sexta-feira, 12 de novembro de 2010

1940 rua Funda, Iporanga SP - clique com o mouse nas fotos.

Iporanga memórias (Jeremias Corrêa)
1940-1951

Daduca, Pedro de Lima, Pedro Caetano
e o José Salathiel na Luz- SP em 1920.
















Esta postagem é continuação da anterior "Memórias de um Caboclo de
Iporanga" , que foi colocada neste blog antes desta."Memórias de Iporanga"(Jeremias Corrêa) 1940-1951, aparece aqui na frente por um critério de apresentação do blog, colocando primeiro sempre as publicações mais recentes e empurrando para trás as mais antigas; portanto as vezes, pode dar a impressão que as histórias são apresentadas de trás para frente, embora não sejam. Para entender melhor e pegar uma melhor sequência dos textos é aconselhável primeiro ler a postagem anterior. Se você ainda não leu... É claro!

Antonio Moreira e tropeiros, largo da matriz, Iporanga.


Década de 30


Ainda nos anos 30; Segundo o meu pai, Sr. Honório Corrêa, teve início a construção da estrada de rodagem que liga a cidade de Iporanga a Apiai, rodovia que só ficou definitivamente pronta no ano de 1940 quando eu tinha quase 2 anos de idade.
Assim eu começo a descrever a caminhada de Iporanga dos idos anos de1940, até o ano de 1965. Foi ainda sobre o controle da ditadura do Presidente Getulio Dornelles Vargas, que Iporanga sofre com o mau de ser governada por prefeitos que eram nomeados, cujos mandatos, muitas vezes não duravam mais que semana.


Getulio Dornelles Vargas, com roupa clara-1940.



1940


Pedro Caetano e Benjamim dos Santos 1930

Na década de 40, durante a Segunda Grande Guerra e também um pouco depois, os prefeitos de Iporanga foram: Benjamim dos Santos Lisboa, Rafael Descio (Fequinho), Pedro Caetano dos Santos e outros.

A estrada de rodagem estava por terminar e era construida pelos arigós (empreiteiros) que já estavam trabalhando nos trechos do Betari e Volta da Ribeira.
Os Arigós usavam explosivos nos trechos de muita rocha calcária que eram abundante por ali. Depois que a dinamite explodia, subiam para o ar enorme nuvem de fumaça e poeira. Pedras voavam pelos ares, as maiores rolavam pelas barrocas e abismos, lavrando as árvores que encontravam pelo caminho, afugentando as aves e animais silvestres, longe de extinção, naquela época.
Enquanto em outros trechos os bueiros eram feitos, sempre de forma quadrangular por bons pedreiros, que os faziam sempre com areia e cimento, utilizando pedras calcárias abundantes nossa região.
Um dos pedreiros que trabalharam nesse serviço, foi Sr.Joaquim Antonio de Albuquerque, o Joaquim Buqueca.
Nos anos 40, meu pai, Sr. Honório Corrêa (Honório Caboclo), ainda era bastante jovem, tinha na boca todos os dentes naturais (que conservou até os 90 anos), os cabelos eram todos pretos, bem penteados; quase sempre usava o seu chapéu de pano marrom.

Imagem da rua Coronel Descio a esquerda da foto vemos a casa do Sr.Celso Descio e
na direita o casarão do Nhô Athos dos Santos, próximo ao porto do Ribeira.


Em Janeiro de 1940, eu ainda muito pequeno, seguro pela mão do meu bondoso pai, fomos até o porto dos Roque ver a enchente do rio Ribeira, isto logo no começo da epidemia de malária.
O Ribeira estava muito cheio, com suas águas turvas e barrentas. Então nós podíamos ver descer paus e tranqueiras de todos os tamanhos, bem como espuma amarelada girando até baterem nos rochedos da Cachoeira do Custódio.
Apesar do sofrimento da população, a estrada de rodagem só foi inaugurada, pelo interventor Dr.Adhemar de Barros, que era muito amigo de Iporanga, no mês de julho de 1940, quando chegou até aqui com sua comitiva (O Dr. Adhemar falava alemão fluente para delírio dos colonos Alemães).
Depois de inaugurada a rodovia o governador, foi recebido com flores na frente da igreja matriz. As crianças em fila dupla, com Dona Juliana arrumadeira da igreja, mulher muito religiosa, se engaram e jogaram as flores no Sr.Vandir, que dirigia o carro do governador, com quem muito se parecia.
O povo que assistia tudo caiu na gargalhada, mas o Sr.Vandir não; ele ficou envergonhado, mas até gostou. Depois de um discurso improvisado, o Dr. Adhemar escolheu dois bons canoeiros de Iporanga, Militão para ajudante e o Luizinho Cangalha (Cangalha por que tinha perna cambota) para levar ele de canoa para Eldorado (Xiririca), mas o Adhemar por medo das cachoeiras do Ribeira, exigiu que se fizessem estradas na margem do rio onde estavam as grande cachoeiras como: Funil,Caracol, Jurumirim, Poço Grande de Cima e de Baixo, Sapatu, etc., para que ele desembarcasse da canoa e proseguisse por terra, até encontrar com a canoa depois da cachoeira e não correr risco de perigoso naufrágio no meio da corredeira. O Cangalha piloto muito esperiente e acostumado a viajar com o motor Arquimedes, e confiante na sua extraordinária habildade, nem tomou conhecimento da história e tocou firme a canoa; em certo momento o governador, meio desconfiado perguntou :--Já estamos próximo da primeira cachoeira? O canoeiro respondeu:-- Dr. na próxima curva do rio avistaremos Xiririca. Em sua despedida o Dr. Adhemar prometeu voltar novamente a Iporanga, o que por alguma razão que desconhecemos, nunca mais aconteceu.
O povo ficou muito contente com o nosso novo sistema de transporte, que agora utilizava a rodovia.
De meados de 1940 em diante, a população já não dependia de transporte de mercadoria em lombo de burros e tão pouco dependia do transporte feito por canoas, mas o chumbo da Mineração Furnas e Lageado, deste municipio, pegava outro destino com a inauguração da estrada, saia sem passar pela cidade, o que foi uma perda muito grande para o comércio do municipio. Segundo Dona Isaura Moreira, o primeiro carro que chegou a nossa cidade foi uma daquelas baratinhas Ford Bigode ano 1928, dirigida pelo Sr. João Isaias( João Alemão). Alguns motoristas de Iporanga, naquela época era o Sr. João Cubas, Pedro Corrêa e outros.
No fim de julho de 1940, Segundo Sr. João Manoel de Oliveira caiu o primeiro avião na cidade. Era um pequeno aparelho, os três ocupantes, que sairam ilesos, o piloto, sua mulher e sua criança.
O avião Segundo o piloto, fez um pouso forçado por falta de combustível. Muito nervosa a mulher do piloto queria jogara criança do avião antes que o aparelho se chocasse com o solo, o que foi impedido pelo Sr. Pedro Caetano dos Santos, que fez um sinal negativo com as mãos . O avião pousou na estrada onde hoje é a avenida Iporanga, na altura onde hoje se encontra a escola estadual. Quem atendeu a ocorrência foi o soldado Goiano que respondia pelo delegado de polícia que não se encontrava na cidade. Naquele bons anos a grande maioria da população de Iporanga era natural do município, os forasteiros não chegavam a 5%.

Na foto ao lado vemos à esquerdo o motorista Pedro Corrêa ( veja na foto, que naquela época todo motorista ostentava com orgulho o quepe na cabeça identificando assim o profissional do volante), na direita deste, o Renato de Nha Bigota (Renato da Silva Pereira; gostava de usar bombacha).


Outra curiosidade é que nossos cidadãos eram quase todos parentes entre si, ainda que fosse de grau distante. Eram totalmente católicos praticantes por tradição, sobrando apenas uma dez pessoa protestantes,(No censo de 1940 Iporanga tinha 7851 Católicos, 20 de outras religiões, 1 sem religião e 1que não declarou a religião) que faziam seus cultos na casa das Gordas, pois eles eram em número reduzido, e não tinham templo na cidade.
Com a chegada do transporte motorizado nossa cidade passou a ter um melhor comércio externo, tanto para vender seus produtos como para comprar o que vinha de fora.
Os viajantes já chegavam para vender em Iporanga os seus produtos em seus próprios automóveis fazendo aqui bom negócios.
As casas que mais vendiam aqui em nossa praça eram: o Ferreira Dal Pontes, Rolando Armando e outras. Os viajantes vendiam tecidos, armarinho, fumo, bebidas, doces e salgados, roupas feitas e miudezas em geral; vendiam, perfumes, as marcas mais comuns eram: o talco realce, brilhantina grostura, o famoso óleo de ovo para cabelos e outros.
As bebidas mais vendidas eram: a pinga, o férro quina, o guinado, o guaraná, o refresco de abacaxi, o xarópe de capitu, etc.; os doces mais vendidos naqueles anos eram quase sempre: bala, bombons e os famosos rebuçados portugueses Luis de Camões, que vinham naquela famosa lata quadrada.
Iporanga produzia e vendia muita rapadura de laranjas , farinha de mandioca, e de milho; vendia: arroz, milho, feijão e frutas como abacaxi, mexerica, banana e outras frutas.
A primeira doceira (caminhão baú de doce) que veio para a cidade era da Distribuidora Bandeirantes e o primeiro caminhão de cigarros era da Souza Cruz, logo no início de suas atividades tendo como carro chefe o cigarro Continental.

Na foto, meus pais Honório Henriques Corrêa e Dona Eugenia.

Meus pais, o Sr. Honório Caboclo e Dona Eugênia resolveram sair do bairro Caboclos, onde moravam para morar na vila de Iporanga no centro do município para que pudéssemos frequentar a escola pública na cidade; por isso meu pai alugou uma casa onde moramos muito pouco, veremos mais adiante que ele fez para nós uma pequena moradia no Córrego do Fundão, ao lado da represa dos Limas.
Iporanga tinha em 1940, apenas duas escolas que ensinavam somente até o terceiro ano primário. Era a primeira e segunda escola mista urbana de Iporanga na Rua Carlos Nunes (rua de baixo, em um salão da casa da Dona Cecília).
As professoras eram Dona Maria Therezinha, Dona Dulce e Dona Eulália, professora que tinha um braço amputado.
Em 1940, depois das enchentes nós ficamos doentes com a malária, tosse comprida e sarampo, tudo de uma só vez. As pessoas mais velhas, entre elas meu pai e minha mãe, sofreram com a malária, doença horrível na época e que fez muitas vítimas na cidade, também entre nós crianças.
Graças a Deus e ajuda do inventor do Adhemar nos curamos daquela enfermidade terrível, mas muitas pesooas não resistiram e morreram.




Florêncio Pedroso, ainda Jovem e professor Aparício imitando um bêbado.

O Adhemar mandou médicos, alimentos e remédios para a população desse município, além dos médicos mandou também farmacêutico, na pessoa do Sr. Coutinho Vieira para cuidar da nossa saúde.
Nós fomos tratados com injeções e quinino, aquele remédio muito amargo e ruim de tomar. Depois que nós nos recuperamos da malária, mudamos com meu pai para uma casinha de sapé e pau-a-pique a mais ou menos um quilómetro de Iporanga, na margem direita do Córrego do Fundão rio acima.
Meu pai, homem honesto, religioso e trabalhador, com a ajuda de outras pessoas entre, eles seu irmão João Henriques Corrêa (João Caboclo), José Moreira e José Manduri formaram ali uma chácara.
As terras ali do Fundão não eram muito boas, mesmo assim meu pai plantava arroz, mandioca, abacaxi , cana de açúcar, bananeiras e criava galinhas e porcos. Meu pai com ajuda do carpinteiro José Manduri fez um monjolo para farinha de milho e uma roda para fabricar farinha de mandioca, nós tinhamos um cachorro onceiro de nome Guarany e um cavalo preto já meio velho que servia de transporte para levar lenha que era vendida na vila, pois naquele tempo ninguém ouvia falar em fogão a gás.
Meus irmãos mais velhos o Antonio, a Rosa, a Flauzina e o Eurico frequentavam a escola em Iporanga. Quando voltavam da escola ajudavam a fazer farinha ,também na lavoura, faziam pás, peneiras e balaios de taquara. Eu e a Benedita ainda éramos muito crianças.
Deixando um pouco da nossa história particular, vamos ao assunto mais interessante, sobre a Iporanga, histórica , hospitaleir e curiosa, que foi berço de um povo católico fervoroso, trabalhador e que hoje em grande parte abandonou o igreja tradicional, entrando para as Igrejas Evangélicas, principalmente as pentescostais. Voltando ao assunto Iporanga, onde o povo era muito religioso e devoto de Nossa Senhora do Livramento, e assim permaneceu até a década de 1950.
Ainda em 1940 o povo recebia a visita pastoral, como era costume da época de ser realizada de 4 em 4 anos para a crisma das crianças. A paróquia de Iporanga pertência para a Diocese de Santos. Iporanga embora tivesse um povo religioso, não tinha um padre para a paróquia, sendo as vezes atendida pela diocese por meio do padre Pascoal Cassese, revezando-se com o padre Primo Maria Vieira. Pelo que me recordo, assim terminava o ano de 1940 para nós, quando então terminava o leilão na barraca em frente da igreja matriz iluminado pelo lampeão petromax do Sr. Pedro Caetano dos Santos, homem muito religioso, zelador da igreja e excelente organista da paróquia.



1941




Missa campal em frente a igreja matriz de Santana de Iporanga em festa religiosa.

Nestes anos, eu, ainda muito pequeno, ia para a igreja com minha mãe, Dona Eugênia, principalmente na missa solene cantada realizada sempre aos domingos às 10 horas da manhã. Lembro-me que eu não desagarrava da saia da minha mãe com receio de me perder no meio da multidão.
Minha mãe ia com os cabelos bem penteados de birote e sempre coberta com seu véu preto, levava também sua fita do sagrado Coração de Jesus no pescoço, ela era membro daquela congregação.

Na foto o soldado José Marques
.
Os Soldados Valdomiro e
Zé Marques e cabo Júlio.

Naquele ano chegava por aqui um soldado, alto e bem humorado, com alguns dentes superiores da frente em ouro; era o jovem José Marques da Silva, que chegava para ficar e mais tarde se casaria com nossa prima Maria Corrêa filha do nosso tio João Henriques Corrêa. José Marques, chegou fardado com uma farda amarelada da Força Pública, usando também na cabeça um quepe grande amarelo conhecido como (Cabeça de Pão de Ló) , polaina, botina preta bem grande, exagerada, e nos pés trazia toda aquela couraça e na mão direita o fuzil.
Voltando à religiosidade do povo, não posso esquecer das piedosas mulheres que iam para a igreja; entre elas Dona Isalica, Nhá Coca, Nhá Vivi, Nhá Veva, Nhá Justa e minha tia Gertrudes, esta última sempre com vestido preto
Meu pai ia nas missas aos domingos, ele era visto sempre nas últimas fileiras de bancos da igreja.
As Cores que dominavam nossa cidade naquele tempo eram o azul e o branco, cores usadas no templo católico, todas as casas acompanhavam a pintura azul e branca da igreja matriz, exceto em alguns casas que já começaram a serem pintadas com a cor amarela, até o sobradão colonial todo envidraçado do Nho Daduca situado na rua Pedro Silva, esquina com a Benjamim Constant, seguia os padrões de: paredes brancas e portas e janelas azuis. Cor vermelha ninguém queria, pois pintar as casas com vermelho poderia render o rótulo de comunista e ficar mau visto na sociedade local.Não podemos esquecer do antigo e majestoso coreto octogonal em frente da igreja matriz, ele tinha detalhes de madeira na cor amarela.


Antigo coreto, octo
gonal, no largo da matriz: na foto de 1933, está o jovem Nascimento Sátiro da Silva e sua primeira esposa, a Nene, ela em certo dia numa brincadeira, entre umas biritas, com Dona Maria Muniz, esposa de um velho alemão, que sumiu de Iporanga, passou para a Nene um revolver e mandou que ela atirasse na posição de perfil para cortar um cigarro que a própria Dona Maria Muniz estava fumando; feito o disparo, sem a pontaria necessária para o prodígio, a bala atravessou a face da Dona Maria, arrancou um dente e saiu com ele pelo outro lado do rosto, a marca dos furos deixados pelo projétil, permaneceram pelo resto de vida da vítima.

O sobrado dos Lima, na esquina da Rua Barão de Itauna com a rua XV de Novembro,em frente ao Ribeira era em cores branco e amarelo; este edificio já não existe. Ainda me lembro da religiosidade do povo Iporanguense; pois como eu já disse anteriormente, a cidade nasceu totalmente católica sob a proteção de Santana, a padroeira. A vila começou com a igreja matriz, inicialmente um grande prédio sem torre.

Segundo os antigos cidadãos, o prédio da igreja, era em formato de um casarão coberto de telhas fabricadas na cidade e as paredes de taipa com terra socada com um metro de largura( parecido com a igreja do quilombo de Ivapurunduva).
Só em 1840 foi que o imigrante alemão Guilherme Looze, morador no local, que era arquiteto credenciado pelo Vaticano, iniciou a construção da torre com suas 12 pontas; a obra foi executada com tijolos com 30 cm de comprimento por 12 cm de largura.
Com a queda da torre em 1982 causada por um temporal, foi necessária a restauração, que foi executada pela Sudelpa, porém agora na reconstrução da torre está composta com 11 pontas.
Os três grandes sinos do campanário eram ripacados por sineiros escolhidos com a ponta dos dedos.
Ao olharmos o sino da frente, isto é, o do lado do sol nascente podemos ver no suporte do sino em madeira pintada de azul a sigla J.M.. Segundo a história contada por João Manoel de Oliveira: J.M., era o nome do comerciante iporanguense de nome Joaquim da Motta, esse senhor que era também procurador do império, mandou correr um subscrição da Igreja pela cidade com a finalidade de levantar recurso para comprar o ouro necessário para compor o tempero para fundição dos sinos, dois quilos ou pouco mais. Porém quando recebeu a lista de volta, decepcionou-se com a quantia arrecadada, o dinheiro era muito pouco e somente moedas de tostão e réis, de pouco valor. Diante disto Joaquim da Motta enfurecido, mandou que tomassem a lista de volta e ordenou que devolvessem cada tostãozinho para aqueles signatários daquela subscrição e disse:--" Deixem que banco a despesa com o sino".
As iniciais J.M. que estão no suporte de madeira do sino maior até hoje, ficou gravado como uma homenagem a Joaquim da Motta por esta sua generosa colaboração com a matriz de Santana.

Alguns dos melhores sineiros do passado mais recente foram: Arabelo, Nofrinho, Antonio Onofre e Joaquim Cardoso dos Santos(Joaquim Juvenal), todos filhos de Iporanga.

O padre português Antonio da Graça Cristina foi quem definiu o padrão dos toques de sinos no início de 1900. Para as missas realizadas os sinos eram repicados de um jeito e depois vinha a entrada da missa com três badaladas, somente com o sino maior, para as celebrações eucarística. Já para as procissões de rua os repiques eram de outra maneira, para o enterros dos chamados anjinhos também eram outro de tipo de repique, os sinos todos fundidos com ouro de Iporanga, o tempero do bronze proporcionou um som maravilhoso, que eram ouvidos a quilómetros de distância, ao ouvir os sinos, quem o escutava sabia do que se tratava, mesmo sem vir ao centro de Iporanga.

A maior festa da cidade é em louvor a Nossa Senhora do Livramento, realizada no dia 31 de dezembro, todos os anos.
A imagem da Santa chega ao Porto do Ribeirão, onde é recebida por uma enorme quantidade de fogos que estouram no ar e no chão. Antes das festas do dia 31 de dezembro eram realizadas as bandeiras com foliões que partiam em todas as direções do município para conseguir doações. Os foliões deixavam o centro de Iporanga em torno de dois meses antes das festas acompanhados de um garoto que levava uma caixa de repique. Passavam de casa em casa para recolher prendas, que podiam ser dinheiro, mercadoria, frango, leitoas e outras coisas.
Saiam de Iporanga com a Bandeira do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, mas seguiam cada um para um lado, levavam roupas e suprimentos para a viagem, saiam com a bandeira enrolada
Ambas as bandeiras tinham no centro do pano a figura de uma pomba. Ao chegar com a bandeira perto das casas os foliões desenrolavam a bandeira e o garoto acompanhante começava a repicar a caixa, que era de madeira e couro, até chegar à casa a ser visitada, o dono da casa saia ao encontro com o chapéu na mão acompanhado de mulher, filhos e parentes e algum hospede que ali estivesse.
Ao chegar de frente para a bandeira eles se ajoelhavam para beijar a bandeira, só depois é que cumprimentavam o folião e o garoto acompanhante convidando-os para adentrarem na casa com muita alegria. As vezes os foliões e o garoto, já cansados, eram obrigados a pedir pouso; o que era prontamente atendido pelo anfitrião.
Já perto das festas os foliões voltavam com o dinheiro arrecadado, as prendas e os peregrinos entregavam ao virem nas festas que ainda estavam por se realizar.
As festividades em honra à nossa senhora do Livramento era a maior festa em números de peregrinos de todo o Vale do Ribeira, só perdendo em números de pessoas para a festa do Senhor Bom Jesus de Iguape.
Já no dias 30 de dezembro, ou um pouco antes, começavam a chegar peregrinos aqui em Iporanga e pouco a pouco iam se acomodando na pequena cidade. Vinham pessoas de toda a parte, algumas iam para a casa de parentes ou de conhecidos, chegavam a pé, feitos andarilhos, a cavalo, de automóvel, de jardineiras ou de pau-de-arara, aqueles caminhões cobertos com encerados, também vinham pelos rios em canoas, e etc. Geralmente eles vinham para ficar os três dias de festa, alguns traziam utensílios de cozinha, alimentos, panelas e até lenha, uma vez que naquele tempo todo mundo só cozinhava no fogão a lenha.
Como dissemos: por ser Iporanga quase totalmente católica, o seu povo atendia a todas as reivindicações do padre da paróquia, mesmo ele não morando na cidade.
Havia na paróquia, até o ano de 1950, todas as irmandades da igreja, a do meu pai era a dos Vicentinos: de São Vicente de Paula. Meu pai Sr. Honório Corrêa (Honório Caboclo) foi membro por mais de meio século, prestando serviços.

Na foto Sr. Odorico Maciel da Silva.

Entre os membros caridosos da irmandade , além de meu pai, muitos se destacaram como Vicentinos foram eles: Antonio da Rosa (Totó Borges), José Moreira, Odorico Maciel da Silva, Pedro Caetano dos Santos, Perciliano Santos, João Viana, Laurentino Vieira (Nho Loro) e outros.
Aos domingos um menino saia de manhã de casa, com uma sacolinha de pano (bissaquinha) afim de tirar ajuda para os pobres de São Vicente de Paula e no final do dia a entregava o que recebia na igreja. Havia também a Congregação Mariana, devotada a Nossa Senhora, que também fazia caridade aos pobres.
Existiam os Beneditinos; os devotos de São Benedito, a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, a Pia Unção das Filhas de Maria e a Cruzada Eucarística, compostas de meninos e meninas que aos domingos compareciam nas aulas de catecismo, que eram de freqüência obrigatória para os filhos dos católicos, elas não podiam perder as aulas de catecismo, a não ser por doença, ou por não estarem na cidade.
Iporanga tinha ótimas moças voluntárias e dedicadas, que davam aulas de catecismo aos domingos, entre as moças que se destacam naquele piedoso oficio, estavam: Dona Julia, viúva do ex-prefeito, o Diogo de Oliveira (Diogo Lebre), Sara e Edina, filhas do Sr. Oscar dos Santos, Dona Elza, filha do Sr. Pedro Caetano dos Santos e Julia filha do Nhozinho, entre outras.

Na foto estão as moças da Irmandade Filhas de Maria, no dia que retornaram de um estágio na A.L.A. (Assistência ao Litoral de Anchieta), no Colégio Estela Maris em Santos. Começando da última da fila de trás à esquerda, até a primeira da fila da frente a direita: 1- Flauzina Corrêa, filha do Sr. Honório H. Corrêa / 2- Edina, filha do Sr. Oscar dos Santos/ 3- Maria Antonia, filha do Nhô Athos dos Santos/ 4- Ana Ursulina, filha do Sr. Joaquim Urssulino Cruz/ 5- Lourdes, filha de Nhá Mariquinha dos Macacos e Nhô João Bernardo de Lima/ 6-Sara, filha do Sr. Oscar dos Santos. Local em frente da loja do Sr. Pedro Caetano, imóvel desapropriado para construção da ponte.


Durante a década de 40 era raríssimo um casal separado ou amaziado na comunidade de Iporanga, se viesse a acontecer aquela pessoa ficava mal vista no meio da sociedade, principalmente na igreja. Em Iporanga existiam as mulheres conhecidas como mulheres do povo (prostitutas), números que chegavam a uma centena (exagerou!). Todas as mulheres daquela época em Iporanga eram envolvidas em tarefas domésticas, ou trabalhavam na lavoura. Até o meado de 1946 não havia mulher nenhuma em Iporanga, que usasse calça comprida, mas eu só vi mesmo mulher usar calça comprida marrom. As mulheres Iporanguenses só usavam saias ou vestidos bem compridos, mas para entrar na igreja era preciso ir com saias ou vestidos decentes, sobre pena de ser expulsa da igreja pelo padre. Devido aos borrachudos abundantes na lavoura, principalmente nas colheitas de arroz haviam mulheres que usavam calça comprida, mas por baixo do vestido, geralmente eram calças do seu próprio marido ou pai.
Voltando à religião, queremos lembrar que antes das festividades do fim de ano e do natal, haviam as novenas, muito bonitas, começando do dia 30 de novembro, terminava no dia de Nossa Senhora da Conceição, dia 8 de dezembro. As novenas eram sempre rezadas e cantadas ás 8 horas da noite sobre luz de lampião Petromax do Sr. Pedro Caetano dos Santos, homem muito religioso que nos deixou com saudades.
Os nossos foliões que saiam a pedir ajuda para as festas eram homens honestos e os que mais se destacavam eram: José Moreira, José Freitas, Henrique Vitorino Pereira (Henrique Honório), João Henriques Corrêa (João Caboclo) Juca Cosme e outros.
As festas de Santana, já quase no fim do mês de julho, também eram bonitas, mas de menor destaque, também eram três dias de festa com missas solenes, acompanhadas do maravilhoso coro e do organista Sr. Pedro Caetano dos Santos, sempre à frente do coro e respondido por todo o corpo da igreja.



Padre Primo Maria Vieira e os Iporanguenses no Porto do Ribeirão em visita pastoral do bispo D. Paulo de Tarso

Geralmente nossa igreja era atendida pelo padre Cassese e o padre Primo, as missas naquela época eram realizadas somente na parte da manhã, à noite eram realizados as rezas do santo terço com ladainha cantada terminando com a benção do Santíssimo Sacramento, chegando a durar até duas horas aquelas celebrações. Quando o padre levantava o Santíssimo Sacramento, tocava a sineta, que era imediatamente respondida pelo repicar dos sinos no alto da torre.
Os padre daqueles tempos usavam suas batinas pretas, sapato e meias também pretos e seu chapéu que tinha o formato de uma barca que simbolizava a barca de São Pedro, mais tarde o chapéu do padre foi substituído por outro preto de aba e formato redondo.

anos o vigário não costumava sair para canto algum sem seu chapéu na cabeça. Com a chegada da Santa e o leilão a noite sempre animado pelo Sr. Manoel Corimba( Manoel Francisco Pereira), homem muito bem humorado, com seu elegante paletó e gravata gritando com um quarto de leitoa, ou um pão-de-ló em sua bandeja sob a luz do lampião tipo petromax, encerrando para nós o ano de 1941.
Sr. Manoel Corimba.



1942



Depois de nossas festas de ano novo e festa de reis, começavam aquele calor de 40 graus, também nosso carnaval com o intruido e o arremesso das laranjinhas que ensopavam as roupas das moças de água, mas a população estava mesmo preocupada com as batalhas verdadeiras que assolava a Europa, a 2ª Guerra Mundial. Com as poucas notícias que chegavam através do jornal Diário de São Paulo, com dois dias de atraso e pelas ondas recebidas pelos dois rádios existentes na cidade.
As música tocadas no carnaval de 1942 eram de Orlando Silva," Jardineira", "Atire a Primeira Pedra" e a composição de Lupicinio Rodrigues "No Rancho Fundo" e "Felicidade Foi Embora", entre outras.
Por não haver na cidade nenhuma diversão; as moças e rapazes se reuniram em uma casa de amigos á noite para brincar de Rom-rom quem beija é o cão.



Naquele tempo, como até hoje, era comum famílias mudarem-se da área rural para o núcleo urbano do município. O procedimento ao contrário raramente acontecia de alguém mudar da zona rural para a área urbana. Foi assim que na década de 1940, meu pai Sr.Honório Corrêa (Honório Caboclo) e seu irmão João Henriques Corrêa (João caboclo) trazendo consigo toda a família, mudaram-se para o centro urbano de Iporanga. Na mesma ocasião veio morar no centro da vila o Sr. José Dias Rodrigues, filho do ilustre morador do bairro Pilões o Sr. Henrique Dias Rodrigues, também na mesma época chegou o João Dias Rodrigues (João Vitor) também vindo dos Pilões. Quase na mesma ocasião transferiram-se para o centro urbano Joaquim Ursulino da Cruz vindo dos Pilões, chegaram também Nho Quirino de Andrade, da Serra dos Motas e Joaquim Mambaia das Andorinhas. Temporariamente mudou-se para o Feital, Sr. Henrique Vitorino Pereira (Henrique Honório).

Sr. Henrique Honório, a esposa Catarina e a Maria Quirina.


Após sua triunfante chegada para o destacamento local no ano de 1941 o miliciano José Marques de Silva, neste ano de 1942 adentrou á matriz de Santana para o enlace matrimonial no dia 23 de maio, ele casou-se naquele dia com a jovem Maria Corrêa, filha de João Henriques Corrêa (João Caboclo) e dona Eliza.
A noiva passou a chamar-se Maria Corrêa da Silva ( Maria Marques). Naquela época o casal de jovens; José e Maria Marques ao som do violão muito bem tocado por José Marques, cantavam muito bem várias músicas da época. As canções que mais se destacavam na cantoria da dupla eram: "No Rancho Fundo" de Lupircinio Rodrigues, músicas lindas! Inesquecíveis! Maria Marques que era membro de nossa família Corrêa tocava bem sua gaita de boca.

Maria Corrêa, Santa Corrêa, Ica e a menina Beth Corrêa - Praça da Matriz.



Segundo meu pai Honório Corrêa o cemitério atual foi uma obra do prefeito Sr. Rafael Descio (Fequinho) e foi concluído no ano de 1942, segundo João Manoel de Oliveira a obra era dirigida por Juquinha de Andrade chefe de obras minicipal, houve lançamento da pedra fundamental onde todos os presentes em uma cerimônia escreveram os nomes em um papel que depois de ser colocado em uma garrafa e tampado foi enterrado em um buraco fundo.
Os muros originais foram construídos com formas de taipa e terra socada, porém feito com mãos de obra paga diferente do cemitério antigo localizado no local do atual posto de saúde que tinha muros grossos de taipa socado pelos escravos.
A ampliação do cemitério ocorreu primeiramente em 1950 com muros feito com tijolos e portão de ferro por ordem do então prefeito o Sr. Celso Descio. Depois só no mandato do prefeito Valfredo é que houve nova ampliação do cemitério e a derrubada de uma árvore gigantesca, altíssima, muito bonita próximo da capela de velório.

Fequinho e sua esposa, no começo do século XX, e mais
ao fundo e de carona, alguém parecido com o Cassiano.

Entre os anos de 1942 a 1945, Iporanga passou por fortes turbulências causadas por desavencias entre os políticos locais. Os desentendimentos entre os políticos Santos e Descio, detentores do poder no município, era constante. A crise financeira naquele espaço de tempo prejudicou os 20 comerciantes que existiam na cidade, que tiveram uma expressiva queda no faturamento. Caiu a tal ponto o movimento no comercio, que comerciantes fortes de tecidos como o Sr. Quirino de Andrade, João Rodrigues e Celso Descio deitavam no balcão da loja e descansavam a cabeça em peças inteiras de fazenda. Nestas condições, dormiam e roncavam a espera de freguês em pleno dia útil. Os mais fortes comerciantes da década de 40 eram: Odorico Maciel da Silva, Osvaldo da Silva Pereira, Celso Descio e seu irmão Rafael Descio (Fequinho), João Dias Rodrigues(João Vitor), Pedro Caetano dos Santos, Pedro de Lima, que era irmão do já falecido José Roberto de Lima (o Daduca), João Himes, que depois mudou-se para Jacupiranga e deixou para seus filhos a loja de Auto Peças Martins, João Alves de Albuquerque (José Evaristo) e o Sebastião Mota de Oliveira (o Mota)ex-miliciano, ex-prefeito e que era oriundo da cidade litorânea paulista de São Sebastião. Até o ano de 1945, mais ou menos, todos na cidade só tomavam café adoçado com rapadura, pois o açúcar era raridade para os iporanguenses. O município tinha muita cana de açúcar e vários engenhos para fazer rapaduras. Entre os principais engenhos estavam o do bairro Macacos, pertencente ao Sr. João Bernardo de Lima e Boaventura de Lima(Ventura). No bairro Caracol havia o engenho do Sr. Odorico Teixeira, que também fabricava a famosa pinga Caracol; no bairro Poço Garnde estava o engenho do Sr. Celestino, que produzia farinha de mandioca; em Pilões o Sr. Henrique Dias Filho fazia pinga e rapadura. No Betari, serra dos Motas e Camargo dos Henriques e Looze também haviam engenhos e produção de rapaduras.
Haviam fábricas em diversos lugares do município que não foram citados como: Bombas, Anta Gorda, Pinherinho, Lagoa, Descalvado, Andorinha, Rio das Pedras, Praia Grande, São João, Izidro e Nhunquara, todos tinham engenhos de rapaduras.
Agora vou descrever para os leitores, para que fiquem sabendo o que era a maravilha da fabricação da rapadura do engenho. Colhia-se as canas nas roças e as tranportava até o engenho que geralmente eram movidos por cavalos, o engenho era composto por três eixos um mais grosso e mais comprido que ia no centro da mesa que era manjolo da olaria, os dois eixos dos lados eram mais finos, com grandes dentes engatados nos dentes do eixo-mestre central, de um lado da mesa uma pessoa ia pondo as canas, uma por vez, enquanto o cavalo virava aquele grande madeiro.
Geralmente este serviço era feito por mulheres ou pessoas idosas, o serviço de colocar a cana. Ao moer as canas o caldo ou garapa, caiam em uma gamela colocada sob a mesa; depois de cheias as gamelas, a garapa era levada ao forno em um grande tacho sobre uma taipa de pedras ou cavada em um barranco, ali permanecia a garapa até que ela fervesse, uma grande espumadeira era usada para retirar a espuma da garapa, depois de apurada a garapa transformava-se em melado. O melado quente era despejado em uma grande forma de madeira com 12 sulcos de: 12X10X3 centímetros retangulares com profundidade para dar forma ás rapaduras em uma grande e espessa tábua em única peça. Depois de duas 2
Horas nas formas as rapaduras estavam prontas, eram retiradas das formas e depois de empalhadas(com palha de milho) seguiam para o comércio, em maços formados por 2 metades e amarrados com embiras de embaúvas ou cipós.
Hoje em dia quase já não existe mais a rapadura para adoçar o café de cada dia, nem os deliciosos doces de laranja feitos com melado de rapadura.
Com este texto termino minhas memórias dos idos anos de 1942, do qual tenho poucas recordações, pois neste ano eu tinha pouco mais de 4 anos de idade e ainda morava na Chácara do Fundão com meus pais e irmãos.


1943



Descrevo o ano de 1943 ainda longinquo e ainda de poucas recordações, mas este pouco que foi recordado coloco neste texto. Em janeiro depois das festas começavam as brincadeiras de carnaval e o intruido, durante o mês de janeiro, e até meados de fevereiro no carnaval até começar a quaresma.

O mês de janeiro era sempre chuvoso com nossos rios e riachos sempre cheios e transbordando. Em muitos lugares os canoeiros se viam obrigados a ajudar nas travessias, principalmente na passagem do ribeirão Iporanga e também no rio Ribeira.

Logo depois do carnaval a cidade, a noite, virava um silêncio sepulcral, pois o povo muito religioso respeitava demais a quaresma. Aqueles que tinham violas ou violões ensacavam e penduravam seus instrumentos, ou ainda alguns até retiravam as cordas do instrumento para só voltar a recolocar após a quaresma.

Depois de concluída a obra de construção da rodovia Iporanga-Apiaí, com o acabamento pronto e toda cascalhada e prontos todos os melhoramentos possíveis. O D.E.R. contratou vários homens para a manutenção da estrada, para reparos no leito carroçável e serviços de cantoneiro, entre os os funcionários mais lembrados estão: Ulisses dos Santos, como feitor do D.E.R., como conserveiro, seu filho, Vicente dos Santos (Nenê), Antonio Rio Grande, Laurentino Vieira da Costa (Loro), Benedito Borges,

No final de 1943, os expedicionários de Iporanga, que serviam o Exército no Rio de Janeiro preparavam-se para partir rumo ao campo de batalha na Europa, aguardavam o dia do embarque. Eram quatro soldados que representavam os pracinhas da II Guerra Mundial em Iporanga: Alceu do bairro Pilões, Gino genro de Nhá Julia, André Nunes e mais um de quem não recordo o nome; Lourenço Nunes estava no Exército, mas não chegou a embarcar com a F.E.B. para a guerra.

Do ano 1943, estas são as poucas coisas de que me recordo, pois ainda era muito pequeno e permanecia morando na chácara na margem direita do do rio que sobe o Corregozinho do Fundão.


1944


Do ano de 1944 para cá posso escrever mais pois recordo-me ainda melhor de coisas e vários aspectos do cidadão Iporanguense e da cidade. Começo pela política acirrada entre Santos e Descio, os donos do poder.

O Sr. Almerindo Betim, homem inteligente de nossa cidade era correligionário dos Santos e muito amigo do Sr. Pedro Caetano dos Santos, político forte na cidade. Tendo uma carga de rapaduras para vender, o Sr. Almerindo Betim resolveu vende-la na antiga Xirica (Eldorado), embarcou as rapaduras em uma canoa e antes que partisse, foi barrado por um fiscal da prefeitura.


O Sr. Almerindo Betim ficou furioso e disse que iria resolver isso em São Paulo com o interventor Adhemar de Barros. Almerindo embarcou no mesmo dia para São Paulo, falou com o Adhemar, voltando para Iporanga, trouxe já consigo um ofício para o sr. Pedro Caetano dos Santos para que assumisse a prefeitura e exonerando o Sr. Fequinho, aquele mesmo que não o deixou partir do porto da cidade com a canoa cheia de rapadura. Diante disto houve um enorme foguetório na cidade proporcionado por correligionários da ala dos Santos e pró Pedro Caetano dos Santos, enquanto do lado dos Descio, foi só tristeza.


Pedro Caetano dos Santos e José Salathiel, pai do Cassiano - 1920



Considerados por suas façanhas como um dos homens mais espertos, inteligente e perseverante de Iporanga da segunda metade do século XX, este mesmo homem Almerindo Betim, cidadão de Iporanga, no final da década de 40, numa demanda na justiça da Comarca de Apiaí por denúncia do desaparecimento dos móveis da Câmara municipal de Iporanga, obteve resultado desfavorável. Almerindo Betim, que ficou muito furioso com a atitude do magistrado na condução resultado do processo, sentia-se prejudicado e perseguido pelo juiz, diante disto resolveu vingar-se do magistrado e colocou em prática uma brilhante e maligna idéia. Agiu imediatamente para executar sua vingança: montou um abaixo assinado, onde escreveu na parte superior da primeira página um texto onde pedia um padre para pastorear os fiéis da paróquia, que estava naquele momento sem padre, ele pedia para o Sr. Bispo providências, mas deixou um bom espaço em branco abaixo do texto antes de começarem as assinaturas. Conclusão todo mundo assinou, até os crentes evangélicos, depois de colhidas uma enorme quantidade de assinaturas, Almerindo com uma tesoura recortou a faixa superior onde pedia um padre ao bispo, e na parte em branco antes das assinaturas, ele fez a "caveira" do juíz dizendo que por diversas razões, maus serviços e incompetência a comunidade estava muito aborrecida e descontente com a péssima atuação do magistrado e pedia sua imediata remoção, em poucos dias o juíz foi removido para o local mais distante possível da comarca, deixando Apiaí sem juiz, além de ficar sob o domínio da comarca de Itapeva por uma longa data.

Ainda no ano de 1944 meu pai Honório Henriques Corrêa, para utilizar as águas límpidas e cristalinas do corrego do Fundão, fabricou um monjolo com ajuda do seu irmão inseparável João Henriques Corrêa; o carpinteiro José Manduri e o José Moreira também ajudaram. Aquele velho monjolo fez muita farinha para nosso consumo e também para comercialização. Aquele corrego rromântico pedregoso e cheio de peixes já não existe; transformou-se em um esgoto a céu aberto.

Tio João Caboclo (João Henriques Corrêa), tia Eliza, Gregória, Maria Corrêa (Maria Marques) Zé Marques.

Naquela casa do Fundão, nas tardes de verão nos reuníamos em família, tia Eliza com a Maria Corrêa (antes de ser Maria Marques), Gregória e também o tio João Caboclo, que abaixado de cocoras e calça arregaçada até os joelhos contava-nos histórias sempre muito engraçadas.
As terras do Fundão não eram muito boas, mas mesmo assim meu pai plantava um pouco de arroz naquele brejo, plantava bananas, abacaxis, mandiocas e algumas fruteiras na encosta do morro. Dali nós ouvíamos bem o repicar dos sinos da matriz em Iporanga, principalmente o repicar que anunciava a santa missa, ou o santo terço, ou ainda a novena de nossa Senhora da Conceição, no mês de dezembro.
Aquilo tudo para nós era uma maravilha e aquelas orações na igreja nós não perderíamos.
No ano de 1944, Iporanga foi visitada pelos frades capuchinhos e depois pelo bispo Dom Idílio Jose Soares, da diocese de Santos para crisma de crianças, na época foi erguido um grande cruzeiro de madeira perto da antiga caixa d’água.
Quando íamos para Iporanga principalmente aos domingos e nas santas missões realizadas naquele ano, nós não poderíamos perder a missas solene cantada pelo maravilhoso coro e corpo da igreja com o Sr. Pedro Caetano dos Santos ao órgão, ajudado pelo excelente maestro Benjamim dos Santos Lisboa tocando sua requinta.
Nas santas missões de 1944 as músicas novas trazidas pelos frades e bispos para serem cantadas na igreja foram: “Minha fé de cristão no batismo” e “Glória Jesus na Hóstia Santa”, músicas que jamais esqueceremos.
Naquele ano chegava por aqui o Sr. Benedito José Cirino (Sargento Cirino) com sua imponente farda amarelo caqui e grande quepe, conhecido por cabeça de pão de ló, na cabeça, veio para morar aqui e comandar os soldados do destacamento de Iporanga. Ele era um viúvo ainda novo, que aqui se casaria mais tarde com a Dona Sebastiana (Tianinha) filha do Sr. Benedito Padre e Dona Júlia. O sargento Cirino, trouxe três filhos em idade escolar, Vagner Antunes Cirino, Edgar Antunes Cirino o saudoso (Gico), e sua filha Liliam Antunes Cirino (Lola).
Numa manhã daquele 1944 pude presenciar um fato que nunca mais esqueci. Eu me dirigia para a missa naquela bonita manhã de domingo, minha mãe, dona Eugenia me acompanhava a distância, quando chegamos na esquina da rua Pedro Silva com a rua Benjamim Constant encontramos com Nhô Dito Padre, compadre dos meus pais, ele descia do morro pelo calçadão de pedras do sobradão dos Limas vestindo um paletó de brim branco e com chapéu de cartola branco com a larga fita preta de aba. O Sr. Benedito Padre, também ia à igreja, fomos ao encontro do Sr. Jose de Queiroz (José Povo), homem muito amável a quem teríamos de dar toda atenção, o Sr. José Povo preparava-se para erguer na cabeça seu velho pote de barro de duas asas que acabara de encher de água ali no chafariz da praça. Ele estava fazendo uma rodilha de pano enrolado para não machucar a própria cabeça, já careca. Depois de uma longa conversa nos despedimos daquele bondoso senhor e começamos a subir os degraus de pedra da calçada da igreja, ele nos disse que levaria seu pote de água em casa e ia arrumar-se para também assistir à missa, que naquele dia foi celebrada pelo padre Cassese, que se encontrava na paróquia.
Nos anos de 1944 deixaram a cidade: Dona Maria Terezinha e Dona Dulce, professoras que foram substituídas por Dona Ercilia e Dona Eulália, professoras essa última que tinha um braço amputado, e nem assim era aposentada.
Iporanga naqueles tempos tinha por vezes delegados de policia de carreiras e outras vezes delegados substitutos conhecidos por delegados de calças curtas. O comandante do destacamento ainda era o Sargento Cirino, os soldados do destacamento eram o Sr. José Marques da Silva. Sempre simpático e risonho com seus dentes de ouro e o Aparecido, soldado negro, mas muito brincalhão e humorista, o soldado Goiano já havia ido embora, segundo meu pai Sr. Honório Corrêa.

Filhas do Henriquinho socando café.

Naquelas madrugas emocionantes em toda a década de 1940, ao abrir a janela, ou quem ia para a montanha percebia: um cheiro gostoso, do mês de agosto em diante, era o cheiro das roças queimadas para o plantio do arroz das lavouras Iporanguense. No silêncio das madrugadas ouviam-se nas casinhas o socar dos pilões, eram as donas de casa que socavam seu café no pilão sobre a sinfonia do cantar dos passarinhos, que eram abundantes na nossa região, hoje maltratada pelos caçadores, pelos palmiteiros e também pelos pecuaristas. Ainda escutávamos o estalar das asas dos galos que alegres cantavam saudando o novo dia.
Assim era a vida do cidadão Iporanguense naqueles tempos.
No ano de 1944 morria Dona Virgilia muito amiga e comadre de minha mãe, Dona Eugenia, deixando o Sr. Odorico Maciel da Silva, viúvo, e uma grande tristeza para todos nós. Também ocasião aconteceu o falecimento da filha do Sr. Oscar dos Santos, a menina Ondina Santos, enlutando e cobrindo de tristeza a família.

Nos dois ou três aparelhos de rádios da Cidade todos a bateria de pilhas ou acumuladores, pois a cidade ainda não contava com eletricidade, as músicas mais tocadas eram: “O luar do sertão” música de Catulo da Paixão Cearense e “Atire a primeira pedra” com Orlando Silva, além de músicas cívicas, como “Deus salve a América” e a “Canção do Expedicionário”.

Festa de N.S. do livramento, procissão fluvial no Ribeira chegando próximo do porto do Ribeirão.

Assim terminava para nós com muita alegria o ano de 1944; como não podia deixar de ser com as festas de fim de ano, em louvor a N.S.do Livramento, com a bonita Chegada da Santa no Porto do Ribeirão. A noite foi abrilhantada com os tradicionais fogos, repiques de sinos e o leilão, bem tarde..


1945


No ano de 1945, contando com um pouco mais de idade minhas memórias, já se mostravam mais complexas, nela também agreguei histórias e explicações sobre nosso passado contadas por parentes e pessoas mais antigas. 1945 começou como era de se esperar com muito calor, chuva e enchentes no nosso município, nosso corregozinho do Fundão ficou represado pelo rio Iporanga quase até perto da nossa casa.

O carnaval foi bastante quente com as tradicionais brincadeiras de introido com o povo jogando muita água e laranjinhas, com muita alegria, com as moças e rapazes em grande gargalhadas nas ruas.

Pela última vez pudemos ver o Nhô Manequinho, irmão da Corá (Escolástica) desfilando no carnaval vestido de mulher com um penico na cabeça.

Depois do carnaval começava a quaresma que nosso povo sempre respeitou, a Semana Santa, era guardada pela população em total silêncio, naqueles dias da Semana Santa a população não brincava, o respeito aos pais era grande, estes não deixavam seus filhos correrem. Na Sexta-Feira Santa, nem os sinos da igreja repicavam em Iporanga, mas era permitido bater na meia dúzia de ruas da cidade, a grande matraca da igreja, chamando o povo para a procissão ou via sacra com o senhor morto simbolicamente na igreja. No sábado o povo voltava a se alegrar com a malhação de Judas, boneco tamanha de uma pessoa, que geralmente era fabricado na noite de sexta-feira, às escondidas. Alguns amanheciam aborrecidos com a falta de algumas das aves em seu galinheiro, para engrossar a canja de algum ladrão brincalhão da ocasião.

O Judas geralmente amanhecia pendurado em um grande tronco de imbaúba fincado em frente da igreja, ele era malhado pelos moleques no horário do meio dia, depois das badaladas do sino grande, anunciando a hora da malhação.

Chegada a hora da aleluia, que até hoje anuncia o Domingo de Páscoa, naquele ano, como de costume, a política estava muito forte pelos donos do poder, horas nas mãos do Santos, hora na mão dos Descio que também eram fortes.

O povo estava pensando em revolução, as notícias pelo radio eram muito poucas, até que veio a deposição do governo Getulio Vagas no Rio de Janeiro, pelas forças armadas. Assumia o governo no palácio do Catete por um período curto, o Dr. José Linhares.

Com a queda do governo Getulio Vagas, nossa cidade sentiu-se aliviada. Meu tio João Henriques Corrêa, o (João Caboclo), foi quem nos levou essa notícia, ainda na Chácara do Fundão.

Depois das festas de fins de julho de 1945, Iporanga se preparava para receber seus expedicionários, antes da chegada do ex-combatentes da 2º Grande Guerra. Nossos expedicionários ainda levaram um bom tempo para chegar, quando eles chegaram nós estavamos em Iporanga e pudemos assistir um pouco da festa, da chegada, então nós pudemos ver homens com tições de fogo em baixo do braço seguindo em direção ao Pédrão do Ribeira, sendo que algumas bombas rebentaram dentro d’água, estourando tiros chocos.

Depois daquela alegria: volta a política com os candidatos General Eurico Gaspar Dutra e seu adversário Brigadeiro Eduardo Gomes.

Aquela eleição realizou-se no salão da casa do Sr. Sebastião Mota de Oliveira, na praça da Bandeira, no dia dois de dezembro de 1945. Aquela eleição foi vencida pelo general Eurico Gaspar Dutra, que seria o novo Presidente da Republica pelo voto direto.

Pedro da Silva Pereira (Nhô Zinho) ainda foi visto votando naquela eleição, mas já ai sem muita força para andar, foi conduzido em uma cadeira transportados por 4 homens e amparado pelo seu filho Sr. Pedro Caetano dos Santos.

Em 1945 saíram vários rapazes de Iporanga, que seguiram para Botucatu com nosso primo Juca de Nhá Brasília, foram tentar trabalho na construção de trechos da estrada de ferro Sorocaba que estava sendo construída sobre a Serra de Botucatu. Aqueles rapazes ficaram um bom tempo fora da nossa cidade e foram eles: meu irmão Antonio Corrêa (Pechincha), Irineu de Oliveira Santos, Joaquim de Oliveira (Joaquim Mambaia), Joaquim Ursulino da Cruz, João Furquim, Pedro Moreira e o Cecílio da Ribeira Acima.

Em 8 de dezembro de 1945, último dia da novena de nossa senhora da Conceição, casavam-se na igreja matriz de Santana a jovem Gregória: era uma moça muito querida entre nós, casou-se com aquele rapaz de fora, não sei se foi destino traçado, eles nunca mais deram noticias, nunca mais voltaram a cidade. Ficamos muito tristes com o desaparecimento de ambos.

Também para nossa tristeza Nhô Tobiazinho do Ribeirão Branco, velhinho com quase 100 anos, peregrino fervoroso que vinha todos os anos nas festas do fim de ano; e era nosso hóspede, nesta festa, notamos que estava demorando demais para chegar em Iporanga. Ele deve ter saído do Ribeirão Branco uns 10 dias antes de 31 de dezembro, mas desapareceu no caminho, tornando-se um mistério comentado durante muito tempo, segundo disseram ou o velhinho foi devorado por alguma onça feroz, ou deve ter sido tragado pela enchente dos rios, isso ainda antes de ter subido a serra do morro do Chumbo, pois nunca mais ouviu-se falar naquele bom e religioso velhinho, muito amigo do meu pai (Honório Caboclo). O desaparecimento do Tobiazinho transformou-se em um mistério no ano de 1945. Foi com aquela tristeza que nós terminavamos assim aquele ano chuvoso além de ficarmos até hoje pensando o que teria acontecido para Nhô Tobiazinho lá da vizinha Ribeirão Branco. Certamente o bondoso velhino que não chegou em Iporanga para ver N.S. do Livramento, chegou na Glória de Deus de onde ele agora olha, ora e roga por nós...



1946



Em 1946 tivemos um início de ano chuvoso seguido por enchentes, mas isso só teve início após a despedida de N.S. do Livramento em 2 de janeiro, com uma grande procissão de canoeiros seguindo a barca até o Porto da Balsa (local próximo do atual almoxarifado da prefeitura, onde uma balsa, presa em cabos de aço, fazia a travessia do rio Ribeira). Naquele dia, minha irmã, Rosa Corrêa, que se casaria com o então jovem José Bernardo de Lima (Juca Bernardo), despedia-se da irmandade Filhas de Maria da qual era membro. Nessa despedida minha irmã não embarcou com suas colegas na Barca da Santa como era de costume, acompanhando a balsa em uma canoa ligada na lateral da balsa com uma corda, como mandava a tradição da irmandade.
Nesta ocasião já era falecido, Nhô João Bernardo de Lima, homem de muito respeito, que era empreendedor agropecuário no bairro Macacos, pai do Juca Bernardo (José Bernardo de Lima), João de Lima (Casado com D.Joana do Sr.Juvenal dos Santos), Nhá Hú (Judite de Lima),Lenica (Madalena de Lima), Lourdes de Nhô Loro (Lourdes de Lima).

Na imagem ao lado: vemos a esquerda da foto a pessoa agradável do Sr. João de Lima, filho do Nhô João Bernardo de Lima, em bate-papo descontraido na amizade com Sr. Honório Corrêa, visto à direita, em momento feliz, que a simplicidade proporciona.

Ainda no começo daquele ano em domingo ensolarado: eu, minha irmã e o Juca Bernardo fizemos um piquenique embaixo da ponte rodoviária sobre o rio Betari e na volta depois do meio dia embarcamos pela primeira vez em um automóvel; foi uma carona em uma baratinha de São Paulo, que estava a caminho de Iporanga. Era uma baratinha 1928, tinha capota de lona e parecia ser um veículo de luxo daquela época.
Naqueles dias presenciamos em Iporanga o Sr. Alexandre, sogro do João Himes ( Fundador da autopeças Martins em Jacupiranga), na sacada de ferro do antigo sobrado dos Lima na Pedro Silva, (construído em 1901), onde residia, tendo nas mãos seu binóculo de longo alcance, sempre a tardinha, olhava por cima da loja e casa do João Vitor ( João Dias Rodrigues) procurando conhecer os passageiros que chegavam pelo Ribeira em canoa a motor da linha Xiririca(Eldorado)-Iporanga.
Eram quase 6 horas da tarde do dia 12 de janeiro, a canoa a motor subia a cachoeira do Custódio ( Úlitma curva rumo da Ribeira abaixo com vista de Iporanga), com a água meio amarelada, mas o rio Ribeira já estava baixando, dias depois o Sr. Alexandre seguia para Jacupiranga, para que no hospital fosse cortada sua perna, devido a gangrena, no mesmo ano ele voltou para Iporanga com uma perna de borracha.
Em 1946 a escola situada no salão da casa da Dona Cecília, na rua Carlos Nunes foi transferida para a casa do Nhô Rodolfo, na rua Floriano Peixoto (Rua Funda), ali a escola permaneceu por 2 anos.
Num daqueles dias quentes de 1946, tive o previlégio de ver o velho Sr. Euclides da Silva Pereira (Seu Clides) naquela volta do caminho do Fundão. Seu Crides ia buscar uma lenha para seu fogão, ele levara um machado nos ombros e sua grande espada da Guarda Nacional Republicana pendurada na sua cinta. Aquele bondoso senhor tinha o posto de Alferes da Guarda Nacional.

Na foto ao Lado está Sr. Euclides da Silva Pereira com Nhá Bigota (Abgail Descio) e as filhas Lucila, Maria e Dadam, os filhos Oswaldo, Renato, Levi e Euclides parece que falta o Augusto (ia nascer).


No mês de agosto de 1946 estava marcado uma visita do candidato a governo de São Paulo, Dr. Ademar de Barros à nossa cidade. As ruas foram enfeitadas com Palmeiras Jussara fincadas na entrada da cidade com faixa de boas vindas, também por força do destino e motivo de força maior, o Dr. Ademar, não veio, mandando apenas seu secretário Dr. Fernando Costa que foi festivamente recebido pela população local. Em meio a seu discurso, perguntou para o público por que o município não tinha uma agricultura desenvolvida. No meio do povo ouviu-se a voz do Sr. Zé Moreira que disse: -- Aqui não adianta plantar porque a formiga come tudo! O Político argumentou dizendo: -- Por isso não! Agora existe uma máquina que elimina formigas, se vocês quiserem mando algumas para Iporanga. O Sr. Zé replicou: Está bem doutor manda só uma para nós. Esta única máquina nunca veio.
Naquele ano teve eleição para governador, foi vencedor o Dr. Ademar que fez um bom governo dando ajuda ao nosso município.
Foi o último ano que meu pai, Sr. Honório Corrêa fez lavoura no Faxinal dos Limas, onde plantava milho.
No ano de 1946 já haviam falecidos em nossa cidade Nhô Florêncio Pedroso que foi o primeiro prefeito eleito pelo voto; e a Davina de Nhá Mariquinha Betim (Maria Povo), personagens muito consideradas pelo povo daquela época.
Também em 1946 o Sr. Jose Manoel de Andrade quebrava uma perna naquela varação de canoa feita lá pelas bandas do morro do Faxinal.
Meu pai, já no fim do ano se preparava para se mudar da nossa pequena Chácara do Fundão para uma casa que ele alugou na cidade onde nós íamos morar.
Naquela época também fechou-se o Hotel do Sr. Sebastião Motta de Oliveira, que funcionava naquele bonito sobrado pintada de azul e branco, situado (Onde hoje é a terceira idade) na praça da Bandeira (Hoje Praça Honório Corrêa).
Terminava assim o ano de 1946 com a cidade, sempre abrilhantada pelas festa de fim de ano.
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1947



O Dr. Adhemar de Barros foi eleito pela população em 1946 e muito se esperava do governador para este ano. Já no começo de 1947, meu pai resolveu mudar-se para o centro da vila, idéia que nós recebemos com muita satisfação, pois morar junto ao núcleo da população, no centro histórico cercado de romantismo e às margens do grande e belo rio, repleto de peixes, era o que mais queríamos.
Naquele ano eu e a Benedita entrávamos para a escola de primeiro grau, escola mista urbana de Iporanga, Seção A, professora Dona Ione Aquarone, ruiva,magra, bem cívica e também muito brava.
A escola ficava na casa do Nho Rodolfo na rua Floriano Peixoto (rua Funda), próximo à igreja matriz. As aulas começaram no dia 16 de fevereiro, às 8 horas da manhã e terminavam ao meio dia. No período da tarde a professora era Dona Maria Aparecida. Naquele ano Dona Ercília e a professora que tinha um braço amputado e cujo era nome Dona Eulália, já tinham partido de mudança para outra cidade.
Naquele ano as pessoas saiam menos para as ruas à noite, estavam habituados a dormir cedo, pois não havia nenhum laser para as noites, que eram muito escuras, apesar de contar com iluminação de 35 belos lampiões a querosene, fundidos na Bélgica e que vieram para Iporanga no final do século XIX, todos instalados para iluminar as ruas centrais. Aqueles lampiões abastecidos com querosene, como combustível, eram acesos às 6 horas e apagados às 9 horas da noite. Acendia os lampiões o Sr. Luiz dos Santos (Luiz Pitada), João Manoel e mais tarde Perciliano que permaneceu executando aquela tarefa até quando chegou a energia elétrica em Iporanga em fins de 1948.
Antes de serem apagados os lampiões, eram dadas 9 badaladas no sino maior da igreja matriz, anunciando que os relógios já marcavam 9 horas da noite, o sinal era o toque recolher na cidade. Em seguida os soldados do posto policial, na praça matriz, também respondiam às 9 badaladas do sino da igreja, com 9 badaladas, os milicianos armavam-se, com fusíl, colocavam todos seus apetrechos e marchavam em numa patrulha, para as ruas centrais e estreitas da cidade.
Aquilo tudo virava um silêncio sepulcral, não se ouvia barulho algum, exceto algum ponteiado de violão numa serenata de boêmio, o choro de uma criança, latido de cães, as vezes som de uma coruja, e só. O silêncio era quebrado às 10 horas, quando era possível ouvir o ruído causados pelas botas dos soldados em passos rápidos resvalando no pedregal das ruas a passos largos, subindo rumo ao quartel, com isso encerravam-se as noites escuras naquela nossa época de ouro.

No começo de 1947 chegou a Iporanga um certo vigarista, do qual infelizmente não me lembro o nome, era um homem que prometia por luz elétrica na cidade, aquele malandro, foi até a casa do sr. Luiz Nestlhener (Luiz Alemão) e contratou-o para tirar 200 postes de madeira para a iluminação pública, apresentou-se em várias casas da cidade e já fez as instalações internas com lâmpadas e tomadas, cobrou tudo aquilo muito bem caro, pago pelos moradores da cidade que estavam todos contentes com a chegada da luz. O Sr. Luiz Alemão providenciou todos os postes e mandou um caminhão trazer para as ruas, mas perdeu todo seu serviço, pois nunca recebeu o combinado.

Esse tal vigarista levou todo o dinheiro arrecadado do povo, foi embora e nunca mais voltou à cidade, sendo que os postes apodreceram amontoados nas ruas. Essa é a historia daquele estelionatário que abusou da boa fé e ingenuidade do povo, naquele ano.

Ainda em 1947 nossa cidade não tinha mais o hotel do Sr. Sebastião Motta de Oliveira, nem o hotel Sr. Carlos Betim, este último se mudara de Iporanga para a cidade de Xiririca (Eldorado), mas além da pensão de Dona Cecília, a cidade ganhou mais uma; a de propriedade do sr. Antonio Rodrigues (Antonio Rosinha), situada na praça da Matriz, s/nº, hospedaria que existe até hoje, agora sob direção do Mauro.

No começo do ano de 1947 meu pai Sr. Honório, já tinha sua loja de secos e molhados, bebidas e armarinhos na rua Pedro Silva, 42. em uma casa alugada do Sr. Henrique Vitorino Pereira (Henrique Honório).

Nas festa de julho de daquele ano, não deixamos de contar em nossa cidade com a colaboração dos padres Cassese e padre Primo, nós acreditavamos que os dois já haviam falecido, passando então a paróquia de Iporanga a ser atendida pelo padre Ovídio naquele intervalo de tempo.

Por ser ano de eleição para o cargo de prefeito, houve muito tumulto e brigas de políticos pela cidade. Os candidatos a prefeito foram o Sr. Pedro Caetano dos Santos apoiados pelos deputados Jaime de Almeida Pinto do P.S.D. e muito amigo de Iporanga, seu adversário naquele ano foi o Sr. Celso Descio, candidato pelo P.S.P. do Governo Ademar de Barros.

Naquele eleição o Sr. Celso Descio derrotou o Sr. Pedro Caetano dos Santos e fez muita coisa pelo nosso município ajudado pelo Governador, ele foi eleito no dia 3 de outubro de 1947, quando ocorreu a eleição na cidade.

Quando chegou a notícia da vitória do Sr. Celso Descio seus correligionários ficaram muito contentes, foram até a casa dele e levaram-no para as ruas centrais da cidade carregado em seus ombros.

Os amigos do Sr. Pedro Caetano dos Santos ficaram muito tristes, disseram que iam embora e nunca mais voltariam aqui; muitos cumpriram a palavra e não voltaram nem depois da morte.

Naquela eleição, ainda pude presenciar o Sr. Pedro da Silva Pereira (Nhô Zinho) que veio até a praça da Bandeira a fim de dar o seu voto, ele veio numa cadeira amparado por quatro pessoas, uma foi seu próprio filho Sr. Pedro Caetano dos Santos. Dias depois faleceu o Sr. Pedro da Silva Perreira; Nhô Zinho.

Naquele ano morreram dentro da cidade Dona Cacília, Nhá Vivi, Nhô Luiz dos Santos (Luiz Pitada) e faleceu também o Sr. José Zózimo, que por muitos anos tocou o baixo da banda Lira Iporanguense. A população sentiu-se abalada e triste com a morte daquelas pessoas muito queridas na cidade.

Cabo Julio M. Santos, e seu quepe cabeça de pão-de-ló.

Também em 1947, depois da aposentadoria do Sr. Benedito José Cirino (Sargento Cirino), comandante do destacamento local, ficou como novo comandante dos praças aqui destacados o Cabo Fernandes, genro do Sr. Luiz Augusto Ribeiro (Luiz Carpinteiro),que logo em seguida passou o comando para o Sargento Evangelista. No mesmo ano o Sr. José Marques da Silva, que era soldado, dava baixa da Força Pública para cuidar de outros interesses em Iporanga. Nesta ocasião, o cabo Júlio, os soldados Pernambuco, Trajano e Goiano já haviam deixado nossa cidade, resolveram ir para outras localidades.

Nossa professora Dona Ione Aquarone também se despedia do povo indo embora depois que passamos de ano.

Também naquele ano morreu a nossa excelente costureira Maria de Nhá Bigota, depois de uma longa enfernidade. Também morria o nosso tio João Henriques Corrêa, o João Caboclo.

Em 1947 no fim do ano criava-se uma linha de ônibus em Iporanga, o dono da linha era o Sr. Tito, residente na cidade de Apiaí, onde a empresa também estava sediada, mas o ônibus servia as cidades de: Apiaí, Iporanga, Ribeira, Paranaí e Adrianópolis.

O próprio Sr.Tito guiava o ônibus que era amarelo, metade era jardineiro e metade era caminhão que carregava todo tipo de mercadoria, tal como feixes de palmitos, frangos, peixes e outras coisa.

O ônibus sempre chegava aqui as 11 horas da manhã, sempre alegre com óculos escuros sobre os olhos, ele gostava muito da população: prometia e cumpriu o que disse; nunca tiraria o ônibus de Iporanga. O ônibus voltava de Iporanga às 13 horas, também tocando o louvando a Maria com sua buzina até desaparecer na reta, deixando somente aquele poeirão para traz em dias de sol forte.

Também foi ano de grande eclipse total do sol visto muito bem por nós, quando a cidade ficou quase totalmente no escuro por meia hora.

O ano de 1947 deixava para nós muita recordação, ano que fez muito sucesso entre nós as velhas músicas, entre elas: “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, “Cadê Zezé”, “Chiquita Bacana”, “Pára-quedista”, “Luar do Sertão”, etc, faziam muito sucesso. No rádio de Nhá Bigota podíamos ouvír os milagres de Nossa Senhora das Graças por intermédio do padre Antonio do Rio Cascar, interior de Minas Gerais.Essas são as recordações daquele ano.


1948

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O ano começava como sempre, no meio das festividades de Nossa Senhora do Livramento todos vestíamos roupas novas, feistas por costureiras do local. Naquela época, quase não se ouvia falar e até não existia no comércio roupas feitas em confecção, para homens, nem para mulheres.

Com o falecimento da Maria de Nhá Bigota, que era uma exelente costureira de roupas masculinas, ainda restaram outras costureiras do ramo: Nhá Pedrina, Isabel (Bezinha) filha do Sr. Juvenal João dos Santos, Tonica de Nhá Joanica e outras, depois apareceu na cidade o polêmico Mario Alfaiate que residiu e trabalhou na rua Pedro Silva por muitos anos, até o dia em que embarcou numa canoa no Porto do Ribeirão e partiu rumo à Xiririca (Eldorado, depois Pariquera Açu onde permaneceu atè o fim de seus dias. Costuravam roupas femininas: minha irmã Flauzina Corrêa, Dadan com a mãe Nhá Bigota (Abgail Descio) e outras mulheres.
O prefeito Celso Descio prometia fazer muita coisa pelo município, porém muita coisa deixou de cumprir. O governo Adhemar de Barros deu naquele ano um caminhão Mercedes-Benz, importado da Alemanha, para a prefeitura da cidade, o motorista do caminhão era o Sr. João Cubas. Naquele ano começava a estrada que ligaria Iporanga ao Banhado Grande; rodovia esta que até hoje não foi terminada apesar de já haver passado mais de meio século, depois que a obra teve início e que dos 30 quilometros total da estrada faltaram somente 2 quilometros para que fosse concluída.

Naquele ano, o prefeito Celso Descio, com a colaboração do governador Ademar de Barros, criou várias escolas: Serra dos Mottas, Betari, Caboclos, Porto dos Pilões, Castelhanos, Andorinhas, Feital, Caracol, e outros bairros no distrito de Barra do Turvo. Devido à grande quantidade de chuvas que provacaram grandes enchentes, no mês de fevereiro foi grande o prejuizo dos lavradores. Uma nova e grande balsa fora construída para travessia de caminhões sobre o rio Ribeira. Nhô Rodolfo foi exonerado do serviço de balseiro,no seu lugar entrou o Sr. Amadeus Furquim Dias (Nhô Manduca).

Por ordem do prefeito, fora demolido o majestoso coreto do largo da matriz, ali naquele espaço octogonal, a corporação musical reunia-se, todas as tardes de domingo, para proporcionar alegria ao povo. A antiga e saudosa banda era composta pelo amarelo dourado contranstando com o preto brilhante dos clarinetes, tendo na frente o maestro Benjamim dos Santos Lisboa, sempre com sua requinta, floreando velhas valsas e ótimos dobrados. Ali junto ao coreto, ouviam-se as histórias mais engraçadas contadas por ilustres cidadões iporanguenses ou forasteiros. O Sr. Celso Descio mandou desmontar o antigo coreto amparado na promessa que fez à população de construir um novo, maior e mais bonito naquele local, promessa esta que nunca cumpriu no seu primeiro mandoto e no segundo.

Em 1948, o antigo uniforme caque e o quepe cabeça de pão-de-ló, da da Força Pública, foi substituido, por fardamento mais moderno na cor chumbo, as polainas dos praças, deram lugar para botas com cardaços, no cano haviam ainda duas fivelas de abotoar.
Naquele ano nossas professoras eram: D.Ana Rita do Amaral e D. Maria Aparecida. Dona Ana era muito brava, muito patriota e muito católica, ela preparou-nos para a primeira comunhão, dando-nos catecismo por um mês.

Na segunda quinzena de maio chegava a Iporanga as Santa Missões realizadas de quatro em quatro anos, esta foi a penútima vez que veio à nossa cidade o bispo D. Idilio José Soares, que esteve aqui em visita pastoral. Naqueles dias antes da chegada do bispo na cidade, desembarcaram da jardineira os padres Capuchinho Franciscanos, eles foram recebidos por crianças e adultos católicos fervorosos. Depois da cerimônia da chegada, na frente da igreja matriz, os frades entraram na igreja e seguiram em direção ao altar mor, rezando conosco ali: um Pai Nosso e uma Ave Maria, em seguida houve uma grande pregação feita por Frei Atanazio. Começava as Santas Missões naquele ano, Missões estas, que terminaria no dia 16 de junho com missa cantada na igreja matriz, abrilhantada pelo coro da igreja mais os escolares. Neste ano ainda existia aquele fenomenal coro da igreja acompanhado por Sr. Pedro Caetano dos Santos no orgão de tubos. Depois da comunhão acompanhada do hino" Bendito louvado seja", entoamos "Mocidade brilhante e sadia" e já passando de onze horas termina a missa com o coro cantando "Cristo vence, Cristo reina".


Na festa de julho deste ano registramos a ausência do circo Rosário do Querozene, que todos os anos abrilhantavam a festa com o espetáculo circense dos malabarístas, dos personagens Nhá Juca e Nhô Bentão,com suas palhaçadas.

Notamos que os tropeiros de serra acima, com suas tropas de burros, estavam diminuindo sua frequência na cidade para buscar rapadura e aguardente de fabricação local. Pouco a pouco o transporte por tropas de burros passou a ser substituído por caminhões que tinham mais capacidade e rapidez.

Casal: Dona Júlia e Diogo Lebre.

Neste ano de 1948, não contavamos mais com Dona Júlia, zeladora da igreja, esposa do Diogo Lebre, a zeladora havia falecido no ano anterior. Seu lugar passou a ser ocupado por dona Maria Adriana, mulher muito religiosa e presidente da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, irmandade que já não existe.Também neste ano de 1948, depois de uma longa enfermidade, faleceu a jovem Madalena, filha do canoeiro Sr. José Manoel de Andrade.


No ano de 1948 chegava na cidade alguns membros da igreja pentecostal, liderados pelo então palmiteiro Manoel Bastos, por ainda não ter um templo construido, reuniam-se para os cultos dominicais na casa do próprio pastor o Sr. Manoel Bastos, estes foram os primeiros traços da Congregação Cristã, hoje consolidada no municípío, reunindo mais de 300 fiéis de Santa Ceia. Também para trabalhar com palmito, atividade que se iniciou comercialmente naquela época chegou o Sr. Antão Anacleto com a família, eles iam trabalhar no transporte do produto, utilizando a tropa de burros que adquiriu para esta finalidade.

Em nossa escola, já tinhamos chegado ao segundo ano primário e entrado na fase de escrever com tinta, agora a escola encontrava-se instalada no prédio onde esteve instalado o hotel do Motta, na antiga praça da Bandeira, hoje praça Honório Corrêa. Escrevíamos com canetas de corpo de madeira com o bico de pena metálico, muito comum naquele tempo, e de dificil manipulação para quem estava começando, a tinta era da marca Sucuri, para escrever era necessário mergulhar a pena no tinteiro para cada duas linhas escritas. A falta de prática e as dificuldades na coordenação motora causava muitos desastres com a tinta e por isso muita sujeira, motivando muitos puxões de orelhas e petelecos por parte da professora. O ano terminou e este humilde narrador não conseguiu superar as dificuldades da escola, ficando na repetência.

As musicas de maior sucesso na época, principalmente as mais tocadas nas vitrolas a corda (gramofone) na casa do Sr. Ulisses dos Santos (o Lisse) eram: "Chico mineiro" com Tonico e Tinoco; "Saudades de Matão" ; a "Valsa branca" de Zequinha de Abreu com cantores da música popular brasileira e outras.

Naquele ano , Iporanga tinha duas oficinas de ferreiro para consertar espingardas e bater machados, foices e ponteiros para furar pedras, a principal oficina estava situada na rua funda e pertência ao Sr. Antonio Mota "Antonio Veado" (o nome Veado estava relacionado as origem no bairro Veados, próximo a Pilões) após sua morte Antonio foi sucedido na oficina pelo irmão Juca Veado, que era casado com Elena Veada filha do ex-prefeito e lavrador Florêncio Pedroso. A outra oficina era do Sr. Vital e localizava-se na rua do Morro.

Essas são as principais recordações do ano de 1948, que foi muito bom e animado pela esperança da chegada da energia e luz elétrica na cidade muito em breve.

A esquerda na foto Elena Veado (por ser esposa do Juca Veado) e sua irmã Araci, ambas filhas do ex-prefeito e lavrador Florêncio Pedroso.







1949


Depois do dia primeiro de janeiro, estavamos felizes naquela festa, com roupas novas ainda feitas por costureiras aqui de Iporanga, iamos ao Porto do Ribeirão acompanhar a despedida da Santa. Eram 10 horas do dia 2 de janeiro; tristeza e melancolia delineava a saída da imagem que subia o rio dentro da embarcação azul e branca, continuei a seguir minha mãe que ainda demonstrava muita vitalidade, passamos ali perto da casa de Nhá Bigota, saboreamos algum tempo da prosa e da gentileza daquela amável senhora,que estava sentada em sua grande calçada de pedra no antigo Casarão do Pedro Silva, no final da descida da rua Pedro Silva, também vi ao lado daquela senhora seu marido Sr. Euclides com sua longa barba branca conversando com sua filha Dadam. Minha mãe trazia na cabeça seu véu preto da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus.

Naquela manhã de verão Sr. Euclides e Nhá Bigota foram sacoquear no remanso das águas calmas do rio Iporanga, ao passar pelo porto do seu Odorico Maciel com sua canoa, estavam ali parados sacoqueando o Sr. Luiz Nestlhener e sua esposa Dona Leonor. Ao amanhecer do dia 8 de janeiro de 1949 a canoa do prefeito Celso Descio saia do porto em frente a sua casa, cortando as águas amarelas do rio Ribeira em direção ao outro lado, o remador era o sr. José Cassiano (Manjuca), eles iam retirar sua rede de espera armada ali no dia anterior.

Naquele belos anos, tanto o rio Ribeira, como o rio Iporanga, ainda forneciam peixes em abundância. Nossa fauna e flora ainda eram ricas em biodiversidades pois estavam praticamente intocadas , nossas lagoas e rios ainda tinham muitos jacarés.

Naquele ano Iporanga aposentava os 35 antigos lampiões de esquinas trazidos da Bélgica no inicio do século, pois passávamos a contar com a energia elétrica fornecida por um gerador General Motors, importado dos Estados Unidos, o motor acendia as luzes da cidade ao escurecer e apagava às onze horas da noite, mas em caso de necessidade, por exemplo falecimento de pessoas na cidade a luz amanhecia acesa.

O primeiro operador que nos acendia a luz era o Sr. Afonso Cok que trabalhou naquele serviço até o fim do ano de 1945. Tivemos bonitos carnavais por aqui, com muitos brincadeiras de intruido, que se prolongou por todo mês de fevereiro e com muitos bailes.

As músicas mais ouvidas no carnaval de 1949 entre nós eram “O marmiteiro”, “Pára-quedista”, “ Chiquita bacana” e outras. Chegava para assumir a paróquia o padre Agenor Maria Santana, um padre gordo, baixinho, bravo e nervoso.

Depois da Semana Santa em abril chegávamos ao mês maio, com o céu azul cor de anil, nós íamos à igreja todas as noites para rezarmos com o padre ou capelão os tradicionais terços do mês de Maria. Eram terços bonitos, sempre abrilhantados pelo coro da igreja matriz, com o Sr. Pedro Caetano dos Santos ao órgão, as crianças e as filhas de Maria, estas vestidas de branco, com véus também branco em suas cabeças e fitas azuis entravam em fila dupla ao som do hino “Aceita estas florzinha”, iam até o altar mor onde saudavam a imagem de Nossa Senhora lançada sobre ela pétalas de rosas e outras flores, em seguida as moças e as meninas voltavam para o corpo da igreja para rezar o Santo Terço.

Naquele tempo, o soldado Aparecido já havia se reformado, os soldados Pernambuco e Aurélio após a briga com o soldado Abraão, deixaram a cidade mudando-se para outro local.

O comando do destacamento passava para as mãos do sargentos Evangelista auxiliado pelo cabo Manoelzinho, o soldado Abraão ainda estava por aqui, ou no posto policial do distrito de Barra do Turvo. O escrivão de policia era o Aristides de Lima, o carcereiro era o Sr. João Alves, que estava no lugar do Sr. José Elizeu da Silva, que se preparava para ir embora para outra cidade.

No dia 15 de junho soltamos um grande balão de janela do sino matriz, era uma festa de despedida do soldado Vicente, foi ele quem fez o grande balão, que pouco subiu, pegando direção do rio Iporanga acima, onde foram encontrados somente suas armações.
Na véspera da festa de julho de 1949 minha tia Eliza, embora já viúva, ainda fazia os seus bijus, eles eram muitos gostosos feitos de massa de farinha de mandioca que tia Eliza fazia no quintal de sua casa, situada na praça da Bandeira, ela fazia também seu famoso cuscuz de arroz e amendoim muito apreciado pela população local.
Outras mulheres, tais como Nhá Matilde do sr. Antonio Varisto, Nhá Izolina do Sr. Juvenal e outras mulheres faziam doces caseiros para serem vendidos nos fins de semana pelas ruas da cidade. Os doces eram levados por meninos nas ruas em bandejas ou cestas e oferecidos a quem por ali passasse, os doces caseiros mais fabricados eram: pão-de-ló, apressada, cocada, pé de moleque, broinhas e suspiros.
Às vésperas das festas, Maria Marques fazia suas flores artificiais com papel crepom para enfeitar os andares das imagens dos santos, que saiam nas procissões, pelas ruas nos dias de festa. Maria Marques, naqueles tempos ainda tocava belas valsas em sua gaita de boca acompanhada pelo ponteado do violão do seu marido, o Sr. José Marques, ainda jovem com cabelos todos pretos, acompanhava muito bem sua Maria ao violão.
No dia 26 de julho, mais ou menos às 10 horas da manhã chegava saltitando graciosamente aquele veado vindo da estrada do Ribeirão, ele correu por ruas centrais da cidade, foi enxotado por todo mundo. Quando o pobre animal já ia saindo da rua foi atingido por uma pedrada arremessada por Leopoldo Teixeira, o veado assustado pega a direção da rua Funda e ali mesmo foi abatido a tiro de garrucha 380, disparado pelo Nhô Rodolfo, que no mesmo local tirou o couro do pobre animal, cuja carne foi para a panela do atirador.
Depois das festas, já em 5 de agosto, aproximava-se a primavera anunciada pelos sabiás, que no inicio das manhãs começavam seus primeiros acordes.
Naquela manhã muito linda iluminada pelo Sol vi passar pelo céu de Iporanga, alguns pares de papagaios em grande algazarra, eles vinham do poente do Morro da Coruja. Naqueles anos Iporanga ainda tinha uma grande flora e fauna apesar de ainda não existir leis florestais e existir muito abate de animais silvestres.
Já no mês de setembro a caminho do bairro dos macacos, em pleno meio dia, vi passar uma dúzia de jacarés logo ali na ponte sobre aquele corregozinho, um pouco a frente da passagem seus filhotes com um ronco um pouco rouco, não pude ver a mãe jacaré que estava embaixo da ponte dentro da lagoa. Hoje não acredito que exista mais nenhum jacaré naquelas imediações.
Ainda naquele dia pude cantar vinte e dois tucanos que voavam um a um na direção das queimadas rumo ao córrego do Fundão rio acima. No mês de novembro começavam o canto agudo das cigarras ao meio dia e ao cair da tarde um cantar triste e grave das cigarras que cantavam até o escurecer.
No fim de 1949, a cidade já contava com uma centena de rádios receptores, muitos dos quais alimentados por bateria formada por um conjunto de pilhas. Nossas principais marcas de aparelhos de rádios eram Assunção, General Eletric, Zênite, Pioneer, A.B.C. e outras boas marcas da época.
As emissoras mais ouvidas na época em Iporanga eram: Rádio Tupi de São Paulo, Record, Bandeirantes, Piratininga, Farroupilhas de Porto Alegre, Nacional, de São Paulo e outras boas emissoras. Os noticiários mais ouvidos eram: O Matutino tupi, os noticiários da rádio bandeirantes e outros noticiários importantes da época. Os jornais assinados e mais lidos da cidade eram: O Diário de São Paulo, O Estado de São Paulo, A Folha da Manhã, Correio Paulistano e o Diário Oficial, aqueles jornais chegavam aqui pelo correio com pelo menos um dia de atraso. Na primeira quinzena de dezembro nós passávamos para o terceiro ano do curso primário. Nossas professoras em 1949 foram: Dona Carolina Ferreira Pinto e Dona Mercedes Soares.
Dia 16 de dezembro presenciei o Sr. Antonio da Rosa (Totó Borges) preparando os andaimes nos picos da torre da igreja matriz para a nova pintura nas vésperas das festas. Aquele senhor alegre era admirado por nós que nunca vimos pessoas naquelas alturas. Totó Borges enquanto trabalhava alegremente, assobiava naquelas pontas, geralmente só assobiava hinos religiosos ou dobrados da bandeira local da qual era membro.
Alegremente nós esperávamos as festas que vinham depois do natal. Naquela tardinha estava chegando á cidade nosso pároco, padre Agenor Maria Santa, ele desembarcou daquela jardineira em frente ao posto policial e seguiu aquele caminho em direção da velha casa paroquial, ainda vestia a antiga batina preta com seu chapéu preto na cabeça, os padres daquele tempo não saiam para lugar nenhum sem seus chapéus na cabeça.
Com as festas de fim de ano terminava assim o ano de 1949, agora esperávamos o ano santo de 1950, que para nós seria um ano de muita alegria.


1950


muita alegria.Depois de acompanhar a procissão do primeiro dia de janeiro, ficamos no leilão até altas horas da noite, estavamos contagiados pela enorme animação do Srs. Manoel Pereira(Manoel Corimba) e Antonio da Silva(Antonio Sabão), que gritavam o leilão no barracão da festa na praça da matriz. O Sr. Manoel Corimba exibia uma roda de pão-de-ló em uma bandeja, ele era muito brincalhão, estava vestido em seu elegante terno branco de linho e sua gravata de riscas diagonais, estilo inglês.
A banda Lira Iporanguense, tendo à frente o maestro Benjamim dos Santos Lisboa, tocava valsas e dobrados, naquele dia quem tocava o baixo era o Sr. José dos Santos Lisboa, homem respeitado do cartório, de alma muito boa e grande contador de histórias. Dia 2 de janeiro, depois da missa solene (cantada), acompanhamos a procissão, quase as 10 horas da noite.

Minha mãe, Dona Eugenia, com seu vestido azul, a fita da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus e véu preto na cabeça, caminhava com olhos lacrimejando pela emoção no meio daquela enorme multidão. Sr. Joaquim Ursulino Cruz, seguia na frente coma honra de transportador oficial da cruz de metal que guiando a procissão. Dona Maria Adriana, viúva do Sr. José Zózimo, vestida de preto seguia cantando com o estandarte, acompanhada das Filhas de Maria, com o estandarte delas e vestidas de branco com fitas azuiz. Meu pai Sr. Honório Corrêa seguia mais atrás com seu paletó marrom de brim e chapéu de pano marrom nas mãos, ainda mais atrás de todos vinha a banda Lira Iporanguense com seus metais brilhando sob o forte sol do verão, tocando vários hinos.
Chegando ao porto do Ribeirão Iporanga, depois de termos ouvido a calorosa pregação do padre, assistimos a despedida da Santa, Nossa Senhorado Livramento. Enfim a Barca toda ornamentada nas cores azul e branco ia se afastando lentamente do porto. Voltamos à igreja, onde o padre Agenor falou sobre o Ano Santo de 1950, oficializado pelo Papa Pio XII.
Depois da festa mamãe, Dona Eugenia, começou a sofrer com as dores do reumatismo, para minha mãe; o caminhar passou a ser sinônimo de pura penitência, mau que só desapareceu depois de muitos anos de martírio.
Naquele tempo Iporanga tinha um ótimo serviço de alto-falante, que executava as mais variadas gravações para aparelhos fonográficos, o locução era produzida na voz de Joaquim Silva Trindade (Nhô Zico) o nome dado ao programa era: " A voz de Iporanga" Que na fala ufância de Nho Zico ainda complementava dizendo: -- Transmitidindo diretamente do nosso estúdio localizado na rua Barão de Itaúna sem número. O local hoje é ocupado pelo inativo museu, que pertence ao Ambientalista Sr. Cleyton Lino. Os discos de maior sucesso naquele ano, isto é, os mais ouvidos eram: "Em solo de violão" com Antonio Rago, "Asa branca" com Luiz Gonzaga, "Brasileirinho" e "Baião delicado" com Valdir Azevedo.
Iporanga no ano de 1950, contava com quase que a totalidade de sua fauna e flora preservada, os palmitais ainda ainda estavam virgens como quase toda a floresta, eram encontrados em qualquer lugar, assim com a mesma facilidade com que se encontrava muito peixe nos rios dentro do município. O Sr. José Lúcio da Silva transportava para a feira em osasco um caminhão por semana superlotado de palmito de primeira, o veículo era da marca Desoto, que saia da cidade às 7 horas da manhã para chegar em Osasco noite alta. O palmito era vendido livremente na feira, sem nenhum problema com a polícia ambiental, que até nem existia. O motorista que dirigia o caminhão que transportava o palmito era o meu primo Pedro Corrêa.


Até o ano de 1950 quase todas as mulheres, donas de casa, da cidade costumavam a lavar as suas roupas nos riachos ao redor da cidade de Iporanga, outras nas próprias águas cristalinas do Ribeirão Iporanga, ali mesmo no porto ao lado das dezenas de canoas que podíamos ver amarradas com suas correntes já gastas nos palanques da beira do rio.
Em Iporanga pouquíssimas casas tinham água encanada, por essa razão, a maioria das mulheres seguiam debaixo daquele sol escaldante até o Porto do Ribeirão, elas iam lavar suas bacias de roupas que levavam na cabeça, ou embaixo do braço. Na beira do rio, depois do gramado começava uma areia clara quase branca, onde as centenas de borboletas amarelas faziam revoadas e pousavam de maneira organizada, formando desenhos no chão bem próximo daquela água muito limpa, cristalina e transparente de uma margem até a outra. Embaixo da água o balé harmonioso dos cardumes metálicos e multicoloridos dos saguerús, carás, lambaris, representava um aquario natural que transferia a magia da tranquilidade que produzia. Além disso o perfume das flores de napoleão, chegavam acompanhando o curso do ribeirão, combinando com o aroma da maresia originada no leito do Ribeira ou nas ilhas de aguapés que rodavam para o mar distante, lá para as bandas de Iguape. Para complementar a química total da fragância, somava-se o cheiro de limpeza produzido pelo sabão caseiro, evaporando das roupas estendidas na relva, encantando aquela atemosfera para os sentidos das crianças, que brincavam descalças com os pés mergulhados na água ou nas canoas, inalando pelo pulmão da alma infantil tal fantasia celestial.


Porto do Ribeirão e canoas, a Barca de N.S.do Livramento, e o frondoso Pau de Sangue numa festa de janeiro - anos 50.

Na margem do ribeirão ela desciam as banheiras e começavam o trabalho animado por longas conversas, entre amigas para colocar em dia todas as fofocas do cotidiano, da igreja e da política. Aquelas mulheres lavadeiras tinham ali suas grandes pedras chatas de arenito quase dentro da água. Elas costumavam rodear seus panos ou vestes, batendo a roupa e produzindo um forte estalo, que as vezes o sincronismo de várias lavadeiras batendo o pano na pedra, quase ao mesmo tempo, produzia efeito parecido com uma bateria de fogos. Geralmente o serviço era feito descalço com os pés dentro da água. No sol forte de verão costumavam a lavar roupas ali naquela água prateada de lambaris minha mãe Dona Eugenia, Dona Maria Luiza do Zé Moreira, Dona Maria Muniz e outras. Naqueles belos anos ainda existia naquele lugar o Grande Pau de Sangue, cheio de parasitas Barba de Velho, Orquidias e Caraguatás (Bromélias). A enorme árvore estava a 50 metros do rio, nela em uma certa ocasião pude contar quase vinte ninhos de diversas espécies de pássaros, que procuravam o local seguro para fazer ninho e criar seus filhotes. Um dia vi pela última vez, uma enorme quantidade de periquitos verdes fazendo grande algazarra num dos galhos do Pau de Sangue, dias depois uma tempestade muito forte, numa tarde de verão causou a queda e o fim daquela grande e frondosa árvore.
Até o ano de 1950, nos arredores de Iporanga ainda havia uma quantidade muito grande de tucaneiros, goiabeiras, araçaeiros, camarinheiras, jambeiros, que davam frutos de dezembro a março. Haviam também um grande coqueiral na margem direita do rio Ribeira, além das quaresmeiras e árvores de natal, que a seu tempo floriam tingindo as montanhas nas cores amarelas ou violeta, essas árvores assim como a tabocuva e o ingazeiro serviam como lenha o que causou sua devastação predatória por parte da população, até o surgimento do fogão a gás. Hoje também raramente encontramos o araçaeiro ao redor da cidade. Essas árvores frutíferas traziam da mata grande quantidade de pássaros, das mais variadas espécies para a cidade, principalmente no verão. As goiabeiras conseguiram sobreviver por mais tempo, por que a sua reposição através da semente engolida pelos animais ou por pessoas nasciam com facilidade, já as frutas com sementes ou caroços maior como abacate e manga, por razões obvias, nunca progrediram.
Até o ano de 1950 grande parte da população iporanguense plantava arroz, ainda que fosse só para o consumo da família, faziam pequenas roças ao redor da cidade, ou de suas casas no zona rural, plantando arroz, feijão, milho, cana,mandioca, banana e abacaxi. O arroz era todo colhido a mão com pequenas facas ou canivetes, cacho por cacho, depois era trazido para casa e empilhado em giraus de madeira. Os giraus, uma espécie de sótão caiçara eram geralmente feitos dentro da própria casa. As maiores colheitas de arroz iam de abril até maio. O arroz produzido para consumo da família, só era vendido o excedente, quando a produção superou as expectativas, por causa de uma ótima safra. Consumido aos poucos o arroz era descido do girau em pequenas quantidades e malhado no chão da própria casa. Geralmente aquele trabalho era feito pelas próprias donas de casa ou seus filhos que malhavam no chão com os pés descalços, depois de malhado aquele arroz e abanado no apá feito de taquaras eles iam para o terreiro colocado dentro de panos a fim de ser secado ao sol, depois era limpo no pilão, depois de estar bem seco o arroz era abanado no terreiro pelas donas de casas. Quando aquelas donas de casa deixavam o terreiro com o arroz, ali naquele local desciam um grande numero de canarinhos da terra e rolinhas fogo apagou em disputa do farelo com as galinhas. Depois aqueles alegres passarinhos voavam ali para a rua Pedro Silva, onde ouvia-se o alegre cantar daqueles passarinhos em grande harmonia.
Era assim mais um dia alegre na nossa pacata e alegre cidade do interior. Depois de tomarmos nosso café e vestirmos o nosso uniforme, calça azul e camisa branca, nós seguiamos em direção à escola.
No mês de maio de 1950, não houve grandes enchentes no rio Ribeira de Iguape e nem no ribeirão Iporanga. Nas madrugadas de maio de 1950, nossa cidade tinha perto de duas centenas de galos que batiam suas asas e alegravam aqueles dias que iam nascendo. Eu, ainda criança, conhecia de cor o cantar daqueles galos e sabia um a um onde cantavam e também quem era os seus donos. Até aqueles anos o povo de Iporanga dormia cedo e eram quase todos madrugadores, depois do cantar dos galos, ouviam-se barulhos nas casas, eram as mulheres, donas de casa, que além de fazer seu café da manhã, socavam arroz para o almoço. No fim de junho, depois das festas juninas, nós entravamos em férias escolares por um período de 30 dias.
Naquele época já estávamos a caminho dos sertões do município, os homens que conduziam as bandeiras do Divino Espírito Santo o Sr. Jose Moreira seguia na direção do bairro dos Pilões acompanhado de um menino (Juca Cosme), que ia com uma caixa de repique.
Aqueles bandeireiros, homens religiosos e sérios, já meio idosos ficavam quase um mês visitando aqueles povoados a fim de arrecadar donativos e prendas que já chegavam a Iporanga quase nas vésperas das festas. O sr. Zé Moreira, dizem os críticos que ele gostava de hospedar-se sempre no mais abastado fazendeiro do bairro, dali ele visitava diversas localidades próximas arrecadando prendas, depois voltava para dormir e jantar na mordomia do melhor anfitrião, isto até enquanto as distâncias permitiam, depois localizava outra boa hospedagem nos bairros mais à frente. De bobo ele não tinha nada.
O festeiros de Santana nas festas de julho de 1950, foi o Sr. José Eliseu, homem muito religioso também arrecadava donativos para a construção da igreja de São Benedito, que estava com seus serviços adiantados.

Na calçada do Sr. Celso Descio, O Euclides (Clidinho) e o José Nunes, em tarde ensolarada.

No dia 16 de julho de 1950, domingo, às quatro horas da tarde nós faziamos uma roda de rapazes e crianças em volta de um velho rádio a bateria de pilhas da marca “Pionner”, ali na rua 15 de novembro, em frente a casa do Nhô Athos dos Santos, esquina com a rua Coronel Descio, nós estávamos atenciosos por ouvir o jogo do Brasil com o Uruguai, naquela copa do mundo, diretamente do Maracanã, no Rio de Janeiro, o jogo seria narrado por Pedro Luiz, naquela tarde memorável que começava às cincos horas da tarde. Para nossa tristeza o Brasil perdeu aquele jogo para o Uruguai de virada, por 2x1 (Maracanasso)e todo mundo saiu dali de cabeça baixa, Já era quase noite, quando o alto-falante “A voz de Iporanga” na voz do locutor Joaquim Silva Trindade (Nhô Zico) confirmou a derrota do Brasil ( só em 1958 fomos campeões).



Dia 20 de julho o povo já se preparava para as festas da padroeira Santana, Divino Espírito Santo, Santíssima Trindade e São Benedito. Os bandeireiros Zé Moreira e Benedito Padre já tinham chegado dos bairros, eles chegavam com suas bandeiras enroladas, acompanhados de seus meninos com a caixa de repique.

As festa daquele ano, ocorreu num clima de muita tristeza, por causa da tragédia ocorrida no primeiro dia , com a morte do soldado João e do Manoel do Batari. Às dez horas da manhã assistimos a solene missa celebrada pelo padre Agenor, enquanto no corredor do quartel era velado o corpo do soldado, à espera do sepultamento enquanto o Manoel do Betari ferido de morte a bala e sem nenhum tratamento, morria naquela tarde, deixando toda família enlutada, além da mulher e sua pequena filha Sandra, que ainda nem andava.
O soldado Abrão, homem muito religioso, assistia aquela missa no corredor da igreja, ele mostrava um ar de tristeza, alisando seu quepe azul da força publica, debaixo do braço. Em um clima de grande tristeza, terminou a missa, toda a multidão seguiu para a frente das portas da sacristia onde foram distribuídos os pães bentos para o povo.

Na imagem do quartel: de pé a esquerda o soldado Abrão, ao seu lado sentado e trazido ali, só para fazer a foto, o preso pelo crime, Manoel do Betari, que baleado na perna e no peito, após passar a noite preso, sem médico, morreu 15 minutos após a fotografia. Ele, no xadrez, faleceu enquanto rezava o Pai-Nosso com o Zé Mineiro. No centro deitado está o corpo do soldado Joãozinho, que junto com o praça da direita veio reforçar o policiamento na festa, julho 1950.


O pão foi distribuído pelo festeiro Sr. José Elizeu da Silva, que também tinha expressão de tristeza.

Era quase ao meio dia, quando nos dirigimos para nossa casa almoçar, onde morávamos, na rua Pedro Silva número 42. Naquela hora nós ainda ouvia o pipocar da alguns rojões, cujas varas caíram verticalmente na nossa frente, próximo do meu pai. O Sr. José Eliseu, homem ainda moço, com seus cabelos todos pretos, distribuía o resto do pão bento que estava dentro de uma grande lata redonda.
Perto daquele lugar estava o meu amigo Benedito da Rosa (Dito Totó), amigo de infância, filho do Sr. Antonio da Rosa (Totó Borges). Aquele menino, tempos depois, foi atropelado por um caminhão, muito próximo daquele mesmo local, ele não resistiu ao traumatismo no crânio causado pelo acidente. O pai do rapaz, e nós todos, sentimos demais a dor daquela perda.
No final de julho, depois das 5 horas, o Sr. Antonio de Souza (Tico correio) saia da agência do correio e seguia em direção a loja de 5 portas do Sr. Pedro de Lima, loja que anteriormente pertenceu também aos seus irmãos Daduca e Totó de Lima, já falecidos a mais de quinze anos, o atual comerciante era sogro do Tico. O Sr. Pedro de Lima, já bastante idoso estava sentado na calçada, para descansar um pouco, bem na esquina da praça da matriz (hoje praça Luiz Nestlhener) esquina com a rua Carlos Nunes, onde ficava o estabelecimento, naquela hora o Tico do correio entregou para ele o jornal “Diário de São Paulo”, com as últimas notícias, seu Pedro de Lima pegou seu velho óculos de bolso e começou a ler. Ainda me lembro que uma perna do velho óculos era de elástico de estilingue, que ela amarrava na outra perna, por trás da orelha.
O mês de agosto já começava quente na cidade, às eleições para governador do estado e também para presidente da república, pleito que aconteceria no dia 3 de outubro. Já havia muito reboliço envolvendo muita discussão política pelas ruas da cidade. O candidato forte para presidência naquele ano foi o Sr. Getúlio Dornelles Vargas, candidato do P.T.B., Partido Trabalhista Brasileiro. Um dos candidatos a governador era o professor Lucas Nogueira Garces, apoiado pelo Ademar de Barros do P.S.P. - Partido Social Progressista. O outro candidato foi o Sr. Hugo Borghi do P.S.D. - Partido Social Democrático.
Quando chegou Setembro o céu de Iporanga começou a ficar embaçado, efeito causado pelas constantes queimadas das roças para o plantio mais cedo. Naquela vez pude ver em uma das últimas vezes o Sr. Euclides da Silva Pereira, o "Seu Clides", com sua longa barba branca, acompanhado de sua mulher Nha Bigota, naquela madrugada eles pegaram remo e sacoca, para ir sacoquear no remanso do rio Iporanga. Sr. Euclides costumava levar sua canoa até o poço do padre, pois ele já não aguentava mais subir as corredeiras do ribeirão remando.
No dia 1 de outubro nós, ainda crianças, seguiamos o Sr. Lelis Borges, que se dirigia para a grande gabirobeira, que havia perto da antiga casa paroquial, casa que foi doação de Dona Olimpia Neves. Amarram no tronco daquela grande árvore, que cobria a todos com sua sombra, dois grandes bois do Sr. Celso Descio. Eram dois bois que seriam abatidos pelo Sr. Lelis Borges naquela manhã eram: um pardo outro malhado, a carne tinham o endereço do viveiro de 3 de outubro, instalado em frente à casa do Sr. Celso Descio, que a esta altura já registrava um grande movimento de entrada e saída de pessoas.

O pessoal dos Santos tinha também o seu viveiro embora fosse um pouco menor, ele estava localizado em frente da casa do Sr. Pedro Caetano dos Santos, era barracão feito de maddeira e coberto com encerado de caminhão. Os Santos, também naquela ocasião abateu dois bois e distribuiu a carne entre os correligionários. No tempo dos viveiros eleitorais, era fácil saber antecipadamente quem venceria a eleição, pelo viveira que detinha a presença da maior multidão. A possibilidade de errar na previsão era remota. Naquela eleição venceu o Dr. Getúlio Vargas e para governador do estado, venceu o professor Lucas Garces, ambos apoiados na cidade pelos Descio, que eram os donos do poder. O candidato Hugo Borghi, apoiado pelos Santos, saiu perdedor daquele memorável pleito e nunca mais ouviu-se falar de tal nome.
No fim de 1950 chegou na cidade o primeiro trator de esteira, pertência a um italiano de nome Ferrantos, aquele trator era um Caterpillar D-4, que iria trabalhar em nossas estradas. O povo ficou muito admirado com aquela máquina, pois nunca viram até àquela data nada semelhante. O primeiro trabalho foi a terraplenagem do antigo campo de futebol, onde hoje se encontra a escola estadual, na avenida Iporanga.

Depois das belas novenas de Nossa Senhora da Conceição, abrilhantada pelo coro da igreja, sempre sob a regância do organista, Sr. Pedro Caetano dos Santos e o capelão Nhô Athos dos Santos, nós preparavamos para o natal e a festa do fim do ano.

A missa solene comessou a meia noite do dia 24 de dezembro e como de costume, foi entoado o hino de entrada "A nós descei Divina a Luz", com a vós forte e grossa de Nhô Athos dos Santos e do Manoel Francisco Pereira (Corimba).

Depois do natal, já no dia 26, o José Croque, filho do Nhô Athos, ainda novo, com seu cabelos repartidos, retira da igreja, com a ajuda do Sr. José Eliseu da Silva, as 4 partes dos portais de madeira da barca de Nossa Senhora do Livramento para nova pintura.

José Croque ia faser aquela nova pintura azul e branca, da parte em madeira, do lado de fora da igreja, era o servisso que ele sempre fazia.

Ainda no dia 26 às 8 horas da noite, presenciei Nhô Joaquim Evaristo, marido de Nhá Juana, saindo vagarosamente da porta de sua casa, em frente ao porto do Ribeirão, onde morava, sorrindo, com seus dentes de ouro, ele trazia nas mãos um enorme bombo (bumbo) amarelado, ele batia no bombo 8 pancadas e lentamente se recolhia, ele estava avisando que era chegada a hora do ensaio da Banda Lira Iporanguense, que ali em sua casa, reunia-se para os ensaios noturnos. Minutos depois chegava o mestre da banda Benjamim dos Santos Lisboa, todo sorridente acompanhado do Sr. Públo e outros músicos.

Daquele ano em diante, nossa boa banda de música, a Banda Amarela entrava em decadência, alguns músicos morreram, como o caso do Nhô Athos e seus finhos Athinho e Zotico, em quanto outros foram embora de Iporanga, como por exemplo: O maestro Benjamim, que tambem foi para Itapetininga. A Banda Amarela, e seus instrumentos remendados, com cera de abelha, estavam com os seus dias contados.

A festa, neste ano, foi meio tumultuada, houve um certo momento que o caminhão Mercedes da prefeitura, queria passar por dentro do barracão do leilão, mas foi barrado pelo padre Agenor Maria Santana, questão que evoluiu para uma calorosa discussão com o motorista João Cubas e o Sargento Evangelista, tendo o soldado Abraão ficado a favor do padre. Naquele dia, o padre Agenor disse:-- "Vou embora de Iporanga, aqui não fico mais". Dias depois o padre Agenor, que era muito bravo e nervoso, despedia-se na igreja, ele foi mesmo embora para sempre.



1951


O ano de 1951, começou com a gripe coreana, nome relacionado à Guerra da Coréia, que havia começado na metade do ano anterior. Muitas pessoas ficaram acamados com aquela epidemia, principalmente os idosos, que foram os mais atingidos pela moléstia, inclusive minha mãe. Também no começo deste ano chegou a Iporanga para o retiro de carnaval o padre Nelson, um padre por sinal muito bom, ficou na cidade em torno de um mês. Ele dava aula de catecismo para as crianças nos domingos. Com ele veio o belo hino " A treze de maio na Cova da Iria", para a nossa paróquia.

Logo após a despedida do padre Nelson, chegou na cidade o bondoso e carismático padre Arnaldo da Costa Caiffa, acompanhado de seu sacristão Luiz (depois apelidado pelo padre de Luiz Bugre), e com o pároco veio também o amigo de nome Edmundo Santana, conhecido como Major Santana. Aquele padre magro, alto, cabelos grisalhos, muito brincalhão, sabia fazer truques e mágicas com as mãos, sabia dirigir e tinha um Jipe Willys 49 modelo da guerra, tinha muito carísma, um coração de uma bondade extrema, agora iria conduzir as almas desta paróquia de Iporanga e a de Ribeira. o padre gostou muito daqui onde permaneceu até 1960, quando foi para Cananéia viver seus últimos dias.

O Padre Arnaldo da Costa Caiaffa, um fenômeno.

Passado os dias de carnaval a população começou a preparar-se para a política, começando a reunir-se os bloquinhos de debates nas praças, nos portos e nos cantos das ruas, principalmente à noite. Era ano eleitoral, para as prefeituras e câmaras municipais.

Neste ano a prefeitura construiu uma nova balsa para travessia de veículos e pessoas no rio Ribeira, ligando Iporanga ao distrito de Barra do Turvo, Amadeus Furquim Dias (Nhô Manduca). Foi acelerado o trabalho de construção da estrada de rodagem para Barra do Turvo com homens trabalhando com carrinhos de mão, carroças, pás, picaretas e também o trator Caterpillar D-4 do Sr. Ferrantos. A estrada já havia chegado bem no alto do morro das Andorinhas, mas ainda foram necessários mais alguns anos para ser concluída devido as dificuldades que foram enfrentadas no local.

Ademar de Barros, então governador, havia criado um posto de saúde em Iporanga e nomeou quatro funcionários que foram: Lourenço Nunes, Renato da Silva Pereira e Benedito Dias de Oliveira (Dito Valente). O posto contava também com um médico, que não sei por qual motivo ou razão, naqueles anos, o médico não residiou na cidade, por isso raramente aparecia para receitar lombrigueiro para as crianças, em uma época e localidade onde a mortalidade infantil era altíssima.

As crianças da geração daquele ano que terminou o terceiro ano primário ficou aguardando o termino do grupo escolar que estava sendo construído, para cursar a quarta série para concluir o curso primário e receber um diploma.

O Sr. José Eliseu da Silva com auxilio das roletas e bingos aos domingos arrecadava dinheiro para a construção da igreja de São Benedito que estava quase terminada.


Cartaz da campanha política do Dr. Djalma-1951.

Naquelas noites o serviço de alto-falante "A voz de Iporanga", mantido pela administração municipal ( Aqui vai uma reparação, o aparelho de som pertência ao Djalma não à prefeitura), transmitia música para a população e nos intervalos fazia campanha política para, o recém formado engenheiro Dr. Djalma Descio (DDD), indicado pela situação, (não houve uso indevido da máquina pública, contrariando-se ao que na época era uma coisa muito natural, tanto para situação como oposição, mas o equipamente de som era particular e quanto a isso, o nosso amigo Djalma foi bem claro). Era prefeito o tio do engenheiro o Sr.Celso Descio irmão do Sr. Rafael Descio (Fequinho), pai do candidato. O Djalma era também amplamente apoiado pela nossa família, principalmente por que tratava-se de uma pessoa extraordinária e muito amigo nosso, não só por conta de algumas pouca promessa de previlégio acertado, (o que hoje parece estranho, mas que na época era normal). O Djalma tinha também o apoio do novo governador Lucas Garcez e do deputado Diógenes Ribeiro de Lima, grande benfeitor e amigo de Iporanga.

O candidato dos Santos era o comerciante e também muito boa pessoa, grande comerciante de Barra do Turvo, o Sr. Francisco de Paula Souza (Chico Cardoso), homem de poucos estudos, ao contrário do academico Dr. Djalma, porém o Chico gozava de muita amizade, além de ser muito amado, no seu distrito, ele teve mais de metade dos votos de Iporanga. Os Descio, já se consideravam eleitos nas eleições que se realizariam naquele 3 de outubro, portanto já cantavam vitória.

O alto-falante, sob o comando do jovem Joaquim da Silva Trindade "Nhô Zico", ao microfone, começava com o dobrado "Saudade de minha terra" As músicas mais ouvidas no ano de 1951 no serviço de alto-falante eram: "Brasileirinho", "Baião delicado" com Valdir Azevedo e "Belas valsas", além de boleros da época. Tocavam-se também muitos dobrados de maestros muito conhecidos naquele tempo.

O Sr. Afonso Cok que trabalhava com o motor da luz já tinha ido embora de Iporanga deixando no seu lugar Sr. Orozinho Morato. O estado tinha criado escolas em quase todos os bairros do município. No bairro dos Pilões lecionava a Dona Conceição, irmã do Sr. Ismael Julio da Silva, no bairro Serra dos Mottas lecionava a Sra. Rosa Rodrigues, no bairro dos Caboclos lecionava a senhorita Dadan, filha do Sr. Euclides da Silva Pereira. Ainda foi criada a escola do bairro dos Barreiros e Anhemas, no distrito da Barra do Turvo. No bairro Barreiros lecionava minha irmã Flauzina Corrêa e no bairro dos Anhemas lecionava Nadir Nunes, filha do Sr. José Saturnino Nunes, coletor estadual desta cidade.
Depois do carnaval o Sr. João Florindo de Moura (João do chumbo) veio à cidade num fim de semana e sendo um pouco valente resolve fazer um enorme barulho pela cidade galopando com seu cavalo por cima de pessoas e falando palavrões, não contentando-se, pegou seu revolver calibre 32, marca Colt na garupa de seu cavalo e sai atirando e assustando todo mundo. Ele amarrou o animal na porta da loja do Sr. Joaquim Cardoso dos Santos (Joaquim de Juvenal), na rua Pedro Silva com a praça da matriz e ali entrou fazendo uma enorme arruaça, então chegou lá o sargento Evangelista, o soldado Anibal (recentemente o chegado à cidade) e o soldado Abraão, que juntos e com muita dificuldade tomaram o revólver do arruaceiro. João do Chumbo, que apesar de estar bêbado, ter disparado a ermo e ter dado muito trabalho à polícia, foi solto já à noite do mesmo dia sem maiores explicações, por ordem do delegado em exercício Sargento Cirino.
No fim do verão de 1951 pude presenciar o Sr. Juvenal João dos Santos de bom humor remendando suas redes de espera, esticadas ao sol, em frente à sua casa. Ele morava ali mesmo na praça da matriz, ele muito feliz alongava uma conversava conosco.
Naquela tarde quente de 8 de Março, o prefeito Sr. Celso Descio com sua careca brilhando exposta ao sol atravessava na canoa o Ribeira, com o José Cassiano (Manjuca), ao remo para armar sua rede de espera do outro lado do rio, em frente e na direção de sua loja, local onde é hoje a ponte sobre o Ribeira.

A foto ao lado, mostra iporanguenses exibindo uma grande traira, daquelas de 15 kg, que existiam no Ribeira nos bons tempos. O local é ao lado da loja do Sr. Celso Descio; à esquerda está um dos filhos do Carlos portugues, e ao seu lado pela altura parece o grande Jabor Descio, seguido pelo Juca Esperto e o Eurico Batista.

Naquele ano, o Ribeira já estava tranqüilo, já havia passado a fase de enchentes, as águas estavam tranqüilas e voltavam ao seu leito normal. Ainda havia muito peixe em nossos rios, principalmente cascudos, aninans e trairussú, que eram vendidos em fieiras de cipó, de porta em porta e também seguiam no ônibus para serem vendidos em Apiaí. Também eram comercializados, na cidade, carne de animais caçados na Mata Atlântica, entre eles veado, capivara, paca, tatu, jacaré e outros animais, todos vendidos livremente.

No ano de 1951, ainda haviam por aqui muitos canarinhos da terra, curiós e bicudos ciscando o farelo do arroz, mas as rolinhas fogo apagou já estavam cada vez mais raras, dificilmente ouvíamos o estalar de suas asas, já o periquito verde pena comprida, era abundante em nossa região. Nos dias de sol de março, nós os avistávamos as centenas fazendo grande algazarra nas copas das goiabeiras e castanheiras.
Chegando mes de abril e maio ainda haviam mexeriqueiras em grande quantidade, as mexeriqueiras começavam a produzir de abril a junho e pouco da produção era vendido, pois existiam em quase todos os sítios.
Num daqueles dias de maio ainda pude presenciar Nhô Athos dos Santos com os bolsos do seu velho paletó de brim abarrotados de mexericas. Ele contava suas histórias engraçadas enquanto chupava suas mexericas.
O soldado Abraão já havia se despedido dos amigos e deixado Iporanga, levando também sua família. Abalado pela tristeza com a tragédia do soldado João, que foi assassinado em Julho e outros motivos, ele resolveu ir embora para a cidade de Santos, onde iria morar.

Aduton Cícero Evangelista de Melo chegou em 1951.

Acabara de chegar à nossa cidade o jovem soldado Aduton Cícero Evangelista de Melo, era um soldado alto e loiro, muito bem fardado e muito disciplinado que ia para o destacamento de Barra do Turvo. Pude ver naquele dia que o soldado Aduton tinha uma faísca de ouro entre os dentes superiores da frente, o soldado Aduton seguiu com seu fuzil às costas, com todo aquele aparato, sabre, metais e couro, ele foi a cavalo de manhã acompanhado de meu cunhado José Bernardo de Lima (Juca balseiro) que também também montava seu bom cavalo vermelho levando malas e sua capa gaúcha na garupa. Deveriam chegar ao distrito da Barra do Turvo ainda naquela tarde. Na Barra do Turvo, dias depois o soldado Aduton, namorava com minha irmã jovem e bonita Flauzina Corrêa que lecionava na escola do Barreiros, naquele distrito.
Mais tarde o Aduton e Flauzina casariam-se na igreja Matriz de Iporanga, como veremos mais adiante.

Flauzina Corrêa

Na cidade a política continuava cada vez mais forte e cheia de fofocas, com aglomerações de pessoas pelas tranquilas ruas de Iporanga. Muitos funcionários públicos da cidade eram removidos para outros localidades por causa de retalição política.
Quem era removido da cidade, ia embora com a maior tristeza, principalmente quando era filho da terra, prometiam nunca mais voltar a Iporanga, mas raramente cumpriam a promessa.
Um pouco depois das festas de julho houve tumultos e brigas pela cidade, como aquela em que o Lourenço Nunes atingiu o Nhô Rodolfo com uma tijolada quebrando-lhe a dentadura.
Durante o mês de Agosto de 1951 o serviço de alto falante anunciava as obras do prefeito Celso Descio e governador Ademar de Barros para o nosso município, falava-se na construção da estrada de rodagem para o distrito Barra do Turvo e para o Banhado Grande.
Ninguém acreditava que o jovem candidato Dr. Djalma Descio, sobrinho do prefeito Celso Descio com apoio da máquina pública e toda a espécie de propaganda nas mãos fosse perder a eleição de 3 de Outubro para o Sr. Francisco de Paula Souza (Chico Cardoso).
Enquanto o Djalma era um engenheiro recém formado o Chico Cardoso era apenas um negociante e comprador de porcos no distrito de Barra do Turvo, mas o senhor Cardoso gozava de muita amizade e era muito bem apoiado pelos Santos.
Não podemos deixar de citar aqui o casamento da jovem Flauzina, minha irmã, bela moça no dia primeiro de outubro de 1951. Naquele dia ela entrava na igreja Matriz de Iporanga para o enlance matrimonial com o jovem soldado Aduton Cicero Evangelista de Melo.

Aduton foi: Militar do Exército, da Cavalaria, da Força Pública e da PM.

Minha irmã toda de branco, de véu e grinalda subia os degraus de pedra da Igreja ao lado do soldado Aduton que vestia fardamento de gala, calça azul, túnica branca com botões e cordões dourados e quepe também azul; eram 10 horas da manhã daquele dia num grande acompanhamento e sobre os acordes da banda de música Lira Iporanguense.
Foi um dia de muita festa para nós, aquele sábado, sendo que, aquela cerimônia matrimonial foi realizada pelo reverendo padre Caiaffa.
O Aduton e minha irmã passaram a morar na rua Pedro Silva, ao lado da nossa casa.
Chegando 2 de outubro, quando começava a chegar gente para votar, percebia-se sempre um maior número de pessoas no viveiro eleitoral de frente à casa do prefeito Celso Descio.
Aconteceu que Barra do Turvo tinha metade do eleitorado de Iporanga e no dia seguinte, 3 de outubro aqueles eleitores da Barra do Turvo votaram em massa no Sr. Francisco de Paula Souza (Chico Cardoso). Os eleitores de Iporanga, mais ou menos oitocentos votantes se dividiram entre o Sr. Cardoso e o Dr.Djalma Descio, dando vitória nas urnas para o Sr. Chico Cardoso. Depois do resultado foi uma grande festa dos correligionários dos Santos com enorme queima de fogos. Os Descios ficaram muito tristes, disseram que iam embora de Iporanga e foram, só restando por aqui apenas o Sr. Celso Descio que em 1955 se elegeu novamente, como veremos mais adiante.
Depois do segundo mandato do prefeito Sr. Celso Descio em 1955 ele também pegou toda a sua família e foi embora da cidade, depois voltou mas sem a família. Também em 1951 a família do Sr. Benjamim dos Santos Lisboa e a do Sr. José Dias Rodrigues haviam saido de Iporanga, deixando o coro da igreja Matriz mais pobres sem aqueles cantores de belíssimas vozes.
Assim encerramos o ano em que deixávamos também nossa querida escola já no terceiro ano e ficamos aguardando o termino da construção do edifício do grupo escolar, para assim concluirmos o quarto ano e o curso primário.

33 comentários:

  1. Olá Diego! Boa tarde!

    Obrigado por acessar o blog. Você tem muitos parentes em Iporanga tanto por parte do Guilherme Looze, como por parte de Salvador Henriques. Guilherme Looze e sua esposa Otilia, vieram da Alemanha no início do século XIX, atraídos por uma notícia de que aqui nnno Brasil, puxava-se Jacú pelo rabo e cortava-se ouro com o machado, apesar de a realidade estar longe da estória, eles se adaptaram muito bem em Iporanga, com eles vieram os filhos alemães Theodoro o mais velho e outros. Guilherme Looze era construtor certificado pelo vaticano, por isso foi contratado para construir a torre do campanário da matriz de Santana em Iporanga, por volta de 1840, dizem que seus restos mortais foram sepultado no pé da torre, que o próprio construiu (durante a restauração da igreja em 1985, ali foi encontrada ossada que talvez pertencesse ao alemão). Meu avó Honório Corrêa conheceu o Theodoro Looze nos anos próximo de 1900, quando frequentava a escola na cidade em 1902. os netos dele ainda falavam alemão, inclusive o saudoso Tingo que eu conheci muito. A família Looze, conforme informação que tive da Alemanha, foi dizimada na primeira Grande Guerra (1914 a 1918), por isso o sobrenome lá desapareceu. O meu tataravô Salvador Henriques surgiu da grande família Oliveira Rosa do Morro de Ouro de Apiaí que se juntou por via matrimonial com a família de Thomaz Dias Baptista de Iporanga, Salvador mudou-se para Iporanga em 1830 e casou-se com Maria Luiza Corrêa (Maria Oríves, que fabricava jóias e peças artísticas com ouro). Salvador Henriques faleceu em abril de 1864 de febre amarela e está sepultado no adro da igreja matriz de Santana. Mais informações podem ser conseguidas nos livros da igreja de Iporanga. Por ora é isso que tenho. Continue seguindo o Blog.
    Abrçs.

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    1. Ola gostaria muito de saber mais sobre a familia Looze, eu também tenho esse sobrenome e segundo que me contam o Sr THEODORO LOOZE é o meu BISAVÔ, e se ele tinha uma filha chamada GUILHERMINA LOOZE!!!

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    2. sim ele tinha uma filha chamada Guilhermina que faleceu na cidade de Salto SP,não recordo a época, porem seus filhos e netos residem nesta mesma cidade

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    3. Bom dia vc poderia enviar seu e-mail?

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  2. Caro Alberto, meus parabéns, pela vocação literária. É impressionante o acervo cultural apresentado neste blog, representando a mais verdadeira realidade dos fatos. Abraços do Jubervei.

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  3. Olá Jubervei! O que me encoraja a escrever são comentários como o seu e o interesse de todos que valorizam a cultura e nossa história.
    Um grande abraço!

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  4. Alberto, meus parabéns pelo resgate da história desta cidade querida por muitos
    Morei por mais de dois anos(79/81)em Iporanga, oportunidade que fiz muitos amigos. Sinto muitas saudades.

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  5. Fantástico!
    Alberto, seu blog é sensacional, meu pai é de Iporanga tenho muitos familiares nesta cidade, e em todo o Vale do Ribeira ao menos 1 vez ao ano estou nesta encantadora cidade sempre quis aprender mais sobre ela e por acaso entrei seu blog, ele esta simplesmente fantástico na noite de Domingo reunimos a familia toda na frente no computador para lermos as informações e ver as fotos postadas por ti.
    Mais uma vez Parabéns!

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  6. Parabéns pela maravilhosa forma de contar os fatos que nos faz voltar no tempo para reviver a história!Gostei muito mesmo!Registrar a "Memória" é preservar sua identidade!
    LÚCIA SANTOS . ADRIANÓPOLIS/PR.

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  7. Estou encantada com o blog...Parabéns pela iniciativa e pela forma tão gostosa de narrar... Sou neta do Pedro Caetano e Nhá Zinda e toda essa história faz parte da minha história,estou achando fantástico. Vou esperar ansiosa por novas postagens...Parabéns...

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  8. Através de seu blog,que está incrivelmente bem detalhado, pude saber um pouco mais da história de meu bisavô, Pedro Caetano dos Santos e outros familiares. Certamente,contribiu muito para que pudesse sentir muito mais orgulho da pessoa maravilhosa, do músico e do político idônio, que ele sempre foi. Parabéns pelo belíssimo trabalho. Faço votos de sucesso e sugiro que esse blog origine também um livro. Seria fantástico.

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  9. parabens por pela forma linda de contar a historia desse lugar maravilhoso que morou ai sabe disso,sou filha do snr OLIVIO PAULUS padeiro dono da unica padaria tempo que snr JEREMIAS era prefeito por sinal um prefeito que meu pai admirava muito alguem ai me conhece?sou MARLI PAULUS estudei ai entre1966 e1970 amo esse lugar tenho lembranças lindas dai soldado CRISMANCIO pessoa super do bem era marido da minha prima NAIDE,JURACI APARICI,MARIO,MARIA,GENTIL,NEIDINHA,TODOS PRIMOS tiaAUREA e TIO BATISTA aguardo alguma informaçao abraçao a todos de IPORANGA

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  10. Gostaria de saber informações sobre a familia Militão Costa, que viveram em Primeira Ilha , um lugar, entre Sete Barras e Xiririca, (hoje Eldorado Paulista).

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  11. gostaria de saber sobre a familia motta, em especial meu pai januario da motta que sumiu na decada de 1980.

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  12. Olá meu caro. Gostaria de saber se você sabe alguma história sobre um antigo iporanguense com o nome de Quirino António da Silva. (Nhô Quirininho) Nas décadas de 20 e 30 ele criava porcos em Iporanga e os levava para ser vendido em seu açougue em Apiaí.
    Se souber e tiver alguma foto da época favor entre em contato, estou sempre visitando seu blog.
    Fico muito agradecido.

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  13. se vcs sabem histórias de julia furquim da mota ou Francisco bueno do rosario

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  14. meu pai sempre falava que ele era descendente de alemão e ele nasceu ai em iporanga gostei muito em conhecer mais sobre a origem do meu sobrenome looze

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  15. Sou o Zezo do Sem Fim. Agradeço sua postagem sobre o meu pai.

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  16. Meu Pai, Dito Sem Fim, faleceu em 08/09/2005, em Rio Grande da Serra, onde também perpetuou seu nome com grandes feitos filantrópicos.

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  17. Estou emocionada diante desse acervo histórico! Não sou de Iporanga, mas, meu pai viveu muitos anos nessa cidade. Infelizmente, não cheguei a conhece-lo, pois sou uma filha que ele teve quando ainda era solteiro. Quando soube de sua existência fui atrás da sua história e comecei em Iporanga. Me apaixonei por esse lugar!! Meus irmãos e minha madrasta moram em Apiaí, mas, ainda tenho uma tia e primos que moram aí. O nome do meu pai era Antonio Ferreira dos Santos. Se porventura conhecerem ou souberem de qualquer coisa que possa enriquecer a história que estou escrevendo sobre ele, por favor, entrem em contato comigo. genivanzo@gmail.com.
    Parabéns pelo trabalho e muitíssimo obrigada!

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    1. Aproveitando as palavras de dona Geni, só tenho a agradecer ,nasci em 59 gostaria de saber mais e também vó Clarinda da Mota ,sobre guerrilha do Lamarca na época.

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  18. boa tarde , eu tenho um tio de 104 anos que nasceu em iporanga , ele se chama Alfeu Ribeiro e sua irma que é minha avó Isaura Ribeiro Duarte com 100 anos de idade , todos vivos com saúde e lúcidos morando em Itariri sp , foram intrevistados pelo G1 ano passado que ficaram conhecidos como irmão centenarios . Eu sou neto de Isaura , escuto muito as historias que eles contam das suas origens que parte desde Apiai , Iporanga , Jacupiranga e Eudorado (Vale do Ribeira ) Sp . Meu trisavõ Sebastiao Ribeiro da mota , pai de Agostinho Ribeiro da Mota meu bisavõ paterno , que teve 11 filhos todos nascidos nessa regiao de Apiai ,Iporanga , Eldorado e Jacupiranga , no qual hoje só se encontram vivos minha avó e meu tio . Eles comentam muitas historias antigas que meu trisavõ Sebastiao Ribeiro trabalhava em garimpo de ouro ,e que mandou fazer um sino de ouro gravado seu nome atras do sino e dou para igreja de Iporanga , no momento ate o que sabiamos que devido a ser roubado a igreja de Iporanga e depois de muito tempo recuperado , foi levado para igreja matriz de registro ... Sei muitas cousas que levaria dias escrevendo , mas explicando meio resumido , meu falecido bisavõ Agostinho Ribeiro da Mota que foi sepultado no cimiterio aqui de Itariri a muitos anos , teve uma historia que animava as festas religiosas fazendo show pirotecnicos , ou seja fazia apresentaçoes de fogos de artificios , no qual ele tinha uma fabrica de fogos em Jacupiranga que caiu um raio e veio tudo a se queimar , começava ai uma situaçao dificil financeira por causa do ocorrido , tiveram que ele AGOSTINHO RIBEIRO DA MOTA conhecido como Agostinho fogueteiro e sua esposa Adelaide de Jesus Ribeiro e mais 11 filhos que me lembro do mome de alguns : ALGUSTA , IZENIA , ESTELITA , LAURIANO , JAIME , OSCAR , PAULO , GIL , MANOEL e por fim os unicos 2 que restaram que é minha avó ISAURA com 100 anos e seu irmão ALFEU RIBEIRO com 104 anos que dia 27/10/2017 agora se DEUS quiser fara 105 anos de idade ... Outra hora com mais tempo falarei mais alguma cousa , meu nome é WALTER DUARTE FILHO ...

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  19. continuando... eles tiveram que vir descendo de Jacupiranga rio abaixo de canoa e procurando lugares com meio de sobreviver aquela situação que não era nada facil . Moraram em xirira e mais alguns lugares chegando por fim aqui em itariri ...

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  20. Bom dia Alberto correa, gostaria de saber seu e-mail, por gentileza. Para me ajudar a descobrir o que aconteceu com os irmaos da minha mae. Aguardo retorno, meu contato:
    priscilarosadacruz@gmail.com

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  21. Boa noite!
    gostaria de saber sobre a foto 31 se o Jose Nunes que é mencionado seria meu avo Jose Saturnino Nunes pai de Wilme Nunes, juca, Carlito, Maria Terezinha, Dito e Nize que também era dono da casa no começo do escadão que
    que desce no encontro das águas ribeira e ribeirao que por sinal hoje é tombada? obrigado!

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  23. Olá meu nome é Bruna
    Já procurei pesquisei em vários sites mas não encontrei respostas...
    Procuro minha tia-avo mas provavelmente já está falecida
    Que era modelo,ela ea filha,por volta dos 40 e 50
    Saíram aqui do Rio Grande do Sul e foram não se sabe ao certo se para São Paulo ou Rio de Janeiro
    Pois ninguém mais teve notícias delas (foram participar de testes de modelos)
    O nome dela é Guilhermina Oliveira da Silva
    Qual quer informação entre em contato cmg através do meu e-mail
    Bruninhamnds@gmail.com

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  24. Fiquei emocionada em lembrar dos meus familiares,hoje eu sei que a maior riqueza está na uniao é não na riqueza
    Meus Avós Família Atho dos santos Lisboa fez muita história nesta terra

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    Respostas
    1. Tenho interesse em manter contato com você e sua família. Estou fazendo a genealogia da família Santos Lisboa.

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    2. Oi! Meu nome é Maria Laura. O Sr Athos dos Santos Lisboa era tio do meu avô Públio Meinardes dos Santos. Somos da mesma família.

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  25. Olá. Gostaria de ter contato com descendentes da família Santos Lisboa de Iporanga e Apiaí. Minha família migrou de Iporanga em fins do século XIX. lisboavirtual75@gmail.com

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  27. Gostaria de saber sobre família Buglio
    Meu email erika.beto@outlook.com

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