sábado, 29 de março de 2014

Nascimento ao lado Benjamim dos Santos e um engenheiro japonês.
Quem foi Nascimento  Sátiro da Silva?

Homem de média estatura e um coração muito grande, amou Iporanga e seus habitantes, Nascimento veio da cidade de Santos, onde nasceu no Morro do Mathias, no dia 05 de dezembro de 1905, costumava dizer que nasceu e foi criado em um estábulo, não conheço toda a história, mas sei que Jesus nasceu em um estábulo.
 

Saindo de Santos veio para a cidade de Xiririca, (Eldorado Paulista) com parentes, e de lá seguiu até Iporanga, aos 15 anos de idade. Nascimento, sempre foi uma pessoa pronta para favorecer, ou ajudar qualquer pessoa sem nunca medir esforços. Em 1921, com 16 anos atendendo um pedido de meu avô Honório Corrêa, foi a Santos, via navegação fluval no Ribeira, Júquia e de lá de trem até Santos, de onde trouxe sob encomenda um terno de casimira inglesa na cor azul marinho, para meu avô vestir quando casou-se com minha avó Eugênia em 1922. 

Nos anos seguintes descobriu vocação para a política, quando aliou-se à política dos família Santos, nas figuras de Pedro Caetano dos Santos e Benjamim dos Santos Lisboa. Não era um político militante, porém era um grande articulador de bastidores, além de sua habilidade no setor contábil da gestão pública. Em 1936 casou-se com a Nenê (foto menor ao lado do coreto octogonal na praça da matriz), numa relação pouco duradoura devido ao comportamento pouco recomendado da mulher envolvida com amizades inclinadas à diversão desmedida e ao alcoolismo.
Nascimento e a Nenê  em 1936 no coreto.
Depois relacionou-se com a Maria filha do prefeito Florêncio Pedroso com quem conviveu, por pouco tempo, até o falecimento desta. Participou da administração pública municipal em 1938 ajudando Benjamim dos Santos (Foto maior entre Nascimento e um engenheiro japonês) Em 1945 conheceu Dona Jovita, ele trabalhava na prefeitura, pois sempre acompanhou a política da família Santos, em 1946 com a derrota dos Santos para os Descio, quando Celso Descio foi eleito, ficou desempregado. 


Em 1947 já havia adotado a Cida Polaca, que era filha do Pedro Polaco. A Cida havia perdido a mãe, ela ficou órfã aos três meses de idade. Com a falta de emprego em Iporanga e a política desfavorável, partiu com a esposa Jovita, a Cida no colo para Santos onde se alojou na casa de parentes no Morro Mathias e arrumou emprego na cidade onde trabalhou por dois anos, nesta ocasião visitava sempre com Dona Jovita e a minha mãe que estudava no Colégio interno das freiras. Voltou para Iporanga e com a saída do Celso Descio retornou à prefeitura no mandato do Chico Cardoso, onde sempre cuidou da contabilidade e secretariou o prefeito, paralelamente com a ajuda da Dona Jovita manteve funcionando a hospedaria onde morava e alugava camas para os viajantes, professores e soldados do destacamento. Pessoa muito caridosa, sua casa era a casa de todos. 

Dona Jovita me contou um dia, que ambos chegaram de São Paulo no trem da Sorocabana e desembarcaram em Itapeva, restava-lhes só o dinheiro da passagem para acabar de chegar a Iporanga, quando foram abordados por um homem com uma criança que pedia algum dinheiro para comprar comida para a criança que não se alimentava a bastante tempo, Nascimento, ficou comovido, enfiou a mão no bolso e deu o último dinheiro para aquele necessitado. Depois que o homem saiu Dona Jovita questionou e agora como faremos para continuar a viagem? Neste instante o céu escureceu e começou a soprar um vento forte e carregado de poeira, quase não se via nada. De repente Nascimento viu nos seus pés uma bola de folha secas e papéis e no meio um nota de valor alto, que conferiu e guardou. Foi o suficiente para completar a viagem e ainda sobrou alguma coisa. 

Nascimento, homem religioso, muito boa pessoa, frequentava a igreja, a Irmandade dos Vicentinos e colaborava nas festas. Tocou clarinete na Banda Lira Iporanguense por muitos anos. Gostava de jogar cartas com os amigos entre eles: Nho Atto dos Santos, Isotico, José Nunes, José Feio, o alemão Wendell e outros, jogavam principalmente Sota um jogo muito antigo, o preferido em Iporanga e também Canastra. Na pensão do Nascimento como diziam as pessoas entravam tomavam café e até comiam sem consultar os donos. Ajudou a criar e amparar muitas pessoas que precisavam de apoio, para estudar e seguir a vida. Vi pessoas como o Sr. Antonio dentista viver ali como agregado, até o último suspiro no leito da morte. Foi sempre um pai para os professores, umas das razões pela qual a E. E. Nascimento, leva o seu nome como homenagem póstuma.
 

Nascimento esteve na prefeitura até 1963, na administração do professor Aníbal Ferreira de Souza, candidato do Santos. Neste ano lançou candidatura para prefeito de Iporanga, mas teve pela frente dois candidatos bastante fortes, um deles era o Sr. Jeremias de Oliveira Franco, que contava com uma ótima condição financeira e trabalhava promovendo festas e costurando parcerias a bastante tempo e o Sr. João Alves Cavalcanti que tinha forte apoio do governador Adhemar de Barros. Além disto ele não fora correspondido pela maior parte daqueles eleitores a quem ele muito ajudou e o traíram nas urnas. O resultado do pleito mostrou o Jeremias em primeiro com pouca diferença do segundo o Cavalcanti e Nascimento ocupando o terceiro lugar. No entanto o Cavalcanti valendo-se de sua influência anulou a eleição e uma nova foi marcada. Nesta segunda votação Nascimento resolveu apoiar o Cavalcanti, no entanto mesmo assim sofreram nova derrota. A partir daí Nascimento deixou a prefeitura onde era contador, no ano de 1964, tempo da revolução dos militares em 31 de março. 

No ano seguinte foi trabalhar na prefeitura de Barra do Turvo, onde o Cavalcanti com sua influência acelerou o processo de emancipação política e se elegeu prefeito. Nesta ocasião além dos agregados que conviviam com eles, e da Cida, eles também criavam o garoto Totó, deficiente auditivo, e o bebê Vera, sobrinha de Dona Jovita, a Vera perdeu a mãe durante  o parto. Neste meio de tempo, Nascimento teve que ficar longe da esposa que trabalhou em uma escola estadual em São Paulo algum tempo. Já com a idade avançada e com problemas de saúde, Nascimento deixou Barra do Turvo e voltou para Iporanga, passar o restante de seus dias.
 

Sr. Nascimento Sátiro da Silva. Era muito religioso, partiria desta vida, numa sexta feira, como profetiza a devoção de que todo aquele que cumpre a novena das nove sexta feiras, teria sempre a sexta feira como seu último dia. Como ocorreu com Dona Jovita. Porém, Sr. Nascimento no leito de morte teve um sonho de que uma mulher vestida de branco, segundo ele, talvez fosse Nossa Senhora, disse-lhe que embora tivesse feito a novena, ele partiria no sábado, por que era o dia do Senhor. E foi o que aconteceu, Nascimento faleceu em um sábado 05-07-1981.
 
Foto em Itaóca, 29 de dezembro de 1974, Nascimento entre José Eliseu e João Nunes, além do Benjamim dos Santos.