O Sr. Juvenal Sayon – Sr. Presidente e Srs. Deputados. O caso de Iporanga é por demais complexo e sintomático para que a nossa indicação seja apenasmente submetida para a aprovação desta ilustre Assembléia. Assim, tomamos a liberdade de fazer uma exposição das graves ocorrências que vem se sucedendo naquela pequena cidade do interior do nosso Estado, não só a fim de que a opinião pública tome conhecimento de certos detalhes, por todos os títulos condenáveis, como também para que as dignas autoridades do Estado não retardem por um momento sequer as providências que se impõem de caráter imediato e enérgico.
No último pleito em Iporanga concorreram dois grupos disputando os cargos de vereadores da Câmara Municipal local. No primeiro escrutínio elegeu o partido situacionista a Mesa com sete vereadores obtendo a oposição seis votos. Houve por bem o Meritíssimo Juiz da Comarca determinar que se procedesse um segundo escrutínio, uma vez que não tinha ocorrido no primeiro a maioria absoluta de votos.
Deputado Pinheiro Junior
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Está equivocado, porque no primeiro escrutínio o Partido Social Progressista teve maioria de votos, tanto que o Tribunal depois confirmou.
O Sr. Juvenal Sayon – É exatamente o que acabei de dizer, que o Partido da situação, quando digo Partido da situação refiro-me ao Partido Social Progressista, teve maioria e determinou o Meritíssimo Juiz da Comarca, que se procedesse um segundo escrutínio. Do segundo escrutínio resultou sair vitoriosa a oposição.
O Sr. Pinheiro Junior – Não foi o Meritíssimo Juiz que autorizou. Foi o Tribunal que deu provimento ao recurso impetrado pelo meu partido.
O Sr. Porfirio das Paz – Parece-me que houve um engano.
O Sr. Juvenal Sayon – Peço permissão para prosseguir.
Parece-me que ainda estou coma razão, em todo caso, do segundo escrutínio resultou sair vitoriosa a oposição, com 7 votos. Peço perdão: é com relação a constituição da Mesa que houve essa dúvida e a necessidade do segundo escrutinio.
No segundo escrutínio, a oposição constituiu a Mesa com 7 votos, ao passo que o partido situacionista teve 5, ocorrendo um voto em branco. Houve recurso para o Tribunal Eleitoral e o Tribunal reformou o despacho de primeira instancia, mandando que prevalecesse o resultado do primeiro escrutinio.
O Sr. Pinheiro Junior – Justamente isso que queria explicar a V. Excia.
O Sr. Silvio Pereira – Tive a honra de. No Tribunal Regional Eleitoral, defender o ponto de vista da oposição, que infelizmente foi derrotada por decisão desse tribunal.
O Sr. Juvenal Sayon – Muito grato, contudo não estou fazendo critica ao Tribunal Eleitora. Apenas para ser fiel, estou fazendo um relato do caso de Iporanga, desde o inicio e os fatos por mim fixados são de caráter muito mais graves e outros que não esses da simples constituição da mesa.
Sr. Presidente – As coisas estavam nessa situação, quando um dos vereadores, por motivos pessoais, e porque entendesse que a oposição consultaria melhor os interesses do município, passou a votar com o grupo oposicionista, pendendo, assim, para esse grupo a maioria dos vereadores da Câmara Municipal de Iporanga. Nessa ocasião, o Presidente da Câmara entendeu de fazer uma visita ao vereador que tinha passado a votar com a oposição, que é o vereador de nome Quintino João Gonçalves de Andrade, velho morador de Iporanga e comerciante naquela cidade, em companhia de um cidadão reconhecidamente a serviço do grupo situacionista, e conhecido como capanga naquela localidade. Esse cidadão é de nome Antonio Albuberque e de Alcunha Antonio Evaristo.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Me permite um aparte? Declarou V. Excia. Que esse cidadão é conhecido como capanga, mas eu gostaria de saber de quem?
O Sr. Juvenal Sayon – É capanga do Presidente da Câmara Municipal daquela localidade. De modo que o Sr. Quintino, depois de ter sofrido uma pressão enorme, depois de inúmeras ameaças de violências, acabou sendo convidado, convite esse que redundou numa verdadeira ameaça dentro da sua própria residencia, porque para lá se transportou o Presidente da Câmara, em companhia, como já afirmei, de um capanga.
O Sr. Pinheiro Junior – Permite V. Excia. Mais um aparte? Conheço de perto o caráter e a dignidade do Presidente da Câmara Municipal de Iporanga, que é o Sr. Almerindo Betim,
ex-funcionário do Departamento do Trabalho, rapaz calmo, pacato e pacifico. E não acredito –V. Excia vai permitir-me que assim o diga – que ele tenha um capanga.
O Sr. Juvenal Sayon – Entretanto, em que pese a autoridade moral de V. Excia. E o respeito que me merece, vou prosseguir no meu relato, pedindo permissão para divergir de sua respeitável opinião uma vez que, procurado por uma numerosa comissão de cidadãos de Iporanga, a versão que trouxeram a meu conhecimento foi de tal forma e com tal serenidade exposta, que não deixou a menor dúvida a respeito.
O Sr. Pinheiro Junior – Creio plenamente na sinceridade de V. Excia., mas talvez a fonte em que V. Excia. Foi colher essas informações não seja uma fonte leal, uma fonte sincera.
O Sr. Juvenal Sayon – Peço permissão para dizer ao nobre colega que a fonte continua a me merecer inteira confiança.
E, assim, foram expostos os fatos, os graves acontecimentos que vem se desenrolando na cidade de Iporanga. De inicio o Sr. Quintino, cansado da pressão que vinham os membros do partido situacionista exercendo contra o mesmo, recebendo mesmo constantemente convites, e com tal insistência que redundava em verdadeira ameaça, para que se licenciasse do cargo de Vereador provisoriamente – o que resolveu fazer. Assim, o Sr. Quintino João Gonçalves de Andrade, o vereador ameaçado recebeu uma licença pelo prazo de 90 dias.
No dia seguinte, á apresentação de seu requerimento, Sr. Presidente – e ai começam a surgir os fatos que taxamos de graves, de gravíssimos, – antes da Hora Regimental, o Sr. Presidente abriu a sessão da Câmara Municipal de Iporanga. Alegando renuncia da parte do vereador Quintino, dá posse a seu suplente o qual, incontinente, se dirige á tribuna da Câmara e passa a discursar.
Nessa hora chegam os demais vereadores da oposição e se protestam contra o que vinha ocorrendo no recinto da Câmara.
Não reconheciam no suplente a qualidade de Vereador e contestavam portanto, seu direito de fazer uso da tribuna. O Sr. Presidente confirmou então que o Sr. Quintino havia renunciado ao cargo, no que foi contestado pelo próprio Sr. Quintino e por mais seis Vereadores. Portanto, não era verdade que o Sr. Quintino houvesse renunciado. Insistiram então que o Sr. Presidente da Câmara exibisse documento da renuncia do Sr. Quintino ao cargo de Vereador. O Sr. Presidente, respondeu então á maioria da Câmara Municipal que era, como Presidente, soberano e não tinha que dar satisfações a quem quer que fosse, que o Vereador Quintino tinha renunciado, que não exibiria o documento e que não o leria ao plenário, mas que considerava o fato como consumo.
É evidente, Sr. Presidente, que tal fato justificasse os mais veementes protestos por parte da maioria da Câmara Municipal lá presente. O próprio Sr. Quintino desmentiu que houvesse renunciado ao cargo, protestou veemente alegando que a própria licença que havia solicitado, a havia retirado porque não mais pretendia licenciar-se desde que o plenário não tinha tomado conhecimento de seu requerimento.
O Sr. Waldy Rodrigues – Poderia V. Excia. Dizer a que partido pertence o Vereador Quintino?
O Sr. Juvenal Sayon – Ao que me parece o Sr. Quintino pertence ao grupo situacionista.
Nessa altura exigiram os vereadores, aliás em maioria, que fosse respeitado o art. 29.o da Lei Orgânica dos Municípios, que assim reza: ''As vagas nas Câmaras Municipais dar-se-ão tão somente por falecimento, renuncia expressa, ou perda de mandato, cabendo á Câmara declará-la. Por proposta de qualquer vereador.
Parágrafo Único – A renuncia expressa de vereador far-se-á por oficio autenticado, e dirigido á Câmara, reputando-se aberta a vaga, independentemente de aceitação expressa, desde que o oficio seja lido em sessão e lançado na respectiva ata''.
Senhores, não tinham sido cumpridos os dispositivos do art. 29.o e parágrafo único da Lei Orgânica dos Municípios, por mais que houvesse protesto, nem ao menos o Sr. Presidente, como satisfação á Casa leu o pseudo requerimento de renuncia, o que justificou que a sessão fosse, com justos motivos, tumultuada. Nessa altura, o Presidente levantou, para encerrar em seguida, a sessão e o cidadão que V. Excia., nobre deputado Pinheiro Junior, acaba de dizer que é de uma serenidade absoluta, homem pacato, sereno. Sacou de um revólver, calibre 38 e investe contra os seus adversários e aponta em direção ao peito de um dos vereadores presentes...
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Dá licença para um aparte?
O Sr. Juvenal Sayon – … Que era o vereador Djalma Décio, a quem deu ordem de prisão.
O Sr. Pinheiro Junior – Recebi um telegrama do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Iporanga, vazado nos seguintes termos e V. Excia. Vai permitir que eu o leia, para esclarecer: ''Em vista das graves ocorrências verificadas na sessão de ontem, tendo-se verificado atentado contra a Mesa da Câmara, criando-se assim uma situação de desassossego á população, em virtude de dois vereadores adversários tumultuarem a sessão, não podendo a mesma realizar-se, a Mesa da Câmara Municipal de Iporanga solicita a vinda urgente de um delegado de Ordem Politica e Social, a fim de instaurar o competente inquérito, garantindo o legislativo municipal''.
Verifica V. Excia. Que o Presidente da Câmara foi vitima de um atentado. Não foi ele que atentou.
O Sr. Juvenal Sayon – Grato a V. Excia. De que data é esse telegrama?
O Sr. Pinheiro Junior – É de 30 do mês de março.
O Sr. Juvenal Sayon – Os fatos se passaram há dias.
O Sr. Pinheiro Junior – Há meses? Está ai o telegrama, pode ficar com ele se quiser.
A história não está bem contada.
O Sr. Juvenal Sayon – Os fatos se desenrolaram muito antes da data desse telegrama...
O Sr. Pinheiro Junior – Mas recebi esse telegrama...
O Sr. Juvenal Sayon – Muito bem...
O Sr. Pinheiro Junior – ...datado de março.
O Sr. Juvenal Sayon – De março?
O Sr. Pinheiro Junior – E devo declarar a V. Excia. Que procurei incontinente o Sr. Secretário da Segurança solicitando providencias de V. Excia., que mandou no mesmo dia o delegado regional de Itapetininga a Iporanga, afim de verificar o que estava de fato ocorrendo naquela localidade.
O Sr. Juvenal Sayon – Quanto a questão da data direi oportunamente a V. Excia.
Contudo o texto do próprio telegrama não altera em nada a exposição dos fatos que vem fazendo.
Realmente, houve um atrito. E eu exponho aqui o ponto de vista de um dos grupos. Houve tumulto, mas quem provocou o tumulto foi o próprio Presidente da Câmara.
Pode parecer fantasia, pode parecer mesmo... aliás até parece comédia aquilo que se desenrolou dentro do recinto da Câmara Municipal de Iporanga, mas por responsabilidade exclusiva do Sr. Presidente: Primeiro, abriu a sessão, para assunto de tamanha gravidade, antes da hora Regimental., segundo, antes mesmo da hora Regimental, dava posse ao substituto de um vereador que não havia sequer renunciado, alegando que o mesmo havia apresentado pedido de renuncia, o que nos autoriza a concluir que o pedido de renuncia era inexistente, pois simplesmente alegado, porque nem sequer foi transcrito no livro de Ata., não foi exibido e não foi lido no plenário. De maneira que foram essas arbitrariedades, essas violências, esses datos criminosos que justificaram o tumulto no recinto da Câmara Municipal de Iporanga.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Dá licença para outro aparte? ( A sentimento do orador )
– Quero declarar a V. Excia. que devemos dar crédito a esse telegrama, porquanto está assinado pelo Presidente da Câmara Municipal pelos respectivos secretários.
Tenha V. Excia. a bondade de verificar.
O Sr. Juvenal Sayon – Mas eu acuso exatamente o Presidente e os respectivos secretários da Mesa.
O Sr. Pinheiro Junior – E pelos respectivos secretários.
O Sr. Juvenal Sayon – Não tenho duvidas, mas a queixa é trazida contra a Mesa.
É exatamente do abuso da Mesa que ventilamos a questão.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Mesmo poderá verificar ai um contraste, pois enquanto V. Excia. Afirma que os vereadores sofreram atentado, o Presidente da Câmara afirma ao contrário, que foi ele quem sofreu o atentado.
O Sr. Juvenal Sayon – Por isso é que precisamos reconstruir a verdade nesse recinto.
Quem sacou a arma foi o Presidente da Mesa. Quem cometeu arbitrariedades, foi o Presidente da Mesa. Quem impediu o livre exercício do cargo ao vereador eleito foi o Presidente da Mesa.
E se VV. Excias. Permitirem que eu me adiante mais, verão a inutilidade de defender o Presidente da Câmara Municipal de Iporanga. – Ou, pelo menos, que eu avance na exposição que faço.
Diógenes Ribeiro de Lima
O Sr. Diógenes de Lima – Peço ao orador um aparte. Aliás, louvo a atitude de V. Excia. E a de todos os deputados quando vem tratar de questões de tal interesse. Não quero contestar V. Excia. Pelas informações que recebeu em torno desse ato do Presidente da Câmara de Iporanga. Pelo seguinte: – as pessoas que trouxeram esta reclamação a V. Excia. São de tanta linha, tanta compostura moral que há dias mandaram a mim um oficio de irrestrita solidariedade, e no mesmo dia mandaram um outro oficio ao deputado Sylvio Pereira, mas de igual teor.
Portanto, era só uma questão de trocar o nome porque o assunto era o mesmo: Ou quem sabe se não são as mesmas coisas?
O Sr. Juvenal Sayon – V. Excia. Tem ai os oficios?
O Sr. Diógenes de Lima – Tenho.
O Sr. Valentim Amaral – Permita-me um reparo : deve-se confiar na palavra de deputados.
O Sr. Juvenal Sayon – Palavras, mas acontece que VV. Excias. Não conhecem, não sabem quais são os meus informantes, não podem saber se eles são os mesmos signatários dos oficios enviados a VV. Excias.
O Sr. Silvio Pereira – Tenho a impressão de qualquer atitude tomada pelos vereadores da Câmara Municipal de Iporanga relativamente ao nobre deputado Diógenes Ribeiro de Lima e a mim não tem importância diante do fato positivo de alteração na ordem do legislativo no Município de Iporanga. È evidente, ou é possível e o caso já é público, que a luz da Constituição e do Direito, os vereadores poderão estar com as garantias cerceadas pela Mesa. Ainda assim, acho que a Câmara Municipal de Iporanga é feliz porque os seus vereadores encontram uma tribuna mais alto para profligar a atitude da Mesa, a sua possível arbitrariedade.
O Sr. Juvenal Sayon – Obrigado a V. Excia. Aliás tal colaboração, partindo de quem parte me é muito valiosa razão pela qual agradeço a V. Excia. A demostração dos altos sentimentos de patriotismo revelados através do que V. Excia. acaba de expor.
O Sr. Diógenes de Lima – Peço licença para concluir o meu pensamento. Tendo notícias dessas possíveis irregularidades, conversei com o Sr. Artigas e de acordo com V. Excia. solicitei do Sr. Secretário...
O Sr. Juvenal Sayon – V. Excia. ouviu o meu pensamento do dr. Artigas e agora vai ouvir o meu, aliás, acho que V. Excia. E mais o deputado Sílvio Pereira já tem opinião formada.
O Sr. Diógenes de Lima – V. Excia. Está completamente enganado.
O Sr. Juvenal Sayon – V. Excia., parece, tem participado do caso politico de Iporanga, estou informado disso.
O Sr. Diógenes de Lima – O que desejo expor é que fui, em companhia do Sr. Toledo Artigas, pedir uma autoridade para Iporanga. Não tenho absolutamente conhecimento dos fatos e não os conheço nos seus detalhes. Estou observando, apenas, que, talvez sejam as informações recebidas por V. Excia. Não sejam muito fiéis.
O Sr. Juvenal Sayon – Talvez as informações recebidas por V. Excia. Sejam suspeitas.
O Sr. Waldy Rodrigues – V. Excia. Me permite um aparte? Pelo que até agora V. Excia. Revelou, a situação é grave e vem demonstrar, si apuradas essas denúncias, existir, de fato, prepotência, prepotência do Partido Social Progressista no interior do Estado. Assim, quero ouvir de V. Excia, todos os detalhes a respeito da situação de Iporanga.
O Sr. Juvenal Sayon – Muito grato a V. Excia. Pois bem. Prosseguindo na exposição dos fatos, quero dizer que em nada os apartes dos nobres colegas Pinheiro Junior e Diógenes de Lima alteram a minha convicção ou fornecem qualquer elemento a fim de que modifique a minha orientação na exposição dos referidos fatos.
O Sr. Pinheiro Junior – Estou apenas colaborando, prestando esclarecimentos.
O Sr. Juvenal Sayon – Mas eu agradeci os esclarecimentos. Como todos nós sabemos dos fatos através de informações, por que nenhum de nós esteve presente nessas informações, por que nenhum de nós estava presente nessa memorável sessão e, as subsequentes, porque foram secretas e realizadas às 4 horas da madrugada, na casa do presidente.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Não estava presente, V. Excia. Não pode afirmar.
O Sr. Juvenal Sayon – Estou afirmando através de informações, como V. Excia. As minhas fontes me merecem crédito
O Sr. Pinheiro Junior – Como a minha também merece.
O Sr. Juvenal Sayon – Merece de V. Excia., estamos expondo a nossa versão. V. Excia., honestamente, acredita nos seus informantes e eu, honestamente, acredito nos meus.
Mas, Sr. Presidente, estabelecendo-se o tumulto no recindo da Câmara Municipal de Iporanga, o Presidente, de bacamarte em punho, apontou-o em direção ao peito de um dos Vereadores, sr. Djalma Décio, deu-lhe ordem de prisão e, em seguida, ordenou ao Sr. Julio Alvares Franco, um pseudo-funcionário, que não tinha sido nomeado e era, simplesmente, candidato do Presidente da Câmara a emprego, pois aquela Câmara ainda não conta com recursos para pagar os seus vencimentos, ordenou a esse funcionário que invadisse o reduto e levasse, preso, o Vereador Djalma Décio. De maneira que, como vê V. Excia., a serenidade só sr. Betim não é tão excessiva como parece.
Nessa ocasião, estabelecido o tumulto e, mais do que um tumulto, o pânico, vários pequenos detalhes ocorreram, que merecem ser mencionados neste momento, entre os quais figura o seguinte:
Outro Vereador presente, o Sr. Jonas Júlio da Silva, impediu que o pseudo-funcionário da Câmara penetrasse no recinto reservado aos Vereadores, alegando que a ordem de prisão, embora partida do presidente é ilegal, porque quem mais infringia a lei naquela hora, depois de ter atentado com todos os princípios que regem o funcionamento da Câmara, era o próprio Presidente, que se mantinha de revólver na mão. De maneira que, assim, foi impedido que se efetuasse a prisão do vereador oposicionista Djalma Décio. No auge do tumulto, um dos presentes, o Sr. de nome Bento Ricardo de Morais, tio do vereador Djalma Décio que se achava diretamente ameaçado pelo bacamarte do ''sereno'' Presidente da Câmara Municipal de Iporanga...
O Sr. Porfírio da Paz – Do ''sereno'' Presidente, registre-se.
O Sr. Juvenal Sayon – Num gesto instintivo de legitima defesa, apoderou-se de um sarrafo que se encontrava ao alcance da sua mão, evidentemente à espera de que tal arma improvisada pudesse servir para defender a própria vida de seu sobrinho, daquela forma ameaçada.
Mas, ainda em continuação dos pequenos incidentes, o sarrafo foi arrebatado da mão do tio do vereador ameaçado pelo capanga de nome Pedro Vieira, o qual, de posse do mesmo, ameaçou quebrar a cabeça de todos os presentes pertencentes ao Partido da oposição.
O Sr. Porfirio da Paz – Esse capanga, nem de longe, nada tem com o Armando Guittenfreund?
O Sr. Juvenal Sayon – È um pequeno êmulo.
O Sr. Porfírio da Paz – Um êmulo
O Sr. Juvenal Sayon – O outro é de cidade!
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia., pelo que vejo, não vai pedir intervenção na Câmara Municipal de Iporanga!
O Sr. Juvenal Sayon – Realmente, o caso de Iporanga não é tão grave quanto o do S. Paulo. Mas mesmo o caso de Iporanga...
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. É reconhecidamente intervencionista.
O Sr. Juvenal Sayon – … É um caso tipico de intervenção na Câmara Municipal, a fim de obrigar o seu Presidente a respeitar a lei, a respeitar os princípios básicos do regime que nos rege. E V. Excia. Parece-me que é integrante anti-intervencionista, por que não propõe a supressão do capítulo referente à intervenção na Constituição Federal?
O Sr. Pinheiro Junior – Graçoas a Deus, sempre fui contra a intervenção, e me ufano por isto.
O Sr. Juvenal Sayon – Em principio, sempre, em qualquer circunstância, em qualquer ocasião?
O Sr. Pinheiro Junior – Em qualquer ocasião.
O Sr. Juvenal Sayon – Pois bem, não me ufano disso me ufanaria mais, se não houvessem motivos para a intervenção no meu Estado, me ufanaria muito mais se o Govêrno do Estado de São Paulo estivesse á altura para promover a felicidade minima a quem tem dreito o povo paulista.
E, me ufano muito mais, num caso de necessidade, ser intervencionista mas, ser intervencionista dentro do Brasil para fazer cessar as origens dos males que afligem a nossa população.
V. Excia., como divergem os conceitos em torno dos mesmos problemas. Mas, deixemos o caso da intervenção de São Paulo para um momento mais oportuno. Discutamos o caso que é, indiscutivelmente, um caso tipico de intervenção, desta vez não no executivo de Iporanga, mas na Câmara Municipal desta cidade.
O Sr. Pinheiro Junior – A moda está pegando.
O Sr. Juvenal Sayon – Mas V. Excia. O que quer é mutilar o regime democrático, por maiores que sejam os abusos praticados por um Presidente da Câmara de uma cidade do hinterland paulista ou pelo Governo de uma unidade da Federação. V. Excia. Vê sempre um espantalho.
Aliás, é um sintoma gravíssimo. Não quero crer que tenha ocorrido isso com essa mesma finalidade no espirito de V. Excia... Entretanto não se deve ter muito receio de certos recursos, de certos meios de manter a ordem sem que, realmente ocorram motivos justos, porque, senão, da-se justo motivo para suspeitar que os receosos temem as consequencias dos atos praticados, ha uma classe de indivíduos que é sempre contra a policia...
Mas, senhores: O capanga de nome Pedro Vieira, que arrebatou das mãos do snr. Bento de Morais o sarrafo e com ele ameaçou a meio mundo, continuou na mais ampla liberdade, e enquanto o primeiro, vendo ameaçado a morte de seu sobrinho, de forma tão injusta quão inesperada, este foi recolhido ao xadrez da cidade. Ao mesmo tempo que o Sr. Bento Ricardo de Morais era preso, por ordem do Presidente da Câmara, pelo delegado local, permanecendo no xadrez por oito horas.
O Sr. Pinheiro Junior – Mas é uma causa inconcebivel um Presidente da Câmara mandar prender um popular qualquer. Não é autoridade policial.
O Sr. Juvenal Sayon – V. Excia. Está reforçando meus argumentos. Tão inconcebível é isso que V. Excia. Protesta mas, infelizmente, aconteceu, e é por isso que estou ventilando o caso na Assembléia Legislativa do Estado de S. Paulo. Realmente, cometeu atos inconcebíveis o Presidente da Câmara, que saca o revólver, ameaça o vereador da oposição, suspende a sessão, dá posse ao suplente de vereador, ilegalmente alegando uma circunstância que não havia ocorrido, quer adulterando ou falsificando documentos ou alegando existência do documento realmente inexistente que nem transcrito foi na Ata. Depois de praticadas arbitrariedades, ordenou a prisão desses adversários políticos, em quanto os capangas da situação nem sequer foram advertidos.
É esta atuação do Presidente que fez com que eu viesse a esta tribuna, e estas são exatamente as razões porque não acredito na sinceridade daqueles que passaram este telegrama.
É que a oposição, que é maioria em Iporanga, solicitou de S. Excia., o Sr. Secretário da Segurança Pública, e solicitou providências urgentes e enérgicas que foram desatendidas há mais de 5 meses.
O Sr. Pinheiro Junior – Mas como V. Excia. Explica as providências também solicitadas pelo Presidente da Câmara Municipal?
O Sr. Juvenal Sayon – Explico de forma simplissima. É que os responsáveis pela pertubação da ordem os que atentaram contra a lei e contra o Regimento da Câmara Municipal de Iporanga, naturalmente confiados na proteção que teriam de Parte do Governo do Estado, porque estavam ligados ao partido Situacionista, procuraram se defender antecipadamente, quer enviando telegramas, quer lançando confusão sobre os fatos desenrolados nessa cidade. É assim que explico a existência desse telegrama.
O Sr. Silvio pereira – Queria em parte pedir licença ao nobre orador para retificar uma parte de seu discurso. É o seguinte: Quando ocorreram os primeiros fatos em Iporanga, fui procurado por alguns dos vereadores, e escrevi uma carta ao Sr. Secretário da Segurança Pública. Essa carta foi levada em mãos por um dos vereadores. Como eu tivesse que sair de São Paulo, solicitei ao nobre deputado, hoje secretário da Agricultura, Toledo Artigas, que se entendesse com S. Excia., o Sr. Secretário da Segurança Pública, a fim de resolver satisfatoriamente o assunto.
O Sr. Juvenal Sayon – Atualmente?
O Sr. Silvio Pereira – Essa carta foi escrita 5.a feira passada, e ontem me encontrei com o Sr. Secretário da Segurança Pública, e perguntei a S. Excia. Qual teria sido a solução dada no caso. S. Excia. Disse que tinha designado um deputado de carreira para verificar os fatos ocorridos em Iporanga. De sorte que não houve recusa do Sr. Secretário em atender ao pedido feito. Talvez tenha sido tardio.
O Sr. Pinheiro Junior – Pelo contrário, o Secretário foi muito solicito. Passou imediatamente um radiograma pedindo providências ao Delegado Regional.
O Sr. Juvenal Sayon – Estou fazendo uma exposição dos fatos de caráter grave desenrolados em Iporanga. Chegaremos á questão das providências solicitadas ao Sr. Secretário da Segurança e levarei em consideração o exposto pelos nobres colegas. Mas em relação às arbitrariedades do sereno Presidente da Câmara Municipal dissemos que elas não cessaram. Levantada a sessão, debaixo do tumulto por nós já descrito, tendo sido recolhido ao xadrez, como já dissemos, o Sr. Bento Ricardo de Morais, comerciante, residente antigo, homem conceituado naquela cidade, que só foi libertado graças á presença do Juiz de Direito da Comarca, que teve de comparecer pessoalmente em Iporanga. A fim de liberta-lo, o que não é fácil, porque o próprio delegado desacatou as ordens do Juiz, dizendo que só atendia às ordens do Presidente da Câmara. Foi preciso que o Meritíssimo Juiz se dirigisse ao próprio carcereiro, a fim de libertar a vitima das arbitrariedades do Sr. Presidente da Câmara e do próprio delegado.
O Sr. Nelson Fernandes – De exposição de V. Excia. Se conclui que o delegado está a serviço do P.S.P.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Está faltando com a verdade.
O Sr. Juvenal Sayon – É um simples instrumento de politica partidária do Presidente da Câmara.
O Sr. Pinheiro Junior – Repito que V. Excia. Está faltando com a verdade. Quando estive na Secretaria da Segurança, o Secretário da Segurança disse que ignorava os fatos e se mandou essa autoridade para lá, mandou dentro de um espirito pacificador.
O Sr. Juvenal Sayon – Repito serenamente o aparte do meu nobre colega, porque nem ao menos houve nexo em minha contestação. Diz que impugna que não são verdadeiras as minhas afirmações, quando faço referencias ao delegado local.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Disse que o delegado está a serviço de meu partido. É uma inverdade muito grande.
O Sr. Juvenal Sayon – Inverdade é o que V. Excia. Afirma. Além de ser uma inverdade é falta de polidez e não é correto.
O Sr. Pinheiro Junior – V. Excia. Fez uma afirmativa muito grave!
O Sr. Juvenal Sayon – Absolutamente. V. Excia. Está contestando sem ter interpretado bem o que eu quis dizer. Eu me referi ao delegado local, ao '' calça curta '', que é como se denomina no interior o suplente de delegado que via de regra, costuma ser instrumento politico do situacionismo.
O Sr. Pinheiro Junior – Antes, V. Excia., referiu-se a Delegado. Agora o que fala em subdelegado.
O Sr. Juvenal Sayon – Como ali não existe delegado de carreira é bom que V. Excia. Vá se acostumando com esta terminologia. O suplente de delegado, sempre, é denominado delegado quando assume as funções de delegado.
O Sr. Pinheiro Junior – Pois não conheço ''calça curta''.
O Sr. Juvenal Sayon – Com isso quero demonstrar que realmente V. Excia. Nada conhece desse assunto.
O Sr. Pinheiro Junior – O que V. Excia. Está afirmando, além de não estar dentro da tese que expõe.
O Sr. Juvenal Sayon – V. Excia. Está confessando que vai ser enviado á Iporanga um delegado. Logo, V. Excia., que é inteligente, brilhante e lúcido, há de compreender que não se trata da mesma pessoa.
O Sr. Pinheiro Junior – Sei o que é Delegado, e sub-delegado , mas não o que é “calça curta”. Não conheço esta terminalogia.
O Sr. Juvenal Sayon – É bom entretanto, que V. Excia. Saiba que não é em torno destas denominações que giram em nossa discussão, mas sim, em torno de atos que, aliás V. Excia. Diz que não são governadeiros. V. Excia. Não prestou atenção ao que eu disse.
O Sr. Pinheiro Junior – Eu prestei atenção e estou prestando uma homenagem a V. Excia. Tanto assim que estou ouvindo o seu discurso, quando, se não quisesse, estaria lá fora.
O Sr. Juvenal Sayon – V. Excia. Aqui está naturalmente interessado em defender o seu ponto de vista e seus correligionários.
O Sr. Pinheiro Junior – É uma homenagem a V. Excia.
O Sr. Juvenal Sayon – Se é homenagem, fico gratíssimo por tão comovente demostração de amizade. Mas, Sr. Presidente, o Delegado local não passa de um simples instrumento politico nas mãos do Presidente da Câmara Municipal. E a prova disso resulta com grande evidência, do desacato ás ordens do Meritíssimo Juiz de Direito daquela comarca, quando ordenou que fosse libertado o Sr. Bento de Morais, e foi preciso que o Meritíssimo Juiz se dirigisse diretamente ao carcereiro, o qual mais inteligente, mais conhecedor da hierarquia das autoridades do município, cumpriu as ordens do Juiz, devolvendo à liberdade ao Sr. Bento de Morais, que sofreu uma prisão arbitrária, injusta e ilegal de oito horas.
Mas, Sr. Presidente – Não digo aparte, mas grave, por que tudo o que se desenrolou é grave – A parte cômica dessa pequena tragédia.
Tendo sido suspensa a sessão sem que o suplente de vereador efetivasse o ato da posse, sem que assinasse o termo de compromisso, sem que fosse lido, conforme manda a Lei Orgânica dos municípios, o pedido expresso de renuncia, sem que fosse exibido o documento, sem que se fizesse qualquer menção a ele, no dia seguinte, à hora regimental, discursava novamente no recinto da Câmara.
Mais, uma vez a maioria dos vereadores protestou com Veemência contra este ato inexplicável e tiveram a grande surpresa do dia. O Sr. Presidente, com autoridade que é peculiar á todos aqueles que têm a responsabilidade da ordem nos legislativos, disse que não procedia o protesto da oposição e, não procedia por uma razão muito simples: Porque as formalidades, todas elas já não se achavam devidamente cumpridas.
Como? – Perguntaram os vereadores – Se a sessão tinha sido levantada em consequência do tumulto estabelecido na véspera e já se abria a sessão dando todas as formalidades como terminadas. Então respondeu o Sr. Presidente, que tinha convocado a Câmara para uma sessão às quatro horas da madrugada, em sua residencia particular.
O Sr. Valentim Amaral – Mas resposta á este ato ilegal está na própria Lei Orgânica do município, que diz que não serão válidas quaisquer reuniões da Câmara que não sejam realizadas em lugar apropriado, salvo comunicação ao Juiz de Direito. Automaticamente cai por terra esse ato.
O Sr. Juvenal Sayon – É claro. Mas ainda não parou nisso.
Tendo sido alegado pelo Presidente que havia pedido de renuncia, que havia sido assinado o termo de compromisso, etc, a oposição, estranhando o acontecimento citado pelo Sr. Presidente e pelo nobre e sereno Presidente da Câmara Municipal de Iporanga que absolutamente, não tinha que ler a Ata, por quanto a sessão tinha sido realizada às 4 horas da madrugada na sua residencia particular e havia sido secreta porque aqueles que lá compareceram deram a ela o caráter de secreta.
Como se vê, não seria apenas um mero ''bate-boca'' entre membros da oposição e do sitacionismo de Iporanga que me traria a esta tribuna para o culpar a tensão e o tempo precioso dos nobres colegas. Fatos desta gravidade ocorreram em Iporanga e além disto – Deste momento em diante parece fantasia – No dia imediato convocarão uma nova sessão.
O Sr. Presidente – Cumpre lembrar ao nobre orador que V. Excia. Dispõe de somente três minutos.
O Sr. Juvenal Sayon – Obrigado V. Excia. Espero terminar em três minutos.
O Sr. Presidente mandou colocar forças armadas em porta da Câmara que impediu a entrada de quem quer que fosse, alegando que era a sua pessoa que corria risco...
O Sr. Valentino Amaral – Impediu a entrada inclusive dos vereadores da oposição?
O Sr. Juvenal Sayon – Os vereadores da oposição, diante das violências praticadas pela Mesa, alegando a existência de um pedido de renuncia inexistente. – O que é mais razoável é que tendo sido adulterado o pedido de licença falsificado e apresentado como o pedido de renuncia, deixaram naturalmente de comparecer as sessões e então o sereno Sr. Presidente da Câmara Municipal de Iporanga passou a presidir sessões secretas em caráter permanente porque não comparecendo os Vereadores da oposição, impediu a entrada de quem quer que fosse alegando que corria risco a sua integridade física, que corria risco de vida, razão pela qual punha a porta soldados de armas embaladas para manter o sigilo das sessões da Câmara Municipal.
O Sr. Lincoln Feliciano – Até parece pilheria.
O Sr. Juvenal Sayon – Realmente parece pelheria, mas isto sucedeu no Estado de São Paulo. Mas senhores, é que os prenũncios de tempestade de há muito vinhamse manifestando na cidade de Iporanga. Desde que se revelou a gravidade da situação, desde que a oposição se compenetrou de que violências sérias seriam praticadas dentro da cidade, porquanto o presidente da Cãmara, o “sereno” presidente usava o delegado como simples instrumento seu a qual lhe obedecia cegamente, naturalmente não me refiro ao delegado que vai, mas ao que já exercia sua função...
O Sr. Nelson Fernandes – O “calça curta”.
O Sr. Juvenal Sayon – … “O calça curta” era um simples instrumento cego nas mãos do presidente da câmara, que chegava mesmo até a desatender ordens do Meretíssimo Juíz da Comarca. Desde essa ocasião a oposição passou a fazer repetidos pedidos ao Secretário da Segurança Pública de São Paulo no sentido de partir para lá um delegado de carreira para por termo a esse ambiente de agitação, tumultos, abusos e arbitrariedades.
Tardou S. Excia., o Secretário de Segurança Pública para tomar as providências solicitadas e errou profundamente em retardar as providências. É nessa altura, quando surge o caso de Iporanga no plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo, que surgem então os telegramas. E, se houver uma pequena condescendencia de parte da Mesa e dos colegas...
O Sr. Waldy Rodrigues – Perfeitamente.
O Sr. Juvenal Sayon - … podia perfeitamente terminar.
O Sr. Pinheiro Junior – Se V. Excia. o permitir, apresentarei um requerimento de prorrogação da sessão por 10 minutos.
O Sr. Juvenal Sayon – Mais 10 minutos e termino minha exposição. De maneira que esta era e ainda é a situação de Iporanga. Não deixa de haver certa responsaabilidade por parte do Secretário da Segurança Pública, por não ter atendido oportunamente desde a primeira solicitação da oposição e a oposição representava.Como representa, simplesmente a maioria.
O Sr. Pinheiro Júnior – Queria declarar o seguinte: O Sr. Nelson de Aquino é um homem integro e sei, de fato, se o ''calça curta'' cometeu esse erro, será demitido.
O Sr. Juvenal Sayon – Não ponho em dúvida. Acredito na integridade moral do Secretário de Segurança. Acredito e tenho certeza mesmo de que tomará as providências que se impõem, em vista da gravidade dos fatos desenrolados em Iporanga.
O Sr. Presidente – Estando esgotada a hora regimental, e achando-se sobre a Mesa um requerimento de prorrogação, peço ao Sr. Secretário que proceda a leitura do mesmo.
O Sr. 1.o Secretário procede á leitura do seguinte
– Posto a votos é o requerimento aprovado.
O Sr. Presidente – Continua com a palavra o deputado Juvenal Sayon.
O Sr. Juvenal Sayon – È para ultimar esta série de arbitrariedades de erros e ilegalidades praticadas pelo sereno Presidente da Câmara Municipal de Iporanga, eu ainda me permito citar apenas um fato, e um fato, que em matéria de gravidade, não discrepa em absoluto dos anteriormente expostos por nós. O atual prefeito de Iporanga, examinando a documentação, o recibo existente no arquivo da Prefeitura, um encontrou no valor de 4.000.00 cruzeiros, assinado pela firma '' Isaac Belling '' estabelecido no Largo do Belém, nº 150, em São Paulo, sem ser acompanhada de qualquer nota fiscal, fatura ou duplicata.
Não foi apresentada ao arquivo da Câmara Municipal. Estranhando o atual prefeito a existência desse recibo de 4.000.00, teve ele a curiosidade de vir até São Paulo informar-se junto à firma referida sobre quais eram os objetos comprados por aquela importância. A firma, em apreço
negou-se terminantemente a fornecer cópia da nota fiscal, contudo, exibiu a esse prefeito o conteúdo da referida nota. Ela se referia exatamente a poltronas, colchões e camas que teriam sido compradas para uso da Câmara Municipal de Iporanga.
O Sr. Lincoln Feliciano – Camas também?
O Sr. Juvenal Sayon – Sim, poltronas, colchões e camas.
O Sr. Arimondi Falconi – Naturalmente, eram para sessões secretas...
O Sr. Juvenal Sayon – Mas, como dizia, sendo sessões secretas realizadas na casa do ''sereno'' presidente da Câmara Municipal, parece-me que apenas as poltronas foram conduzidas no recinto da Câmara, e o restante, até a presente data, ainda lá não apareceu e, segundo consta, se encontra na residencia particular do presidente e nessa hipótese, justificava-se porque as sessões eram realizadas lá as 4 horas da madrugada em caráter secreto.
Não se diga que isto era apenas uma conversa da oposição.
O Sr. Arimondi Falconi – De certo uma conversa '' ao pé do fogo '' …
O Sr. Juvenal Sayon – Queixa foi apresentada pelo atual prefeito ao delegado regional que tem sede em Itapetininga. A queixa foi apresentada há mais de 30 dias ao Sr. delegado regional que tomou as primeiras providências e o inquérito milagrosamente, cessou de funcionar.
O Sr. Lincoln Feliciano – Isto acontece...
O Sr. Arimondi Falconi – Talvez tenha sido traido pelos meus ouvidos quando V. Excia. comentava a respeito de bacamarte ou bacanal na residência do Sr. prefeito, e então desejava que V. Excia. esclarecesse se se tratava de bacamarte ou bacanal. ( risos )
O Sr. Juvenal Sayon – De certo V. Excia. Está ligando a idéia dos objetos comprados como falei anteriormente, mas quis me referir a bacamarte que significa revólver, arma de fogo. De maneira que, Sr. Presidente, há mais este fato e espero que o Sr. Secretário de Segurança Pública dê instruções expressas ao delegado que vai assumir a delegacia dessa cidade, para que veja onde encalhou o inquérito, as razões por que o inquérito não prosseguiu normalmente e que seja apurada a queixa apresentada pelo prefeito de Iporanga. Srs. deputados, estes são os fatos desenrolados numa das pequenas cidades do interior do Estado de São Paulo e penso que correspondem à realidade, porquanto as pessoas que procuraram o modesto deputado para fazer a exposição dos mesmos, o fizeram com absoluta serenidade, são pessoas que ocupam posição de destaque na cidade de Iporanga e pessoas, por todos os títulos, merecedoras de crédito por parte da Assembléia.Esperamos que, ventilado o caso neste recinto, sirva, ao menos para que a lei e a justiça tenham os seus dominios restabelecidos na cidade de Iporanga.
( Muito bem – Palmas )
VALDOMIRO DESCIO, COM A POLÍTICA SANTOS E DESCIO,
COM ALMERINDO BETIM E DJALMA DESCIO.
Nenhum Iporanguense vai a Jacupiranga por qualquer motivo, sem entrar na loja de tecido do Iporanguense Valdomiro Descio, 90 anos de idade, momento que torna possível voltar no tempo, por estar diante do cenário de uma antiga loja de tecidos nos moldes daquelas que dinamizavam a famosa rua do comércio de Iporanga, entre o final dos anos oitocentos e meado dos anos novecentos, começando pelo poderoso estabelecimento do Joaquim da Motta e o dos Limas: (Daduca,Totó e Pedro de Lima), na esquina da rua Carlos Nunes, junto à matriz, no século passado, e também a loja de Domingos Vitor de Souza, também comerciante, que era natural de Iguape, ele foi ainda criança para o Rio de janeiro, a convite de um grande comerciante italiano, onde aprendeu Italiano e se revelou para a vocação do comércio, tornando-se viajante do Rio de Janeiro, passou a vender para toda a região através da navegação do rio Ribeira até o porto na cidade de Iporanga, onde conheceu e casou-se, com Dona Cotinha ( Maria Descio), filha do Coronel Descio, vulto da política Hermista de Iporanga. Deste casamento surgiram os filho:s entre Eles o Agenor Descio e o Valdomiro Descio, Agenor era estudioso, já Valdomiro, menos acadêmico, era inclinado ao comércio e a fazer negócios, “rolos” na linguagem popular. Gostava de música, dos passeios a cavalo, subindo pelos caldeirões da serra das Andorinhas, rumo a Barra do Turvo, com outros músicos para o som de clarinetas na festas na casa do grande comerciante e vereador Chico Cardoso na Barra, sempre regadas a muita bebida e carnes a vontade. Ambos os irmãos Decio, cuidavam do comércio do Sr. Domingos Vitor, após o falecimento deste, antes da Segunda Guerra. Surgiu então um empreendedor na cidade, que adquiriu umas terras e começou a plantar hortelã e exportar em grande quantidade, sabe-se lá pra que finalidade, mas rendia muito dinheiro, o fato é que ambos os irmãos se associaram ao negocio, Agenor muito interessado em aprender cada vez mais juntou-se a um pequeno grupo na cidade e pagaram aulas para um coletor de formação contábil e adquiriu conhecimentos, que fez com que se destacasse na contabilidade da sociedade no negócio com a hortelã. Ocorreu que com a implantação da Mineração Serrana, hoje Ca jati, o empreendedor teve que abandonar o projeto da Hortelã, afim de atender a um convite para administrar a Mineração Serrana, para onde também levou Agenor, dando a ele plena autonomia e boa compensação financeira para dirigir os escritórios e a contabilidade da Mina. Em Iporanga a política dividida entre os partidários da família Descio e família Santos viviam o momento mais tenso da disputa pelo poder na cidade. O jovem Valdomiro que era da família Descio vivia um amor proibido e impossível, parecido com Romeu e Julieta, do romance de "William Shakespeare". Apesar de ele ser dos Decio e a jovem Elza ser filha do principal líder da família Santos, ambos se correspondiam. Porém a jovem teve seu destino definido em um casamento conforme a preferência do pai dela e o jovem por seu lado também acabou casando-se com uma moça que conheceu em Jacupiranga (hoje Valdomiro e Elza ainda vivem e ambos são viúvos). Os Decio perderam a eleições, e a retaliação era muito violenta na época, de tal forma, que os perdedores em sua maioria se viam obrigados a abandonar a cidade por um longo tempo, até que a situação se acalmasse, além de poder com a aproximação de novas eleições, ou nomeação de um outro interventor tentar voltar para o poder e para Iporanga. Juntando se a isto Valdomiro estava completando 18 anos, idade, fato que provavelmente faria com que fosse obrigado a servir o Exército, por conta de o Brasil estar participando da Guerra naquele momento. Diante disto resolveu vender a casa propriedades e a loja e partir para Jacupiranga, onde montaram uma lojinha de sociedade ele com o irmão, ali se estabelecendo, para quando estivesse servindo o Exército a mãe tivesse a companhia do irmão Agenor. No entanto com o fim da Guerra, muitos jovens e também o Valdomiro, foram dispensados do serviço militar.
Enquanto isto em Iporanga, após ser cassado da presidência da Câmara Municipal de Iporanga, e do cargo de vereador, o então ex-vereador Almerindo Betim, voltou pra São Paulo, onde passou a ocupar cargo de comissão no governo do Adhemar de Barros, ao mesmo tempo que começou a vender uns carnês de capitalização premiada. Almerindo apareceu na região oferecendo a tal oportunidade de bom negócio para todos. Passou na loja do Valdomiro e ofereceu a tal capitalização, foi muito incisivo na proposta, que acabou convencendo, embora com certa desconfiança por parte do Valdomiro, pois estaria fazendo negócio que um adversário político, afinal Almerindo era um dos cabeças da política da família Santos, embora estivesse casado com a Paulina, que era filha de criação do prefeito Celso Descio. O Valdomiro pensou, pensou: -- O negócio não é caro, eu compro pra me livrar deste camarada e depois nem vou pagar mais nenhuma prestação, pronto! Comprou e na semana seguinte teve seu nome anunciado no serviço de alto falante de Xiririca, que no primeiro sorteio do mês ele foi sorteado como o grande ganhador de uma pequena fortuna de dez mil cruzeiros. Depois de receber este dinheiro Valdomiro comprou a parte da loja do irmão e montou um pequeno cinema de 16 mm e Jacupiranga. Os negócios iam muito bem, na loja e no cinema com a abertura da estrada jacupiranga-Xiririca quase que só os trabalhadores das companhias da estrada mantinham o cinema lotado. As fitas eram alugadas por semana, então Valdomiro comprou uma lambreta para fazer a troca de fitas com o cinema da cidade de Registro, a Serrana e Xiririca, aumentando o lucro pois o negócio seguia tão bem que foi necessário construir uma nova sala maior e também com equipamento para filmes de 35mm, para isto pediu para um mestre de obra e projetista local, irmão do prefeito de Jacupiranga, para fazer uma planta para aprovação nos órgãos competentes e fazer a construção do novo prédio. Passado alguns dias a planta ficou pronta e ela teria que passar por um burocrático e lento processo de aprovação, por Registro, por Santos e finalmente São Paulo. Quando o projeto foi conduzido até Registro para a primeira apreciação já enroscou em um detalhe: faltou serem desenhadas as cadeiras na planta, diante disto o desenho voltou para o projetista que sem problemas colocou ali as cadeiras. Valdomiro pensou, pensou teria que recorrer a um engenheiro para assinar e concluir a execução e tramite do projeto, então lembrou se do primo Djalma Descio que coordenava a procuradoria de terras na praça da Sé em São Paulo, lá chegando foi bem recebido pelo primo que ao tomar conhecimento da situação disse que o político e engenheiro responsável pelo órgão, que faria a aprovação em São Paulo, era muito amigo dele, isto é, do próprio Djalma Descio.
Então, Djalma, escreveu um bilhete que dizia que estava encaminhando o primo Valdomiro Descio de Souza, e pedia que em nome da amizade, o ajudasse no que ele precisasse. Djalma, foi com o primo até a janela de um dos últimos andares do prédio da procuradoria, onde estavam e mostrou o prédio para onde o Valdomiro deveria se dirigir, distante dois quarteirões dali. Quando chegou no local e no andar indicado deparou com uma fila de mais de 50 pessoas, não desanimou entregou o bilhete endereçado ao chefão e entrou na fila pacientemente, não demorou cinco minutos e apareceu uma pessoas que exclamou: O senhor Valdomiro Descio de Souza. O Valdomiro respondeu: -- sou eu! A pessoa falou: --o senhor me acompanhe até a sala do chefe. Chegando lá foi recebido com muita simpatia e gentileza, pelo chefe que o cumprimentou e falou: você e primo do Dr. Djalma, pois saiba ele é um grande amigo meu, me diga o que você está precisando. Então Valdomiro contou toda a história e apresentou a planta do cinema. Na mesma hora ele carimbou, assinou e disse: --pronto! Pode levar e construir o seu cinema. Depois de se despedir e agradecer muito, Valdomiro voltou para Jacupiranga construiu o Cinema e ganhou rios de dinheiro, até que um belo dia apareceu por lá um fiscal de Registro e disse que vistoriando o prédio encontrou lá algumas irregularidades, e que teria que ser corrigidas. Valdomiro entendeu que não passava de malandragem do fiscal, no intuito de achacar o proprietário, ou seja, levar algum dinheiro, então mostrou a planta aprovada por São Paulo e disse: -- Já que você diz que o projeto está irregular, aqui está a assinatura do responsável chefe do órgão que aprova em São Paulo, ele é deputado e político de nome, vamos a São Paulo esclarecer com ele os detalhes. O fiscal esverdeou e balbuciou: -- Combinado, vou a Xiririca e na volta passo aqui para conversar. Deste dia em diante nunca mais ninguém mais ouviu falar no tal fiscal. O cinema e a loja renderam muito dinheiro, abriram caminho para novos negócios e Valdomiro Descio transformou-se no “Comendador de Jacupiranga” Hoje Valdomiro ainda tem a loja para se distrair e recontar velhos causos com os amigos, principalmente os conterrâneos...