quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Iporanga de Matheus Theodoro da Silva e o BóiaCross.

Primeiro quiosque construído por Matheus, na Caverna de Santana PETAR, onde além de residir, ele vendia bebidas e salgadinhos para os raros turistas que apareciam. No local hoje existe um edifício do governo.

Atualmente vemos sempre nos poderosos canais da TV aberta, ou mesmo em canal fechado, apresentações de varias modalidades de esportes radicais, mas para nós de Iporanga existe um destes esportes com o qual temos uma afinidade especial. Trata-se do esporte conhecido como
Acqua-Raids ou BóiaCross .Fiz, imprimi e doei o cartaz 42X30, para o Matheus em 1988. Na figura do "aquanauta" usei pincel e nankin. O papel é amarelado pela velhice.

A explicação é simples: para quem não sabe, em Iporanga, no ano de 1979, surgiu um embrião, o início da origem e história do BóiaCross. Embora não seja do conhecimento de todos, tudo está documentado e registrado em nossa memória. É ainda legítimo dizer que o esporte surgiu em Iporanga, unicamente pelo esforço solitário de Matheus Teodoro da Silva. Ele foi sempre o principal incentivador e lutador para a consolidação do esporte com boia, praticado nas nossas correntezas. Além disso Iporanga com suas belas cachoeiras e corredeiras naturais sempre ofereceu um cenário perfeito para essa atividade. Portanto, para falar sobre o BóiaCross é necessário antes contar a historia deste grande personagem do passado.
BóiaCross-SportTV


Matheus apareceu na cidade no inicio dos anos 70, era um forasteiro sozinho, mineiro de Cambuí, viajado como se diz na linguagem popular, uma pessoa madura, entrando para a faixa da terceira idade, com a experiência de já haver percorrido varias localidades turísticas no interior do Brasil, conforme pudemos saber através do acervo de seus antigos álbuns fotográficos e textos deixados. Ele desembarcou em Iporanga, vindo de Iguape, cidade que residia. Chegou na região atraído por alguma reportagem sobre as cavernas, ou informações obtidas de alguma agencia ou turista. Era semana do carnaval, por coincidência ele, trouxe também na bagagem, um histórico de participação em festas folclóricas, encontros culturais, bailes de salão, fantasia e desfiles carnavalescos, ele não bebia, mas onde tinha uma roda de samba ou alguém tocando e cantando, começava a dançar sempre só e as vezes dançava com uma tira amarrada na cabeça. Naquele carnaval ele dançou e pulou sempre sozinho desde a primeira até a última noite. Apesar de não ter uma boa formação acadêmica, era muito interessado na cultura, história, folclore e turismo. Era também visionário e futurista, logo a primeira vista se entusiasmou com o potencial turístico, as riquezas naturais, histórias e folclores local.


Na foto acima, o Matheus Theodoro da Silva.

Diante de tudo isto, Matheus viu, gostou e ficou. Ele, pessoa muito boa simples e bem intencionado, não tardou para fazer amizades, principalmente com pessoas de perfil parecido com o seu, como o Sr. Tota da coletoria e o Sertanista Manuel Marques, etc. Pessoas até estranhas, que tinham comportamento introspectivo.
Foto à esquerda: Matheus, fantasiado dançando sozinho, no carnaval.


À direita: o franzino Tota na coletoria.

O Sr. Tota, trabalhou e residiu em Iporanga no final dos anos 70, era funcionário público e trabalhou na Coletoria Federal, era magrinho, alegre, gostava de todos, fazia festinhas em casa, bebia muito, gostava de cozinhar e nunca foi visto acompanhado de mulheres. Viajava nos finais de semana para Sorocaba, onde visitava a família.

Manoel Marques-A suástica; parece montada na foto.

O Manoel Marques, era uma figura estranha, sisudo, muito rude, austero, morava no bairro Serra dos Motas, onde estão concentradas a maioria das cavernas do Petar. Veio de São Paulo e trouxe D. Carmosina, que era sua companheira e mãe de seus filhos. Espeleólogo e sertanista, explorava cavernas, minérios e florestas. Parecia ter formação acadêmica, tinha estilo próprio de vestir-se, até para caminhar na mata, foi amigo do alemão Sr. Luiz Nestlhener e do Clayton Lino, pessoas com quem fez intercambio de informações sobre cavernas e descobertas na região.


Primeiro mapa da Caverna de Santana - PETAR,
feito por Manoel Marques para o Matheus IpoTur.



A população tinha uma certa desconfiança quanto ao Manoel, ele andou pelos bastidores das florestas da região, no meio de uma época em que o país passava por um longo período da ditadura militar, que teve origem na revolução de 31 de março de 1964.

Para uns ele talvez pertencesse para o grupo do então subversivo, Capitão Carlos Lamarca, para outros seria algum ex-nazistas dos que se esconderam por aqui depois da segunda gerra mundial.
No entanto seu pioneirismo na exploração
da natureza foram e ainda são úteis para a revelação de alguns dos segredos das nossas riquezas naturais.
Teleférico no Morro da Coruja, um sonho do Matheus.

Por conta da amizade que o Manoel tinha com o Matheus Theodoro ele fez o primeiro levantamento topográfico na Caverna de Santana e desenhou o mapa detalhado das áreas conhecidas no interior da caverna, com título estava escrito para o IpoTur e aparecia em destaque a logomarca da IpoTur, criada pelo Matheus com ajuda do Manoel Marques. Desenhou também vários esboços de anteprojetos imaginados por Matheus, em papel manteiga, entre eles um que mostrava um teleférico turístico que descia do alto do morro da Coruja até o porto do ribeirão Iporanga.Matheus é lembrado ainda hoje, em Iporanga, por sua paixão e verdadeira cidadania demonstrada por tudo que dizia respeito a nossa cidade. Seu empenho pessoal em busca de recursos tanto nas secretarias do governo como em empresas privadas e as viagens e correspondências para os meios de comunicações com o objetivo de divulgar seus projetos e colocar Iporanga inserida no mapa turístico do nosso país foi incansável. Entre seus projetos o que mais se destacou foi aquele que ele inicialmente denominou Acqua-Raids, que depois passou a ser conhecido como Boia-Cross, e no Paraná inicialmente como Câmara-Cross.
Na foto acima vemos a premiação na festa onde aparece a miss Acqua-Raids, Elaine Maluf, do V Campeonato Brasileiro, de Acqua-Raids 1987, em Iporanga. A esquerda esta o Matheus Theodoro (com a tira presa na cabeça) e ao seu lado o vencedor Alberto Carlos, com o troféu e a Elaine; o Ito ( Luiz Nestlhener Filho); o Branco( Edson Marcos de Lima) e o Sidnei Maciel, ambos com o certificado de participação.

Jovens se divertem no Boiacross

O esporte definido como radical consistia em disputar uma competição no rio Betary, onde a corredeira é muito forte, ou ainda no rio Pardo, percorrendo distância de 5000 metros, com tempo de 40 a 60 minutos, para tanto, era necessário e obrigatório, primeiro saber nadar, além disso equipar-se com: macacão ou calça comprida; camisetas de mangas longas; tênis para proteger os pés; meias de futebol por sobre as barras da calça; caneleiras; câmaras de ar para caminhão tamanho 9X20 ou 10X20; ainda mais que indispensável capacete, e ter idade entre 15 e 50 anos.

Havia premiação e troféus para os cinco primeiros e certificado de participação para os demais competidores. A entrega do prêmio era feito pela Miss Boia-Cross em um evento realizado na mesma data, em evento realizado à noite em local apropriado na cidade de Iporanga. As inscrições eram feitas por correio ou na cidade na sede da IpoTur, encerrando-se em no máximo um dia útil antes do início do campeonato.Rio Betary, local da largada, no Petar, junto à Caverna de Santana.

O Matheus era orgulhoso do projeto e enfatizava em seus primeiros cartazes patrocinado pelo Expresso Princesa dos Campos S/A, que o esporte ACQUA-RAIDS era Sui-Generis . Os Aquanautas, (palavras criada pelo próprio Matheus) equilibrando-se em câmara de ar, deslizam velozmente pelas águas das corredeiras de Iporanga, numa invenção típica paulista, que para muito supera o SURF importado do HAWAÍ. Ainda segundo ele Iporanga era o paraíso do Acqua-Raids, idealizador e organizador dos eventos. No cartaz do quinto campeonato brasileiro de Acqua-Raids realizado em 1987, estava escrito em destaque junto ao título no cabeçario, em letras garrafais, a frase que ele gostava de repetir: " O único do gênero no Brasil e talvez no Mundo" .

Naquele ano, 02/02/1987 a classificação geral foi a seguinte:

Nome ....................................................................Tempo ................Premio ...................Procedência

1º - Alberto Carlos.......................Campeão.............45.......min. ...........Troféu .......................Iporanga
2º - José Tadeu dos Santos.........V.Campeão......... 51........ " ...................." .........................Iporanga
2º - Edson Mota Rodrigues..........V.Campeão .........51........." ...................." ..............................Serra
2º - Nilton Andrade................. ...V.Campeão ........ 51........." ...................." ..............................Serra3º - Agnaldo Jesus de Lima ...................................52,30...." ...................."...........................Iporanga
4º - Darcy Aguiar dos Santos ................................54,00...." ..............Medalha...........................Serra
5º - Irineu Ramos de Lima .....................................55,00... " ...................."............................Iporanga
6º - Edson Marcos de Lima ...................................56,00... " .............Certificado.....................Iporanga
7º - Geovan Luiz da Silva.. ....................................57,00... " .....................".............................. Serra
8º - John Kennedy.................................................57,00... " ....................."...............................Cotia
9º - Agbaldo Oliveira Monteiro.................................58,00... " ....................."............................. Serra10º-Marcelo dos Santos.........................................62,00... " ....................."............................. Serra
11º-Sidney Maciel da Silva.....................................64,30... " ....................."............................. Serra12º-Adalberto Ramos de Lima...................................................................."...........................Iporanga
13º-Sandro Marcos Lopes.........................................................................."...........................Iporanga

O destaque foi a linda Miss Acqua Raid's !987, Srta. Elaine Maluf, que veio da cidade de Venceslau Braz, estado do Paraná e deu um toque de beleza ao evento. O Alberto com mais esta vitória, além de ser o recordista da prova, também sagrou-se bi-campeão, por haver vencido no ano anterior. Depois do evento o Matheus viajou com os aquanautas e a miss para cidades do interior, divulgando e promovendo o novo esporte radical.

A cada ano que passava, as competições tornavam-se mais importantes e conhecidas, em outras regiões e atraiam mais competidores, além de conquistar o interesse dos praticantes de canoagem, filiados em entidades de outras localidades. Hoje existe campeonato de Boia-Cross disputados em localidades como Brotas ou outros mais badaladas, com competidores mais preparados e promovidos por organizadores mais estruturados em todo o país, porém eu acredito que o nome do vaidoso, Matheus Theodoro da Silva, o maior incentivador e idealizador nunca é lembrado.
O Matheus quando chegou em Iporanga nos anos 70, residiu primeiro na pensão da Dona Jovita, depois instalou-se por uns tempos na rua Carlos Nunes onde começou a esboçar a ideia da criação da IpoTur, empresa de turismo que ele pretendia desenvolver para divulgar , estimular e explorar o turismo na cidade. Depois instalou-se na rua Dom Lúcio, 91 na parte de baixo da quitanda do Antonio Pito, onde começou a comercializar revistas velhas e vender jornais; primeiro a Tribuna do Ribeira, depois a Folha de São Paulo. Mais tarde mudou-se para a Praça Honório Corrêa, onde permaneceu por um longo tempo e finalmente mudou-se para a casa que construiu no Alto do Coqueiro. Morou lá por muito tempo e nesse período correu atrás de políticos e empresários em busca de recursos e apoio para seus projetos. Promoveu sozinho várias competições do BóiaCross, modalidade esportiva, que atingiu seu ponto mais alto do sucesso, no final dos anos 80, quando Matheus começou a ter problemas de saúde, e sérias complicações renais, enfermidade esta, que finalizou as derradeiras páginas de uma vida, que fora dedicada à cidade que ele, assim como poucos, abraçou e amou de verdade neste mundo, preenchendo o espaço, que antes só foi ocupado pela própria mãe.

Em sua narração sobre o último capítulo vivido por Matheus Theodoro da Silva em Iporanga Flauzina Corrêa falou: Certo dia no inicio do 1990, ainda no mandato do prefeito Valfredo, apareceu na porta da sala da minha casa e eu mandei que entrasse, o Sr. Matheus, ele aparentava não estar bem de saúde. Tivemos uma conversa objetiva, na qual ele foi direto ao assunto, pediu-me que cedesse-lhe um pequeno cômodo de madeira que eu tinha ao lado do meu hotel, que era utilizado como dispensa, ou fora ocupado pelos pedreiros que trabalhavam na obra de ampliação da segunda laje do hotel, mas que naquele momento o cômodo estava vago.
Sr. Matheus argumentou que estava meio adoentado e gostaria de ficar naquele lugar para continuar seus trabalhos, sem ter que subir muitas vezes até sua casa no Alto do Coqueiro, evitando maior desgaste para sua saúde, já muito debilitada. Comentou que estivera em São Paulo no hospital Bandeirantes tratando de problemas renais, pelo que ele me disse passou por hemodiálise e teria que voltar sem falta para o hospital, ou morreria, mas afirmou que para lá não voltaria de jeito nenhum. Diante desta situação neguei o pedido do Matheus para ocupar o cômodo, alegando que ele estava muito doente e poderia morrer ali sozinho e alguém me culpar, disse também que lá era um barraco provisório e que por isso seria desmanchado, e que os pedreiros ainda alojados ali. O homem voltou para sua casa. Neste mesmo tempo vários recados em telefonemas ao posto de saúde, pedia o retorno do paciente imediatamente ao hospital, pois se demorasse um dia a mais era morte certa. A resposta foi não disse que não voltaria de jeito nenhum e não foi.

Tínhamos um grupo na Igreja Católica que se reunia na Igreja de São Benedito, que participava de um encontro denominado Circulo Bíblico, que era dirigido pelo padre mvd. Efraim, que tinha como objetivo estudar o evangelho e fazer alguma boa obra social na comunidade, na pauta da reunião daquela semana conversamos sobre o caso do Sr. Matheus e alguns de nós juntos saímos a sua procura para convencê-lo a voltar para São Paulo e ao hospital. Encontramos-o já internado na Santa Casa de Iporanga,em péssimas condições de saúde e conseguimos que ele mudasse de atitude.
Depois de muita conversa Matheus chorou e resolveu enfrentar a situação, conseguimos um veículo e ele foi transportado para São Paulo onde ficou internado dois dias e faleceu. O hospital ligou para Iporanga perguntado se buscariam o corpo, ou se fariam o sepultamento por lá mesmo. Informado do recado o prefeito Valfredo veio pessoalmente me perguntar o que faríamos: se traríamos o corpo ou não. Respondi com um certo pessimismo que fizemos tudo o que pudemos quando ele vivia e que talvez agora pouco importava enterra-lo aqui ou lá. O prefeito discordou dizendo que não podemos deixá-lo lá afinal ele amava muito esta cidade, fez tudo o que pode por ela, lutou muito pelo nosso turismo, pelas nossas tradições. O prefeito saiu dali e acertou com uma funerária para fazer o translado e providenciar o funeral. A guardação ocorreu no antigo velório da Santa Casa de Iporanga, com a presença de poucas pessoas. dos políticos e pessoas da comunidade, poucos estiveram presente no cortejo entre eles, Willy Nestlhener, Nego Cabeça Branca, Walter Claro, Edivaldo, Neusa do Gervásio e Dilma do Milão. Na porta do cemitério aguardavam o prefeito Valfredo, a Lucinha da D. Elvira, Inês Mendes e o coveiro João Castilha. Na hora de baixar o caixão na sepultura fizeram um breve discurso, o prefeito Valfredo e o Willy, que tropeçaram e quase caíram dentro da cova. A casa e a banca de jornal do Sr. Matheus ficaram fechados. Um anúncio, em forma de edital, foi colocado em um jornal, chamando algum parente seu para que reclamasse o espólio. No entanto trinta dias se passaram e ninguém apareceu.
Passado alguns dias encontrei entre alguns papeis deixados, em minha casa, por acaso, pelo Sr. Matheus, em uma das vezes que esteve lá, esquecido sobre alguns livros da estante, um número de telefone da cidade Cambui-Minas Gerais, com o nome de uma de suas tias. Liguei para a tal tia e passei as informações sobre o falecimento a casa o ponto comercial e outros pertences deixado pelo sobrinho. Ela confirmou ser parente muito distante do falecido, disse também que ele não tinha mais ninguém, mais nenhum parente. No entanto não demonstrou nenhum interesse na casa e nos demais bens deixados, disse que tinha sua casa e suas propriedades lá em Minas e que não viria para Iporanga resgatar a casa e nada, pois a distancia era muito grande e etc, e etc.
No mesmo dia houve uma reunião do Circulo Bíblico e apareceu naquele encontro uma mulher carente e desesperada dizia que o marido expulsou a de casa com os sete filhos pequenos, além disso ainda ameaçou-a de morte.Ela era filha do Dito Coisaruim canoeiro da Ribeira Acima, disse também que não tinha dinheiro para comer e não tinha onde dormir. Diante desta situação alguns membros daquela reunião, Eu , a Alvina com o Paulico, a Nice Konesuk e o Edivaldo resolvemos falar com o delegado sobre a hipótese de colocar aquela senhora aos menos provisoriamente na casa que era do Sr. Matheus.
Estabelecimento do Sr. Matheus na praça Honório Corrêa, 84, onde vendia os jornais: A Tribuna do Ribeira, A Folha de São Paulo e revistas diversas.


O delegado desaconselhou dizendo: -- Não! Isso é perigoso! Não façam isso é contra a lei. Saímos dali eu, a Alvina com o Paulico e o Edivaldo, entramos na casa, mudamos tudo o que estava ali para a casa da praça Honório Corrêa, onde funcionava a banca de jornais e revistas do Sr. Matheus, e ali ficou armazenado tudo por muito tempo.

Associados do Círculo Bíblico do padre Efraim na Igreja São Benedito nos anos 90. São as mulheres:Casemira, Ana do Janguinho, Antonia Pontes, Josefa, Elvira,Florentina, Maria do Dante, Ditinha, Isalina, Flauzina Corrêa, Maria Antonia, Alice do Sr. Paulo. Maria Chumba, Maria Marques, Lourdes do Juquica, Julia, Nha Marta, Margarida da rua da Palha, Nha Antonia mãe do Pão Doce, Glaucia, Bega, Samanta, Azenir, Donária. Os Homens: Padre Efraim, Zé Gustavo, Paulico, Zé Nuli, Dante, Rio Grande, Luis Antonio.
A casa do Alto do Coqueiro passou por uma reforma e a chave foi entregue para a Maria dos sete filhos, como era conhecida. A comunidade forneceu também os móveis, eletro-domésticos, etc., além de roupas e cobertas, para ela e as crianças. O prefeito Valfredo providenciou sextas básicas para ela até o dia que ela recebeu o primeiro salário de um emprego na Fazenda Gamboa conseguido pelo Círculo Bíblico.
Depois a prefeitura efetivou a posse para aquela família. Os filhos cresceram e a D. Maria foi trabalhar em São Paulo, onde conseguiu melhorar ainda mais sua vida. Outro dia a Alvina me chamou para contar-me que a Maria dos sete filhos, esteve em Iporanga muito importante dirigindo o próprio carro. Não é uma benção? Parabéns!Matheus Theodoro da Silva está sepultado no Cemitério Municipal de Iporanga, e mesmo tendo deixado seus poucos bens, esforços e dedicação para a cidade, para os esportes radicais como: a canoagem e o rafting; para o turismo; deixou também a própria casa para sucesso de uma família.
Depois de Matheus Theodoro, a procissão fluvial de N. S. do Livramento, no dia 31 de Dezembro, ficou mais enfeitada, com o brilho acrescentado pela participação dos jovens aquanautas e suas bóias.


Matheus não tem um túmulo, não tem um epitáfio e praticamente ninguém além do livro de registro dos túmulos dos mortos sabe onde é sua sepultura, e que também sobre o seu caixão já tem outro caixão "encavalado" (na linguagem de coveiro). Está aí, uma oportunidade para se fazer justiça e homenagem a um verdadeiro cidadão Iporanguense...Ainda que póstuma. Acorda Iporanga! Acorda Câmara Municipal! .

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

D. Antonia Pontes, foto do Pe. Efraim, na Igreja de S. Benedito.

Paulo Pontes, Paulo Claro, Paulo Preto...Dona Antonia Pontes.

Na madrugada desta terça feira, 18/01/2011, eu estava na posto de saúde tentando ajudar a embarcar minha filha, esposa e nosso bebe, que iriam no veículo da saúde, até Pariquera, onde a menina faria raio X, para diagnóstico de um problema médico. Embora tudo já estivesse previamente agendado, o fato do carro estar muito lotado, causou a desistência da viagem para levar a menina, e também o adiamento do raio X, que no dia seguinte, tentaríamos remarcar para outra data.

O relógio do painel eletrônico, na avenida Iporanga, ainda marcava quatro e cinquenta da madrugada, no momento que a mãe com o bebe desceram do carro da saúde e juntaram-se à menina, que ainda estava fora do veículo, para irmos embora. Foi aí, que eu ouvi o Paulinho, do Augustinho Claro, que trabalha no posto, falando para uma pessoa, que o corpo do Paulo Pontes, poderia ser visto em uma das salas, e que o falecido havia sofrido de um mau súbito, naquela mesma madrugada e mesmo sendo socorrido e trazido ao médico, por uma ambulância, já chegou naquele local sem vida.
05/1998-Paulo - Festa da recuperação da
imagem de Santana, quando foi roubada.


É evidente que em uma comunidade como a nossa, onde a diversidade social, tem uma convivência muito harmoniosa e amigável, devido a laços de carinho e amor consolidados pelos vínculos de amizades das famílias. Essa afinidade remonta a um entrosamento, onde todos os sentimentos são compartilhados e foram adquiridos através de mais de século. Por isso qualquer coisa negativa que aconteça a qualquer um de nós, causa nos espanto, preocupação e tristeza. Porém quando a situação é positiva, e existe motivos para alegrias, estas são também comemoradas, contagiando a todos. Infelizmente, com a má notícia, todos ficamos muito impressionados. O nome Paulo Pontes, pronunciado naquele momento, mesmo agora, após ter deixado este mundo, jamais será esquecido. Se bem que o nome não é Paulo Pontes, mas Paulo Claro. Entretanto, para nós, para sua família e amigos, será sempre o eterno Paulo Preto, que agora ocupa uma das grandes moradas, das muitas que foram construídas e nos aguardam, dentro da casa do Pai, que está nos Céus.

Paulo Branco, foto do acervo do
Paulo Preto e D. Sebastiana-1995


Em Iporanga a forma peculiar, e a intimidade de colocar, ou modificar os nomes é impressionante. O Paulo Preto era assim chamado carinhosamente, tal como acontece com o Paulo Branco. Deste último, não temos notícias; saiu de Iporanga muito doente com problemas pulmonares. Ele foi levado para São Paulo, pelos filhos que moram lá. Voltando á questão dos nomes: o adjetivo acrescentado, é o que menos importa, pois existe na cidade o Branco do Onésio Maciel, que é mais moreno do que branco, e o Preto do José Rola, que é mais branco do que moreno. Além disso, por exemplo, tem também nomes como: Dito Preto (Dito Delfino), Dito Branco (Dito Tanásio), Dito Paca, Dito Padeiro, Dito Guache, Dito Coisaruim, Dito Romão, Dito Padre, Dito Feio, Dito Pedra, Dito Argola, Dito Pança, Dito Valente, Dito Senfim, Dito Citroen, Dito Sargento, Dito Vardu, Dito Ligia, Dito Gelo, Dito Rocha, Dito Mendes, Dito Mário, Dito Ribeiro, Dito Pão Doce, Dito Tito, Dito Cabrito, Dito Chaves, Dito Barro, etc. e outros do gênero em Iporanga, que encheriam a página.

Considero tudo o que foi escrito até aqui, importante, além de ser uma pequena lembrança em homenagem à memória do meu amigo e companheiro de culto religioso, que é merecedor de toda nossa estima. Também é merecedora a sua família, para quem agora dirigimos nossas condolências. Porém, outra coisa que me levou a escrever esta postagem, foi a lembrança da figura da mãe do Paulo, Dona Antonia Pontes, que era muito amiga da nossa família e adorava a minha mãe Flauzina. Uma ocasião minha mãe contou-me sobre o último dia da Dona Antonia, uma história que eu sempre quis colocar no papel; e me parece que este é o momento; e aqui vai, conforme o relato de Flauzina Corrêa:

Dona Antonia morava na mesma casa, onde atualmente residia seu filho Paulo e a esposa Dona Sebastiana, que passaram a viver naquele local, após o falecimento da mãe, algum tempo depois deste, ter conseguido a sonhada aposentadoria. Naquela época a idosa senhora, muito religiosa vivia sozinha, naquela moradia e sentia-se muito só, pois seu filho casado, o Paulo, morava e trabalha na mineração, em Adrianópolis, (para nós antigamente a cidade era conhecida como Panelas).

O Gico esteve desaparecido.

O outro filho, conforme ela dizia, o Gico havia saído de Iporanga, não dava notícias a mais de 20 anos. Dona Antonia era uma pessoa muito agradável, ria muito, sabia fazer piadas engraçadas, contava muitos histórias interessantes, era ótima companhia. Ela dizia que tinha medo de dormir sozinha na própria casa, por isso queria estar perto de nós, por essa razão estava sempre em nossa casa e gostava de dormir sempre no sofá da sala.
Uma certa noite ela conversou conosco, contou causos e riu como sempre, foi dormir e na manhã seguinte entrou em nossa mercearia, que era junto da casa de nossa família. Dona Antonia, era aposentada e ali fazia suas compras, para pagar quando recebia sua aposentadoria, a cada mês. Ela entrou no estabelecimento logo que ele havia sido aberto, comprou um frango congelado e disse:--Vou comprar, levar para fritar e por numa lata, para comer um pouco a cada dia.

Depois virou-se para mim e contou o sonho que teve naquela noite, antes disse que o sonho era ruim. Sonhou que havia morrido e que assistiu no sonho o próprio velório, que era em uma sala que ela não sabia onde. No próprio velório ela viu que estava presente o seu filho Gico desaparecido, aquele que ela não via a muitos anos.

Dona Antonia mandou marcar o frango no caderno da conta dizendo: --”Mecê assente”, mas antes que ela fosse embora eu ainda tentei tranquilizá-la quanto ao sonho dizendo: --"A senhora não se preocupe, pois esse negócio de sonho é bobagem. Sonho é sonho e nada acontece, tudo não passa de um simples pesadelo". Mesmo assim ela saiu e foi embora para casa muito impressionada com a história. Mais tarde, no mesmo dia em sua casa, ela começou a passar mal, os vizinhos chamaram a ambulância e a levaram para o hospital. Depois correram para me avisar, sobre o estado de saúde dela. Imediatamente corri para a casa de saúde, que era perto, para visitá-la, quando cheguei o Doutor João Baffa (não e bafo de cachaça) examinava a paciente apreensivo e dizia:--"Avisem a família para que venham visitá-la. Urgente! " Em seguida encaminharam a paciente, para Apiaí. Mal ela chegou ao hospital de Apiaí, e não resistindo a crise, faleceu.

O velório aconteceu segundo me informou Dona Sebastiana, em Adrianópolis e o filho Gico desaparecido, não apareceu para a guardação. Soube-se algum tempo depois notícia do falecimento dele. O Gico foi tropelado com sua carroça quando catava papel para reciclagem. Antes ele havia aparecido e morava em um quartinho dos fundos da casa da irmã em S. Paulo, estava desempregado a muito tempo e vivia de catar papelão na rua com sua carroça.

Apesar da chuva, fizemos o sepultamento do Paulo de Dona Antonia ontem no finalzinho da tarde, peguei em uma das alças do caixão, que estava leve, para ajudar a conduzi-lo ao interior do cemitério, quando fomos cruzar o portão, notei que naquele momento um peso muito acima do normal. Fato que eu já havia ouvido dizer, que pode ocorrer, mas que eu nunca antes observei. Quando , após as palavras de despedidas,
o Juca Mané e o coveiro Jesus, colocavam as últimas pás de terra, na sepultura, eu ainda consegui dizer, sob a chuva em voz audível:--”Descanse em Paz”.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Casarão em Iporanga 10/02/2008

O Aniversário da Cidade



O Serginho, Presidente da Câmara, me procurou outro dia para que eu fizesse uma pequena palestra, sobre Iporanga, dirigida ao público do plenário da casa legislativa municipal, numa sessão, que ali se realizaria. Era parte das homenagens, aos 137 anos de emancipação política de Iporanga, a proposta foi aceita, apesar de se saber, que a presença de pessoas, naquele espaço, para assistir às reuniões é sempre pequena. Porém, de qualquer forma, seria uma rara oportunidade para passar aos mais jovens informações e curiosidades, que talvez eles não encontrem facilmente em um momento qualquer. Preocupa-me sempre o desinteresse dos jovens e autoridades pela origem e formação da nossa população e os acontecimentos de nosso passado, que deram certo, ou deram errado. O presente será sempre construído sobre o alicerce deixado pelo que veio antes. Imaginem vocês se alguém não se preocupasse em relatar a trajetória do povo escolhido por Deus, transmitindo cuidadosamente fatos, relatos e escrevendo através dos tempos. Algumas informações foram preservadas e outras resgatadas com muito cuidado. Caso contrário hoje não teríamos a Bíblia. A Ciência estaria parada na idade da pedra e a Economia não existiria. Seríamos um povo com amnésia, como acontece com algumas cidades que não tem passado, ou pessoas que não sabem o nome dos avós e muitas vezes não guardaram de recordação nem um retrato do próprio pai, ou ainda não sabem em que lugar do cemitério enterrou o corpo da própria mãe. Afinal estou gastando toda esta prosa para dizer, que a palestra foi cancelada na véspera, por não sei qual motivo, que também pouco me importou. Por isso ontem, 12 de janeiro de 2011, a cidade de Iporanga,( Sim! Iporanga é cidade! Conforme determinou a Lei estadual nº 1038, de 19 de dezembro de 1906) ela, a cidade, estava de portas fechadas, nem as igrejas funcionaram, todos guardavam o dia do aniversário de 137 anos de emancipação política, a data foi recebida em silêncio e como dizia o poeta Noel: “Sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar, sem violão”- Claro que tem uma explicação os shows comemorativos haviam sido antecipados para o final da semana passada. Violão nunca teve antes, mas alvorada havia. A banda e alguns madrugadores, antes dos primeiros raios de luz da aurora saiam tocando pelas ruas da cidade acompanhados com foguetes e finalizando em um café com pão, para os músicos, na padaria da dona Áurea, na praça de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na verdade ninguém explica muito bem por que a data é o dia12 de janeiro, afinal Iporanga emancipou-se em virtude da lei provincial nº 39, de 3 de abril de 1873. Dos 137 anos de emancipação teríamos talvez que descontar dois, pois o Decreto nº 14334 de 21 de maio de 1934, reduziu o Município à condição de distrito e só em 23 de dezembro de 1936 por efeito da lei nº 2780 conseguida com muito esforço do Sr. Pedro Caetano dos Santos e o deputado Diógenes Ribeiro de Lima, conseguiu novamente ser elevado o à categoria de município. Acho que cidade sempre foi e será, pois ninguém sabe dizer como ficou o título de cidade, pois não se falou em sua em sua revogação nem restauração. Comemorar aniversário está sempre associado a festa, alegria e bons momentos. Hoje existe até emenda de deputado para custear festas populares. Na minha infância em um momento crítico da vida da cidade nos anos cinqüenta, a data quase nem era lembrada, a prefeitura e todos eram muito pobres e as arregadações municipais, mal dava para pagar os "orelhas secas", que limpavam os caminhos da zona rural. O que mantinha o povo era a agropecuária de subsistência, a fartura de peixes nos rios, o palmito a caça, não havia emprego, nem prefeitura como provedor, nem aposentados, nem bolsa família.Quando muito só havia A Conferência de São Vicente de Paula com Serviço de Assistência aos Desvalidos em Geral. Para chegar na cidade só havia uma entrada, que era a mesma para a saida, com a mesma e única jardineira. As vezes algum escapava de canoa pelo rio Ribeira.

Rio Ribeira de Iguape em Iporanga

Em 2006 um visitante escreveu um texto na internet com o título de IPORANGA que eu identifiquei não como Iporanga do ano 2000, mas como a cidadezinha perdida no tempo dos anos 50. O autor anônimo escreveu assim:

IPORANGA

Terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Iporanga é uma cidade pequenina, aparentemente a última de uma estradinha que parece estar nos levando ao fim de um certo mundo, o qual, pouco a pouco, irá se revelar.

O que nos encanta quando chegamos e durante as primeiras caminhadas é a diversidade de flores que enfeitam as ladeiras(nesta época as montanhas estão cobertas pelas lindas flores amarelas da guaricica) e casinhas; o grande rio Ribeira de Iguape que atravessa embelezando a cidade;o pequeno Ribeirão Iporanga que oferece suas águas transparentes para o banho delicioso e gelado a qualquer hora do dia quente; e as verdes montanhas que se desenrolam em ondas para todos os lados, até o infinito.
Logo na primeira manhã escalamos uma das mais próximas, o Morro da Coruja, ziguezagueando uma trilha que, como uma serpentina, contorna todos os lados do cume e nos permite uma visão múltipla, como se pudéssemos contemplar todos os lados do infinito, enquanto a pequena Vila de Iporanga repousa tranqüila lá em baixo, como se mineira fosse. Tudo o que de deslumbrante contorna e abraça a cidade também dissimula um comportamento muito peculiar.

A primavera em Iporanga e o Ipê amarelo.


Um traço que é quase uma reminiscência, algo quase pedido, que muitos de nós, da cidade grande, nem chegamos a conhecer e chegamos mesmo a estranhar que ainda exista: um mundo quase sem maldade, onde o doce “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite” é acompanhado sempre de um olhar e tom de voz que carregam invariável inocência ou boa fé, o que faz com que nos desarmemos a princípio para encantarmo-nos em seguida.


A sala da Dona Flauzina ela mesmo, os netos, Dona Maria Marques, a Lia e o Japa Shibutane

Outra marca da cidade é a religiosidade visível e presente em vários momentos e paisagens do dia: a igreja sempre cheia na hora da missa; (bons tempos aqueles) palavras de fé proferidas nos rádios e TVs e ouvidas pelas janelas das casas durante a caminhada; a praça da igreja matriz que ainda é o núcleo de todas as idas e vindas dos moradores; e aquele comportamento, aquela busca de postura comedida e austera de quase todos os fiéis, mesmo os que o fazem de forma instintiva: enquanto tomávamos nosso café da manhã na casa da dona Flauzina, contemplando um conjunto de fotografias antigas na parede da sala, que dava ares de beleza singela e “tempo perdido” ao ambiente, ouvíamos na TV o padre, que em muito se relaciona com a religiosidade do povo de Iporanga.

A singeleza deste povo está presente até no futebol jogado ao cair da tarde no campo gramadinho da cidade , onde, durante as partidas, quase nenhum palavrão é proferido e o “jogo limpo” parece ser a regra mais respeitada.(Quem não estava jogando? Mike? Jovelino? Tusão? Quem mais?)

Futebol entre amigos,nos bons tempos, parte de uma festa familiar em Iporanga. Em pé: a esquerda Jamir Itaóca, Ari knor, Edson Pigudu, Zé Luiz, Ari mendes, Alberto Corrêa, Hido, um Itaoquense, Jesinho de Apiaí, Dedé, Nego Cabeça Preta, Xavierzinho e os meninos de Itaóca.

A violência aqui é esparsa, não é marcada por uma violência acentuada, movida por sentimentos que povoam, sorrateiros, a vida pacata e aparentemente tranquila de lugares como esse, onde pessoas não parecem preparadas para assimilar este lado obscuro e incompreensível do espírito humano. Mas nesse mundo de paz, já aconteceu de infelizmente, algum jovem afastar-se do bom caminho e ficar renegado à margem da comunidade.