
Paulo Pontes, Paulo Claro, Paulo Preto...Dona Antonia Pontes.
Na madrugada desta terça feira, 18/01/2011, eu estava na posto de saúde tentando ajudar a embarcar minha filha, esposa e nosso bebe, que iriam no veículo da saúde, até Pariquera, onde a menina faria raio X, para diagnóstico de um problema médico. Embora tudo já estivesse previamente agendado, o fato do carro estar muito lotado, causou a desistência da viagem para levar a menina, e também o adiamento do raio X, que no dia seguinte, tentaríamos remarcar para outra data.
O relógio do painel eletrônico, na avenida Iporanga, ainda marcava quatro e cinquenta da madrugada, no momento que a mãe com o bebe desceram do carro da saúde e juntaram-se à menina, que ainda estava fora do veículo, para irmos embora. Foi aí, que eu ouvi o Paulinho, do Augustinho Claro, que trabalha no posto, falando para uma pessoa, que o corpo do Paulo Pontes, poderia ser visto em uma das salas, e que o falecido havia sofrido de um mau súbito, naquela mesma madrugada e mesmo sendo socorrido e trazido ao médico, por uma ambulância, já chegou naquele local sem vida.
05/1998-Paulo - Festa da recuperação da
imagem de Santana, quando foi roubada.
imagem de Santana, quando foi roubada.

Paulo Branco, foto do acervo do
Paulo Preto e D. Sebastiana-1995

Considero tudo o que foi escrito até aqui, importante, além de ser uma pequena lembrança em homenagem à memória do meu amigo e companheiro de culto religioso, que é merecedor de toda nossa estima. Também é merecedora a sua família, para quem agora dirigimos nossas condolências. Porém, outra coisa que me levou a escrever esta postagem, foi a lembrança da figura da mãe do Paulo, Dona Antonia Pontes, que era muito amiga da nossa família e adorava a minha mãe Flauzina. Uma ocasião minha mãe contou-me sobre o último dia da Dona Antonia, uma história que eu sempre quis colocar no papel; e me parece que este é o momento; e aqui vai, conforme o relato de Flauzina Corrêa:
Dona Antonia morava na mesma casa, onde atualmente residia seu filho Paulo e a esposa Dona Sebastiana, que passaram a viver naquele local, após o falecimento da mãe, algum tempo depois deste, ter conseguido a sonhada aposentadoria. Naquela época a idosa senhora, muito religiosa vivia sozinha, naquela moradia e sentia-se muito só, pois seu filho casado, o Paulo, morava e trabalha na mineração, em Adrianópolis, (para nós antigamente a cidade era conhecida como Panelas).
O Gico esteve desaparecido.

Uma certa noite ela conversou conosco, contou causos e riu como sempre, foi dormir e na manhã seguinte entrou em nossa mercearia, que era junto da casa de nossa família. Dona Antonia, era aposentada e ali fazia suas compras, para pagar quando recebia sua aposentadoria, a cada mês. Ela entrou no estabelecimento logo que ele havia sido aberto, comprou um frango congelado e disse:--Vou comprar, levar para fritar e por numa lata, para comer um pouco a cada dia.
Depois virou-se para mim e contou o sonho que teve naquela noite, antes disse que o sonho era ruim. Sonhou que havia morrido e que assistiu no sonho o próprio velório, que era em uma sala que ela não sabia onde. No próprio velório ela viu que estava presente o seu filho Gico desaparecido, aquele que ela não via a muitos anos.
Dona Antonia mandou marcar o frango no caderno da conta dizendo: --”Mecê assente”, mas antes que ela fosse embora eu ainda tentei tranquilizá-la quanto ao sonho dizendo: --"A senhora não se preocupe, pois esse negócio de sonho é bobagem. Sonho é sonho e nada acontece, tudo não passa de um simples pesadelo". Mesmo assim ela saiu e foi embora para casa muito impressionada com a história. Mais tarde, no mesmo dia em sua casa, ela começou a passar mal, os vizinhos chamaram a ambulância e a levaram para o hospital. Depois correram para me avisar, sobre o estado de saúde dela. Imediatamente corri para a casa de saúde, que era perto, para visitá-la, quando cheguei o Doutor João Baffa (não e bafo de cachaça) examinava a paciente apreensivo e dizia:--"Avisem a família para que venham visitá-la. Urgente! " Em seguida encaminharam a paciente, para Apiaí. Mal ela chegou ao hospital de Apiaí, e não resistindo a crise, faleceu.
O velório aconteceu segundo me informou Dona Sebastiana, em Adrianópolis e o filho Gico desaparecido, não apareceu para a guardação. Soube-se algum tempo depois notícia do falecimento dele. O Gico foi tropelado com sua carroça quando catava papel para reciclagem. Antes ele havia aparecido e morava em um quartinho dos fundos da casa da irmã em S. Paulo, estava desempregado a muito tempo e vivia de catar papelão na rua com sua carroça.
Apesar da chuva, fizemos o sepultamento do Paulo de Dona Antonia ontem no finalzinho da tarde, peguei em uma das alças do caixão, que estava leve, para ajudar a conduzi-lo ao interior do cemitério, quando fomos cruzar o portão, notei que naquele momento um peso muito acima do normal. Fato que eu já havia ouvido dizer, que pode ocorrer, mas que eu nunca antes observei. Quando , após as palavras de despedidas,o Juca Mané e o coveiro Jesus, colocavam as últimas pás de terra, na sepultura, eu ainda consegui dizer, sob a chuva em voz audível:--”Descanse em Paz”.
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