quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

D. Antonia Pontes, foto do Pe. Efraim, na Igreja de S. Benedito.

Paulo Pontes, Paulo Claro, Paulo Preto...Dona Antonia Pontes.

Na madrugada desta terça feira, 18/01/2011, eu estava na posto de saúde tentando ajudar a embarcar minha filha, esposa e nosso bebe, que iriam no veículo da saúde, até Pariquera, onde a menina faria raio X, para diagnóstico de um problema médico. Embora tudo já estivesse previamente agendado, o fato do carro estar muito lotado, causou a desistência da viagem para levar a menina, e também o adiamento do raio X, que no dia seguinte, tentaríamos remarcar para outra data.

O relógio do painel eletrônico, na avenida Iporanga, ainda marcava quatro e cinquenta da madrugada, no momento que a mãe com o bebe desceram do carro da saúde e juntaram-se à menina, que ainda estava fora do veículo, para irmos embora. Foi aí, que eu ouvi o Paulinho, do Augustinho Claro, que trabalha no posto, falando para uma pessoa, que o corpo do Paulo Pontes, poderia ser visto em uma das salas, e que o falecido havia sofrido de um mau súbito, naquela mesma madrugada e mesmo sendo socorrido e trazido ao médico, por uma ambulância, já chegou naquele local sem vida.
05/1998-Paulo - Festa da recuperação da
imagem de Santana, quando foi roubada.


É evidente que em uma comunidade como a nossa, onde a diversidade social, tem uma convivência muito harmoniosa e amigável, devido a laços de carinho e amor consolidados pelos vínculos de amizades das famílias. Essa afinidade remonta a um entrosamento, onde todos os sentimentos são compartilhados e foram adquiridos através de mais de século. Por isso qualquer coisa negativa que aconteça a qualquer um de nós, causa nos espanto, preocupação e tristeza. Porém quando a situação é positiva, e existe motivos para alegrias, estas são também comemoradas, contagiando a todos. Infelizmente, com a má notícia, todos ficamos muito impressionados. O nome Paulo Pontes, pronunciado naquele momento, mesmo agora, após ter deixado este mundo, jamais será esquecido. Se bem que o nome não é Paulo Pontes, mas Paulo Claro. Entretanto, para nós, para sua família e amigos, será sempre o eterno Paulo Preto, que agora ocupa uma das grandes moradas, das muitas que foram construídas e nos aguardam, dentro da casa do Pai, que está nos Céus.

Paulo Branco, foto do acervo do
Paulo Preto e D. Sebastiana-1995


Em Iporanga a forma peculiar, e a intimidade de colocar, ou modificar os nomes é impressionante. O Paulo Preto era assim chamado carinhosamente, tal como acontece com o Paulo Branco. Deste último, não temos notícias; saiu de Iporanga muito doente com problemas pulmonares. Ele foi levado para São Paulo, pelos filhos que moram lá. Voltando á questão dos nomes: o adjetivo acrescentado, é o que menos importa, pois existe na cidade o Branco do Onésio Maciel, que é mais moreno do que branco, e o Preto do José Rola, que é mais branco do que moreno. Além disso, por exemplo, tem também nomes como: Dito Preto (Dito Delfino), Dito Branco (Dito Tanásio), Dito Paca, Dito Padeiro, Dito Guache, Dito Coisaruim, Dito Romão, Dito Padre, Dito Feio, Dito Pedra, Dito Argola, Dito Pança, Dito Valente, Dito Senfim, Dito Citroen, Dito Sargento, Dito Vardu, Dito Ligia, Dito Gelo, Dito Rocha, Dito Mendes, Dito Mário, Dito Ribeiro, Dito Pão Doce, Dito Tito, Dito Cabrito, Dito Chaves, Dito Barro, etc. e outros do gênero em Iporanga, que encheriam a página.

Considero tudo o que foi escrito até aqui, importante, além de ser uma pequena lembrança em homenagem à memória do meu amigo e companheiro de culto religioso, que é merecedor de toda nossa estima. Também é merecedora a sua família, para quem agora dirigimos nossas condolências. Porém, outra coisa que me levou a escrever esta postagem, foi a lembrança da figura da mãe do Paulo, Dona Antonia Pontes, que era muito amiga da nossa família e adorava a minha mãe Flauzina. Uma ocasião minha mãe contou-me sobre o último dia da Dona Antonia, uma história que eu sempre quis colocar no papel; e me parece que este é o momento; e aqui vai, conforme o relato de Flauzina Corrêa:

Dona Antonia morava na mesma casa, onde atualmente residia seu filho Paulo e a esposa Dona Sebastiana, que passaram a viver naquele local, após o falecimento da mãe, algum tempo depois deste, ter conseguido a sonhada aposentadoria. Naquela época a idosa senhora, muito religiosa vivia sozinha, naquela moradia e sentia-se muito só, pois seu filho casado, o Paulo, morava e trabalha na mineração, em Adrianópolis, (para nós antigamente a cidade era conhecida como Panelas).

O Gico esteve desaparecido.

O outro filho, conforme ela dizia, o Gico havia saído de Iporanga, não dava notícias a mais de 20 anos. Dona Antonia era uma pessoa muito agradável, ria muito, sabia fazer piadas engraçadas, contava muitos histórias interessantes, era ótima companhia. Ela dizia que tinha medo de dormir sozinha na própria casa, por isso queria estar perto de nós, por essa razão estava sempre em nossa casa e gostava de dormir sempre no sofá da sala.
Uma certa noite ela conversou conosco, contou causos e riu como sempre, foi dormir e na manhã seguinte entrou em nossa mercearia, que era junto da casa de nossa família. Dona Antonia, era aposentada e ali fazia suas compras, para pagar quando recebia sua aposentadoria, a cada mês. Ela entrou no estabelecimento logo que ele havia sido aberto, comprou um frango congelado e disse:--Vou comprar, levar para fritar e por numa lata, para comer um pouco a cada dia.

Depois virou-se para mim e contou o sonho que teve naquela noite, antes disse que o sonho era ruim. Sonhou que havia morrido e que assistiu no sonho o próprio velório, que era em uma sala que ela não sabia onde. No próprio velório ela viu que estava presente o seu filho Gico desaparecido, aquele que ela não via a muitos anos.

Dona Antonia mandou marcar o frango no caderno da conta dizendo: --”Mecê assente”, mas antes que ela fosse embora eu ainda tentei tranquilizá-la quanto ao sonho dizendo: --"A senhora não se preocupe, pois esse negócio de sonho é bobagem. Sonho é sonho e nada acontece, tudo não passa de um simples pesadelo". Mesmo assim ela saiu e foi embora para casa muito impressionada com a história. Mais tarde, no mesmo dia em sua casa, ela começou a passar mal, os vizinhos chamaram a ambulância e a levaram para o hospital. Depois correram para me avisar, sobre o estado de saúde dela. Imediatamente corri para a casa de saúde, que era perto, para visitá-la, quando cheguei o Doutor João Baffa (não e bafo de cachaça) examinava a paciente apreensivo e dizia:--"Avisem a família para que venham visitá-la. Urgente! " Em seguida encaminharam a paciente, para Apiaí. Mal ela chegou ao hospital de Apiaí, e não resistindo a crise, faleceu.

O velório aconteceu segundo me informou Dona Sebastiana, em Adrianópolis e o filho Gico desaparecido, não apareceu para a guardação. Soube-se algum tempo depois notícia do falecimento dele. O Gico foi tropelado com sua carroça quando catava papel para reciclagem. Antes ele havia aparecido e morava em um quartinho dos fundos da casa da irmã em S. Paulo, estava desempregado a muito tempo e vivia de catar papelão na rua com sua carroça.

Apesar da chuva, fizemos o sepultamento do Paulo de Dona Antonia ontem no finalzinho da tarde, peguei em uma das alças do caixão, que estava leve, para ajudar a conduzi-lo ao interior do cemitério, quando fomos cruzar o portão, notei que naquele momento um peso muito acima do normal. Fato que eu já havia ouvido dizer, que pode ocorrer, mas que eu nunca antes observei. Quando , após as palavras de despedidas,
o Juca Mané e o coveiro Jesus, colocavam as últimas pás de terra, na sepultura, eu ainda consegui dizer, sob a chuva em voz audível:--”Descanse em Paz”.

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