escombros e com o final dele, quase acabou também a tradição do banho nos mortos.
Os caixões eram feitos por um, ou outro voluntário da comunidade, que tivesse alguma aptidão na arte da carpintaria. Como a morte geralmente não mandava recado, quando ela acontecia, pegava sempre o infeliz e os parentes desprevenidos. Antigamente não havia motosserra. Também não era possível serrar tábua de guaricica manualmente a toque de caixa. Por essa razão, geralmente utilizava-se uma ou outra porta interna da residência, para fabricar um ataude.

Quando criança eu gostava de ver o Sr. Manduca, fabricar um destes “envelopes”, com guaricica. Ele dizia que a madeira era mole e apodrecia mais rapidamente. As tábuas eram divididas em sarrafos para montar uma gaiola ou uma espécie de engradado, nas medidas para o caixão. Depois toda a armação pronta, ela era forrada por fora com pano de luisina preta e a parte interna era revestida com tecido de algodãozinho branco. Para complementar a parte externa era decorada com galões dourado formando cruz e contornando o volume, tudo fixado com tachinhas. A tampa era uma peça separada utilizando os mesmos procedimentos. Os maiores destas embalagens fabricadas foram a do Guilherme Gaúcho,pois tratava-se de um homem muito alto e encorpado, que por causa do seu peso andava só a cavalo. Por isso ela tinha um único animal que suportava o peso daquele cavaleiro. Um dia alguém amarrou um cavalo muito forte e bonito no armazém do Antonio Rodrigues, onde o Guilherme conversava com o comerciante. Não demorou e o Gauchão já estava acertando a compra da montaria, montou no animal, que continuou firme em pé, provocando a exclamação no cavaleiro: O bicho é forte! Tchê!!, mas quando ele encostou a espora que o animal tirou uma das patas do chão, as outras três não suportaram e lá se foram os dois para o chão. O gaúcho foi o primeiro em Iporanga, a ter seu caixão levado de carro para o cemitério. Outro caso foi do Bento Chato, irmão de D. Eulália, cunhado e caixeiro do Sr. Fequinho Descio, enquanto o velho simpático e requintado, estava esticando o suspensório e politicando na praça. O Bento faleceu acometido de uma intoxicação alimentar, ele abusava um pouco do apetite. Ele era de família de Xiririca, para onde seria enviado o corpo, ele era encorpado, meio obeso, por isso seu caixão era muito grande e largo, para fazer o transporte, que na época era pelo rio Ribeira, foi necessário utilizar o canoão do Sr. Ismael, mesmo assim o ataude teve que seguir inclinado a quarenta e cinco graus na embarcação.
A maioria das pessoas eram sepultadas na terra fria, isto é: simplesmente envolvidas por um lençol branco e vestidas com uma mortalha. Até por opção, alguns pediam, ainda em vida, para ser enterrados sem caixão, caso dos meus bisavós paternos e maternos sepultados no cemitério velho da esquina da rua da Saudade com avenida Iporanga. A mortalha era uma roupa especial e muito simples, em tecido de luisina, confeccionado por uma costureira. Eu me lembro, que havia um irmão da minha avó Eugênia, o tio Antonio Henrique, ele e tia Adelaide diziam antes de morrer, já na terceira idade, que tinham pronto e guardados na casa onde moravam, os caixões, as mortalhas e lenços para amarrar o queixo, para o caso de a boca não ficar bem fechada. As vezes eles experimentavam todo este paramento para conferir se estava tudo na mais perfeita ordem para o evento. Um parente nosso de nome José Povo, trabalhava de coveiro em Apiaí e costumava deixar sempre meia duzia de sepulturas abertas aguardando seus ocupantes. Um dia ele pisou em um pedaço de tábua podre de restos de caixão e nela havia um prego enferrujado que lhe feriu o pé. O ferimento arruinou, piorou...piorou e levou-o por uma linha reta para uma daquelas covas que ele mesmo cavou. Havia em Iporanga o Sr. Henrique Honório, que era muito “papudo” (gostava muito de contar vantagem, “gargantear”) ia além; dizia que deixaria quatro homens pagos para carregar seu caixão, que era para não depender de favor de fdp nenhum.
Em todo cortejo seguia uma cruz de madeira feita pelo mesmo voluntário que fabricou o caixão. Na cruz ia escrito, geralmente mau escrito, isto até hoje, o nome, a data inicial e final da vida do sujeito. Geralmente uma criança carregava a cruz seguindo bem à frente dos acompanhantes. Essa peça de madeira rapidamente apodrece, cai, embaralha na terra do cemitério e desaparece. Com ela some também qualquer vestígio ou referencia do individuo ali sepultado, isto aconteceu no caso do Sr. Celso Descio, prefeito três vezes de Iporanga e neto do ilustre Dom Raphael Descio. Conforme comentou comigo o Oswaldinho, talvez hoje ninguém mais saiba em que local do cemitério municipal o Sr. Celso foi sepultado.
Depois que eu já havia começado a escrever esta postagem, faleceu o Sr. EssaNão (Antonio Andálio), que havia se convertido para uma igreja crente a poucos dias( as más línguas deixaram transparecer em tom de brincadeira que ele acelerou seu óbito, por que encheu o pulmão de água durante o mergulho na piscina batismal). Porém se não foi á conversão, pelo menos conseguiu solidaridade dos irmãos crentes para engrossar o volume do cortejo, embora sem sinos, sem velas, sem volta na igreja e sem a cruz. Um segundo batismo muda a pessoa para uma outra religião diferente da anterior, portanto também o nome do primeiro batismo deveria mudar para um novo nome. Assim o EssaNão poderia mudar o nome Audálio, para outro diferente. Eu não sei se nome influi, mas é bom observar que o nosso ex-coveiro que sobreviveu a dois atentados distintos, onde foi atingido por facadas profundas no peito e sobreviveu. Sabe como ele se chama? Jesus!... Este é o nome...
O EssaNão, chegou em Iporanga no início dos anos 50, tem uma história de grandes empreendimento na exploração de madeira e mármore, quando chegou sua esposa estava prestes a das a luz a uma de suas filhas, o parto ficou complicado e foi necessário chamar o Dr. Farracha, que fez a primeira cesariana em Iporanga, e sem anestesia, a frio e com muitos gritos da paciente. A filha nasceu sadia e tudo ficou bém. EssaNão, morreu sem esposa, sem filhos, sem família, sem dinheiro, vivendo somente da aposentadoria de idoso, mas acreditava em Deus. Por isso em seus últimos dias pode contar com o máximo cuidado e caridade, de uma irmã de sua nova igreja. Quando eu era jovem joguei no time de futebol do EssaNão de "arfo-direito", e treinei box na academia dele, que era junto das escadas do porto. Eu e meu falecido primo Luiz Grilo. Antes de fecharem o caixão pela última vez de um verdadeiro iporanguense, apesar de ter nascido na Bahia, uma criança falou: o nariz dele está meio torto! Então eu corrigi: não! é assim mesmo ele lutou box, e dizia que não tinha cartilagens nasal.



Quando saíamos do cemitério e tocávamos para fora um dos cavalos, que ali pastavam e faziam suas necessidades, perguntei ao Henriquinho sobre a sepultura do Sr. Celso Descio, ele disse-me: eu sei onde está. E mostrou-me uma catacumba bem feita e sem nomes, com um anjo daqueles de mármore, que tinha na tumba do coronel Descio, no cemitério velho.

Cavalo entre as catacumbas, no cemitério municipal.






O cemitério velho no cruzamento da rua da Saudade com avenida Iporanga, não existe atualmente, por que ele foi removido para dar lugar ao posto de saúde, que está no local hoje. O desenho feito com caneta hidrocor, mostra o abandono, já nos anos 50. A imagem é a que está gravada no álbum da minha memória, do tempo que entrei para o grupo escolar.

Iporanga teve em sua história a partir do ano de 1800 , quando a vila mudou para a margem do Ribeira três cemitérios que foram: O primeiro que foi utilizado até 1840, era ao redor da igreja matriz de onde nenhum osso foi removido. Ali está sepultado o corpo do meu tataravô, Salvador Henriques, falecido no ano de 1864, quando o cemitério velho da rua da saudade já existia a mais de 20 anos. Salvador Henriques só foi sepultado ali por acordo com o padre Antonio da Silva Pereira, irmão do Pedro Silva, pois a causa do morte do meu antepassado foi a febre amarela. O desconhecimento da moléstia, causou pavor na população que se recusou de fazer o sepultamento no cemitério e manusear o corpo do velho senhor, que foi arrastado por um cavalo puxando uma padiola por corda até terminar sendo enterrado no velho cemitério do adro da igreja matriz, isto tudo, após uma forte pressão da família, com a justificativa no documento do óbito de falta de lugar no cemitério em uso. O cemitério da rua da saudade com avenida Iporanga foi construído em 1840, após portaria do governo da capitania obrigando todas as vilas a construírem cemitério separado da igreja para evitar as cerimonias funerais realizadas por escravos no interior da igreja até tarde da noite causando temor no senhorio. O atual cemitério foi construído em 1938 comandado pelo Sr. Juquinha de Andrade que chefiou a equipe na construção. O Sr. João Manoel de Oliveira, me disse que no início da obra várias pessoas da comunidade que estavam presente escreveram os nomes sobre uma folha de papel colocaram em uma garrafa e enterram junto da pedra fundamental. O atual cemitério passou por duas ampliações a última ocorreu no mandato do prefeito Walfredo, ocasião em que foi derrubado uma enorme árvore de guaraqui que dava para fazer uma canoa. Atualmente fala-se em construir o quarto cemitério da nossa história recente, este último seria ecológico. Embaixo do altar mor da matriz está sepultado o padre Bernardo de Moura Prado e sob o altar mor da igreja de Santana na antiga vila do arraial de Iporanga está sepultado o padre português, Dr. José Martins Tinoco.

O cemitério velho da rua da Saudade com a avenida Iporanga já não existe mais pois o prefeito Konesuk contratou trabalhadores para removê-lo para construir no local o posto de saúde alegando falta de terreno em Iporanga, ou talvez para não restaurar e se livrar da tapera da velha acrópole.

Naquela época começo dos anos 60, o prefeito empreitou com o Sr. Joaquim Romão, um negão forte, muito boa gente e divertido, que agora já é falecido e junto com ele também uma outra pessoa, que ainda está viva e forte, com mais de 80 anos. A empreita por oito contos, consistia na abertura de 20 covas e a remoção dos ossos para serem transferidos para o cemitério de cima.
Depois de exumados os túmulos as lápides de mármore antigas algumas ainda importadas da Itália, elas foram encaixotadas e abandonadas no terreno atrás da igreja de São Benedito e algumas peças foram transportadas para o cemitério municipal. A mármore do Coronel Descio eu encontrei quebrada em duas sobre a tumba do Comerciante Domingos Vitor de Souza no cemitério municipal, onde ainda permanece. No cemitério antigo, que eu visitava nos tempos da escola eu me lembro que me chamava muito atenção ás datas muito antigas dos séculos já passados. Existiam catacumbas bem feitas estátuas de mármores, anjos, peças de serralheria, etc., isto tudo apesar do abandono em que o local se encontrava desde os tempos do prefeito Celso Descio, ainda fazia alguma manutenção. Depois disto, dentro daquele local pastavam cavalos e cabras. Um dia a noite aceitei um desafio dos meus colegas de escola de entrar no tal cemitério depois que apagassem a luz da cidade que era mantida por um gerador diesel até as 21:30 horas. Apagaram-se as luzes e eu segui para o local e quando passei o portão no meio da escuridão, pois o luar estava um pouco encoberto, vi uns vultos brancos saltarem sobre um daqueles túmulos. Pensei não há dúvidas são fantasmas, arrepiei os cabelos, contive o grito e virei para trás a toda velocidade. Depois refleti um pouco mais e fui voltando aos poucos para averiguar os fantasmas e verifiquei que os vultos brancos eram os cabritos do Celso Descio que estavam dormindo sobre a tumba e assustaram-se com a minha chegada.

No dia em que o Joaquim Romão e o seu colega começaram a cavar as covas para retirada dos ossos, que seriam transladados para o cemitério municipal, eu estava naquele local, juntamente com outros curiosos da cidade, mas o que mais chamava a atenção, era a presença de alguns componentes de uma família, de um grande comerciante, cuja primeira esposa estava enterrada, a muitos anos naquele local, junto com o corpo havia sido sepultado, uma peça preciosa, não sei dizer se era uma dentadura, ou uma coroa de ouro. Por isso enquanto os homens chegaram na tal sepultura, para cavar e retirar os ossos, ali depositados, os familiares presentes disputavam o espaço em redor da cova, ombro a ombro, a ponto de os movimentos das ferramentas dos trabalhadores, passarem próximo de suas cabeças. Eles tinham os olhos arregalados no buraco, para não correrem o risco de serem enganados, entre si, ou pelos homens que faziam a escavação. Durante a tal escavação a peça não apareceu para desapontamento dos familiares, passado algum tempo soube de um daqueles dois homens(não o Joaquim), que quando ele estava cavando, atento e também cobiçando o objeto, em determinado momento percebeu sob a terra que seus pés descalços tocou em algo que ele desconfiou ser a tal preciosidade, não teve dúvida, manteve o objeto debaixo da sola do pé e puxou-o para trás com o pé mantendo-o preso ali entre a sola e os artelhos, mas continuou cavando para disfarçar os espectadores e em determinado momento fez um movimento errado proposital no pá que jogava a terra para cima, na beira da sepultura, arremessando terra espalhada na altura do peito daqueles curiosos e enquanto eles deram dois passos para trás, até por instinto de protegerem-se, o homem abaixou-se rapidamente, numa fração de segundo apanhou a peça e meteu-a no bolso. Passado algum tempo chegou na cidade um comprador de ouro para negociar com garimpeiros que bateiavam na região, foi a chance para o garimpeiro de sepultura trocar o objeto de ouro, por uns cobres, naquela época um bom dinheiro, mais de vinte contos.


Partilhando, do meu amigo Facebook, José Neumanne, em homenagem ao seu pai, que já morreu e ao meu, que também já se foi. - Diogo Nogueira cantando Além do espelho, de seu pai, João Nogueira, e PC Pinheiro.