quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Casarão em Iporanga 10/02/2008

O Aniversário da Cidade



O Serginho, Presidente da Câmara, me procurou outro dia para que eu fizesse uma pequena palestra, sobre Iporanga, dirigida ao público do plenário da casa legislativa municipal, numa sessão, que ali se realizaria. Era parte das homenagens, aos 137 anos de emancipação política de Iporanga, a proposta foi aceita, apesar de se saber, que a presença de pessoas, naquele espaço, para assistir às reuniões é sempre pequena. Porém, de qualquer forma, seria uma rara oportunidade para passar aos mais jovens informações e curiosidades, que talvez eles não encontrem facilmente em um momento qualquer. Preocupa-me sempre o desinteresse dos jovens e autoridades pela origem e formação da nossa população e os acontecimentos de nosso passado, que deram certo, ou deram errado. O presente será sempre construído sobre o alicerce deixado pelo que veio antes. Imaginem vocês se alguém não se preocupasse em relatar a trajetória do povo escolhido por Deus, transmitindo cuidadosamente fatos, relatos e escrevendo através dos tempos. Algumas informações foram preservadas e outras resgatadas com muito cuidado. Caso contrário hoje não teríamos a Bíblia. A Ciência estaria parada na idade da pedra e a Economia não existiria. Seríamos um povo com amnésia, como acontece com algumas cidades que não tem passado, ou pessoas que não sabem o nome dos avós e muitas vezes não guardaram de recordação nem um retrato do próprio pai, ou ainda não sabem em que lugar do cemitério enterrou o corpo da própria mãe. Afinal estou gastando toda esta prosa para dizer, que a palestra foi cancelada na véspera, por não sei qual motivo, que também pouco me importou. Por isso ontem, 12 de janeiro de 2011, a cidade de Iporanga,( Sim! Iporanga é cidade! Conforme determinou a Lei estadual nº 1038, de 19 de dezembro de 1906) ela, a cidade, estava de portas fechadas, nem as igrejas funcionaram, todos guardavam o dia do aniversário de 137 anos de emancipação política, a data foi recebida em silêncio e como dizia o poeta Noel: “Sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar, sem violão”- Claro que tem uma explicação os shows comemorativos haviam sido antecipados para o final da semana passada. Violão nunca teve antes, mas alvorada havia. A banda e alguns madrugadores, antes dos primeiros raios de luz da aurora saiam tocando pelas ruas da cidade acompanhados com foguetes e finalizando em um café com pão, para os músicos, na padaria da dona Áurea, na praça de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na verdade ninguém explica muito bem por que a data é o dia12 de janeiro, afinal Iporanga emancipou-se em virtude da lei provincial nº 39, de 3 de abril de 1873. Dos 137 anos de emancipação teríamos talvez que descontar dois, pois o Decreto nº 14334 de 21 de maio de 1934, reduziu o Município à condição de distrito e só em 23 de dezembro de 1936 por efeito da lei nº 2780 conseguida com muito esforço do Sr. Pedro Caetano dos Santos e o deputado Diógenes Ribeiro de Lima, conseguiu novamente ser elevado o à categoria de município. Acho que cidade sempre foi e será, pois ninguém sabe dizer como ficou o título de cidade, pois não se falou em sua em sua revogação nem restauração. Comemorar aniversário está sempre associado a festa, alegria e bons momentos. Hoje existe até emenda de deputado para custear festas populares. Na minha infância em um momento crítico da vida da cidade nos anos cinqüenta, a data quase nem era lembrada, a prefeitura e todos eram muito pobres e as arregadações municipais, mal dava para pagar os "orelhas secas", que limpavam os caminhos da zona rural. O que mantinha o povo era a agropecuária de subsistência, a fartura de peixes nos rios, o palmito a caça, não havia emprego, nem prefeitura como provedor, nem aposentados, nem bolsa família.Quando muito só havia A Conferência de São Vicente de Paula com Serviço de Assistência aos Desvalidos em Geral. Para chegar na cidade só havia uma entrada, que era a mesma para a saida, com a mesma e única jardineira. As vezes algum escapava de canoa pelo rio Ribeira.

Rio Ribeira de Iguape em Iporanga

Em 2006 um visitante escreveu um texto na internet com o título de IPORANGA que eu identifiquei não como Iporanga do ano 2000, mas como a cidadezinha perdida no tempo dos anos 50. O autor anônimo escreveu assim:

IPORANGA

Terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Iporanga é uma cidade pequenina, aparentemente a última de uma estradinha que parece estar nos levando ao fim de um certo mundo, o qual, pouco a pouco, irá se revelar.

O que nos encanta quando chegamos e durante as primeiras caminhadas é a diversidade de flores que enfeitam as ladeiras(nesta época as montanhas estão cobertas pelas lindas flores amarelas da guaricica) e casinhas; o grande rio Ribeira de Iguape que atravessa embelezando a cidade;o pequeno Ribeirão Iporanga que oferece suas águas transparentes para o banho delicioso e gelado a qualquer hora do dia quente; e as verdes montanhas que se desenrolam em ondas para todos os lados, até o infinito.
Logo na primeira manhã escalamos uma das mais próximas, o Morro da Coruja, ziguezagueando uma trilha que, como uma serpentina, contorna todos os lados do cume e nos permite uma visão múltipla, como se pudéssemos contemplar todos os lados do infinito, enquanto a pequena Vila de Iporanga repousa tranqüila lá em baixo, como se mineira fosse. Tudo o que de deslumbrante contorna e abraça a cidade também dissimula um comportamento muito peculiar.

A primavera em Iporanga e o Ipê amarelo.


Um traço que é quase uma reminiscência, algo quase pedido, que muitos de nós, da cidade grande, nem chegamos a conhecer e chegamos mesmo a estranhar que ainda exista: um mundo quase sem maldade, onde o doce “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite” é acompanhado sempre de um olhar e tom de voz que carregam invariável inocência ou boa fé, o que faz com que nos desarmemos a princípio para encantarmo-nos em seguida.


A sala da Dona Flauzina ela mesmo, os netos, Dona Maria Marques, a Lia e o Japa Shibutane

Outra marca da cidade é a religiosidade visível e presente em vários momentos e paisagens do dia: a igreja sempre cheia na hora da missa; (bons tempos aqueles) palavras de fé proferidas nos rádios e TVs e ouvidas pelas janelas das casas durante a caminhada; a praça da igreja matriz que ainda é o núcleo de todas as idas e vindas dos moradores; e aquele comportamento, aquela busca de postura comedida e austera de quase todos os fiéis, mesmo os que o fazem de forma instintiva: enquanto tomávamos nosso café da manhã na casa da dona Flauzina, contemplando um conjunto de fotografias antigas na parede da sala, que dava ares de beleza singela e “tempo perdido” ao ambiente, ouvíamos na TV o padre, que em muito se relaciona com a religiosidade do povo de Iporanga.

A singeleza deste povo está presente até no futebol jogado ao cair da tarde no campo gramadinho da cidade , onde, durante as partidas, quase nenhum palavrão é proferido e o “jogo limpo” parece ser a regra mais respeitada.(Quem não estava jogando? Mike? Jovelino? Tusão? Quem mais?)

Futebol entre amigos,nos bons tempos, parte de uma festa familiar em Iporanga. Em pé: a esquerda Jamir Itaóca, Ari knor, Edson Pigudu, Zé Luiz, Ari mendes, Alberto Corrêa, Hido, um Itaoquense, Jesinho de Apiaí, Dedé, Nego Cabeça Preta, Xavierzinho e os meninos de Itaóca.

A violência aqui é esparsa, não é marcada por uma violência acentuada, movida por sentimentos que povoam, sorrateiros, a vida pacata e aparentemente tranquila de lugares como esse, onde pessoas não parecem preparadas para assimilar este lado obscuro e incompreensível do espírito humano. Mas nesse mundo de paz, já aconteceu de infelizmente, algum jovem afastar-se do bom caminho e ficar renegado à margem da comunidade.


2 comentários:

  1. Show de bola a foto dos jogadores, estou entre eles Jamir de Itaoca,rsrsrsrsr....

    ResponderExcluir
  2. Adoro ler as historias que vc coloca no blog, lembrar as coisas dos nossos antepassados e reviver nossa propria historia...
    Parabens pelo trabalho de costrução deste blog;;;
    Um abraço
    Luiz Fernando - Itapetininga

    ResponderExcluir