domingo, 7 de fevereiro de 2010

1955, Nho Manduca e o Luiz Bugre com o Pe. Caiaffa,
em uma viagem de canoa, para Poço Grande e Pilões.



Uma Ponte e Uma Estrada...


Outro dia o Carlinhos da D. Orica (D. Áurea) me procurou para dizer que a filha tinha-lhe mostrado este Blog, no computador dela, e que ele gostou muito da postagem sobre a Varação de Canoas. Falou também que poderia trazer umas fotos do canoão do Sr. Jeremias para ilustrar a postagem, naquela parte que fala do tamanho da embarcação. Na mesma ocasião ele me lembrou para que falássemos também um pouco mais, das mulheres que trabalharam junto com o João Batista nos bastidores do almoço para os canoeiros, envolvidos na varação. Achei a queixa procedente, afinal as mulheres geralmente são pouco lembradas nos textos históricos, onde normalmente o destaque maior é dado aos personagens masculinos. Já corrigi a postagem. No dia seguinte, logo de manhã, o Carlinhos apareceu com um punhado de fotos antigas, e entre elas umas que mostravam o canoão, que eu conheci entre outras importantes como a grande canoa do Sr. Odorico Macial que só foi superada pela do Sr. Jeremias , ou canoão do Sr. Ismael do Castelhano, canoa quase tão grande como a do Sr. Jeremias. Uma ocasião quando ainda não existia a estrada pavimentada que liga Iporanga com as cidades de ribeira abaixo, o canoão do Ismael trouxe de uma só vez todo o time de futebol e a comissão técnica de Xiririca, num total de 18 pessoas, mais o Vagner Sirino, que morava em Xiririca e o Juca Mané que morava no bairro Castelhano, onde os viajantes pernoitaram. A embarcação viajou com motor de 12,5 HP para subir até Iporanga, onde enfrentaram a equipe local. Por acaso, este canoão ainda existe, pois foi levada para Sorocaba, onde está exposta.
Canoão do Sr. Ismael: podemos ver em primeiro
plano o Juca Mané; um pouco atrás com chapéu,
Sr. Ismael; ao fundo os filhos Iziquiel e Guaraci.

.

Na foto vemos o canoão do Sr. Jeremias, com o Sr Nelsom Locade na proa com os pés na água, bem à frente, o Dimas Tapajós Backer em pé, o Doca sentado, e no meio o canoeiro Elias e irmão.

As fotos mostravam principalmente a inauguração da estrada para o bairro Pilões e Maria Rosa. Haviam imagens de veículo atravessando em jangada improvisada montada com as maiores canoas de Iporanga, pois para poder colocar o veículos sobre a estrada era necessário atravessar o Ribeira, porque a estrada começava na outra margem do rio e o detalhe é que: também não havia ponte, nem uma outra estrada, que pudesse conduzir para aquela margem. Ah! Mas como isto é possível? Questionaria qualquer ser humano racional. Por acaso a estrada fora aberta com a picareta como nos tempos antigos? Afinal como atravessar um rio tão fundo com pesadíssimo trator de esteira para abrir a estrada? Antes de esclarecer o enigma, quero dizer que em Iporanga tudo é possível: até a história de uma ponte sem estrada; uma estrada sem ponte; rio sem água; rio com água; água saindo do chão e água sumindo no chão. Onde fica a ponte sem estrada? Fica em Iporanga mesmo. Existe uma trilha antiga construída no tempo do Império para ligar Iporanga com Ribeirão Branco, o caminho seguia rio acima passando pelo antigo Arraial, pelo Camargo, subia o morro do Chumbo rumo a serra acima passando por Caboclos, Espírito Santo até o Banhado Grande, na divisa entre as cidades de Apiaí e Guapiara, onde existe um monumento com o nome de Estaca Zero. Meu avô Honório Corrêa, gostava de lembrar uma curiosidade: segundo diziam; a distância daquele local para Iporanga era de 33 quilometros e também a mesma quilometragem de 33, dali para ribeirão Branco, 33 para Apiaí e 33 para Guapiara. No ano de 1954, o prefeito Celso Descio, resolveu transformar a trilha em rodovia, para isso começou a abrir a estrada, com trabalhadores cortando barranco com picareta e arrastando terra em carroça puxadas por burros. A obra teve continuidade na administração do professor Aníbal Ferreira de Souza, chegando até o Camargo, de onde foi posteriormente retomada pela Sudelpa até o Morro do Chumbo, onde foi embargada pelo Meio Ambiente e assim permanece até hoje. No entanto o governador Paulo Maluf durante seu governo construiu uma grande ponte sobre o ribeirão na travessia antes da subida do Morro do Chumbo. Como o Meio Ambiente embargou a obra da estrada logo após a conclusão da ponte, ocasião em que ainda não tinha aterro, e não foi permitido que se fizessem a cabeceira de acesso apesar daquela gigante de concreto ser muito alta. Conclusão: até hoje a situação é a mesma ficando ali uma enorme ponte no ar e sem estrada. Para o sertanejo atravessar pela ponte, ele precisa subir por uma escada alta de embaúva por um lado e descer por outra do outro lado. Um dia destes ouvi de um alto servidor do meio ambiente, que seria mais fácil o governo mandar demolir esta grande obra de concreto do que aterrar a entrada e saída para a ponte, ou ainda abrir os dois quilometros que faltaram para concluir a estrada...Concluí que este é o final melancólico para a triste história da Ponte Sem Estrada. A solução ideal para concluirmos esta história, fica para nós, ou nossos sucessores, com a ajuda de Deus, providenciarmos.


Voltamos para a inauguração da estrada para Pilões e Maria Rosa, a Estrada Sem Ponte, que ligava o bairro com a margem do Ribeira, junto ao Poço Grande, uma das travessias mais perigosas do Ribeira, onde através de mais de três séculos o local foi campeão absoluto de naufrágios e afogamentos. Dizem até hoje, que ali existe um jacaré muito grande, que poderia devorar até um canoeiro.
Prosseguindo, no relato, passo agora a explicar melhor como foi possível executar a construção da rodovia, através do Sertão dos Pilões, desmanchando o carreiro das onças, apesar das adversidades. Sem dúvida nenhuma foi necessário levar um trator de esteiras até o local, do outro lado rio, na trilha rumo mata adentro. Para essa tarefa foi necessário mais uma vez contar com a ousadia do prefeito Jeremias, que já havia mostrado sua coragem iniciando a obra da rodovia Iporanga para Eldorado, no dia seguinte de sua posse como prometera em sua campanha eleitoral. Naquela época a prefeitura tinha um trator D4 que era operado pelo Domingão que tinha o Loridi como ajudante e aprendiz. O Loridi seria escalado para abrir a estrada junto com outro tratorista, mas afinal a obra acabou mesmo nas mãos do Sr. Domingos com o ajudante e aprendiz Tonhão. Para colocar o trator de esteira no local para começar a estrada, o tratorista atravessou o trator pela Passagem do Ribeirão, subiu pelo caminho de tropa o alto da Baú, desceu para o Caracol, seguiu pelo vargedo do Prado, depois foi margeando o Ribeira até o Poço Grande, na margem esquerda onde teria início a estrada, depois de muito trabalho de trator, finalmente chegou o dia da inauguração da rodovia.

Na foto vemos a pickup azul do Homeleto, o Sr. Nelsom Locade abaixado e de costas, o Elias com o irmão, o Doca de chapéu e a canoão do Sr. Jeremias em primeiro plano; em segundo plano a canoão da balsa de N.S. do livramento, compondo a Jangada improvisada, fazendo a travessia do Ribeira no Poço Grande, no dia da inauguração da estrada. Na foto abaixo à direita está o Homeleto.

Fogos, churrascada, bebidas e tudo mais, tudo estava planejado e perfeito, mas para inaugurar a estrada ainda faltava uma coisinha... Os carros!? Como não havia balsa e nem ponte para fazer a travessia de algum veículo, que se encontrasse do lado direito do rio, sobre a estrada Iporanga a Eldorado, resolveram então fazer uma jangada utilizando as maiores canoas possíveis. Foi quando então utilizaram a famosa canoão do Sr. Jeremias e uma outra canoa, a maior da balsa de N.S. do Livramento. Amarram as canoas em uma estrutura montada com plataforma de madeira e ali colocam primeiro a pickup Ford do Homeleto, depois na outra travessia seguiu o Fusca do Jarbas. Atravessaram também cavalos, ficando assim depois de muita festa inaugurada a obra. Esta foi a história da Estrada Sem Ponte, mas que conta hoje em dia, com um bom serviço de balsa.

Vou aproveitar esse gancho, destas histórias de pontes e contar um pouco dos bastidores da construção da ponte sobre o Ribeira, em Iporanga no tempo da ditadura militar. Na época o mandato era do prefeito Konesuk e havia na comunidade uma fofoca, de que o prefeito era segundo violino, e que quem resolvia boas partes dos pepinos era Dona Elvira. Claro que não era verdade! Competência a primeira dama tinha e tem até hoje, mas este caso de intercessão, merece destaque por se tratar de solução mais importante. Logo no começo de seu mandato o Konesuk recebeu em sua casa os engenheiros para definir os últimos detalhes do projeto, entre eles um muito importante: o local onde a ponte seria construída. Naquela manhã o prefeito percorreu com aqueles visitantes alguns lugares nas margens do rio, mas não conseguiram encontrar nenhum local mais adequado, do que aquele anteriormente fora definido para localizar a ponte, que era no local onde estava a antiga balsa, que fazia a travessia para Barra do Turvo. No entanto isto acarretaria perda para o comércio local, porém apesar deste problema definiram manter o plano inicial, por não terem encontrado local melhor. Foram em companhia chefe do executiva até sua casa, onde Dona Elvira os aguardava com um almoço caprichado, como ela bem sabe preparar. Durante a refeição ela ouviu na conversa entre eles o lugar onde seria construída a ponte, o que a deixou preocupada. Discretamente ela chamou o marido para a cozinha e ouviu dele a confirmação de que a ponte seria construída no porto da balsa, por não terem encontrado local melhor. Dona Elvira pensou um pouco e falou: - O Seu Pedro Caetano fechou a loja de três portas dele e não pretende abrir mais, será que ali não serve para a construção desta obra? Conclusão enquanto os engenheiros descansavam, após a refeição, o prefeito saiu discretamente e foi até a casa do Sr. Pedro Caetano dos Santos, que era ao lado da loja e que hoje é o mercado da Fátima, conversou com o Seu Pedro, que disse não ter mais interesse em abrir a loja e que topava vender para dar lugar para tão importante construção. Imediatamente o Konesuk voltou para casa e falou para os engenheiros que antes deles partirem ele gostaria que eles analisassem um local que seria a última tentativa para mudar o local da obra. Imediatamente seguiram todos para o local, lá chegando os engenheiros fizeram uma vistoria detalhada do local e falaram: sr prefeito este local é perfeito, é o melhor local para a ponte. Antes de seguirem viagem estes técnicos deram prazo de quinze dias para que a aquisição do terreno fosse definida pelo prefeito, em conjunto com a câmara. Tudo ficou resolvido o Sr. Pedro Caetano recebeu os dez mil, que ele queria no imóvel, e a ponte foi construída onde está hoje.

6 comentários:

  1. Interessantissimo!!! Ainda mais ter nascido nesta maravolhosa cidade e ter o mesmo nome do prefeito da época.

    ResponderExcluir
  2. interesante, esta historia , pressenciei tudo isso ,meu pai era o balseiro e eu cheguei a trabalhar na construção da ponte , bons tempos

    ResponderExcluir
  3. ola poranguenses moramos em sorocaba e meu marido possui familiares ai por favor se alguem conhecer Juquica(propietario do armazem da matriz 1968) a familia dele bisavó dona Julia Furquim da Mota; avô Zacarias Izidoro da Silva e avó Dina Andrade da Silva postem fotos ou comentarios obrigada Diocelio zacarias de Souza

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. sou bisneto de julia furquim da mota vc tem mas informações sobre ela email josiasdeoliveira0@gmail.com

      Excluir
  4. Olá Diocelio! O Sr. Juquica reside, até esta data, no mesmo local. Ele aparece aqui neste blog, numa foto do clube SAMI, legendada, acompanhado de várias pessoas, fundadoras da entidade, em uma das postagens.
    Abrçs.

    ResponderExcluir
  5. Amigos de Iporanga.
    Infelizmente não trago uma noticia muito boa meu BISAVÔ FIRMINO RODRIGUES
    Nascido em 28/09/1922 em Iporanga faleceu no dia 04/06/2014 as 8:00hrs.
    ele era uma pessoa bastante conhecida na cidade.
    era Primo do senhor Jeremias prefeito da cidade e Afilhado do Senhor Pedro Caetano morava em São Paulo a muito tempo.Por varias Vezes ficamos na pensão da Dona Jovita quando era criança...
    Tenho muitas lembranças de brincar no coreto da Praça enquanto ele ia na igreja.Pois é amigos Infelizmente meu bisavô meu Pai de criação não esta mais entre nós...
    Muito amigo do Senhor Jamil ele deixa saudade.

    ResponderExcluir